As famílias Fontana e Furlan, fundadoras da Sadia, são as maiores acionistas da BRF (Brasil Foods), empresa criada após a fusão com a Perdigão. A participação das famílias supera a da Previ (o fundo de previdência dos funcionários do Banco do Brasil), que é de 12,3% na BRF, em cerca de meio ponto percentual.
A previsão de que a Previ seria a maior acionista da BRF foi divulgada durante o lançamento da empresa, anteontem. Isso porque os investidores das famílias que fazem parte do acordo de acionistas têm 76% do capital votante da Sadia. Se todos assinassem o acordo de associação, as famílias teriam 12% do capital da BRF. Segundo apurações, com o fechamento do negócio, diversos familiares que não fazem parte do acordo de acionistas da Sadia, mas que são donos de ações com direito a voto, apresentaram-se para assinar o acordo de associação. Assim, em vez de 76% de adesão, compareceram 91,6% dos donos do capital votante. Eram familiares afastados da Sadia, que tem dezenas de herdeiros. Dessa maneira, um dos impedimentos à realização do negócio -a não aceitação por parte das famílias Fontana e Furlan- foi descartado.
Luiz Fernando Furlan, copresidente do conselho de administração da BRF, já havia costurado o acordo com representantes dos grupos familiares, mas a aceitação surpreendeu. O fato de a Sadia ser a acionista majoritária da BRF, no entanto, deverá durar pouco mais de dois meses. Isso porque a empresa fará uma emissão de ações, no valor de R$ 4 bilhões em julho.Os atuais acionistas terão preferência na subscrição dessas ações, mas dificilmente os familiares acompanharão o investimento. Boa parte deles, diz uma pessoa próxima aos familiares, não tem condições de liquidez e terá sua participação diluída no negócio.
Por outro lado, apenas a Previ tem patrimônio de R$ 115 bilhões. Além disso, os fundos de pensão, donos de 43,3% do capital da Perdigão e de 3,9% do da Sadia em dezembro, já manifestaram interesse em continuar com posição relevante na nova empresa. Segundo Nildemar Secches, copresidente do conselho da BRF, afirmou durante o lançamento da empresa, os grandes acionistas já haviam sido consultados com relação à emissão de R$ 4 bilhões e eles garantiam a subscrição de R$ 1,8 bilhão.
O dinheiro captado será usado sobretudo para investimentos e para reduzir as dívidas contraídas pela Sadia com operações financeiras ligadas ao dólar -os derivativos tóxicos. Furlan afirmou que os controladores da Sadia levaram cerca de R$ 1,45 bilhão em ações com o fechamento da operação. Procurada, a Sadia informou que não comentaria o assunto. Após a queda forte com o anúncio da fusão, as ações da Perdigão subiram 8,7% ontem. As sem direito a voto da Sadia tiveram alta de 8,56%.