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Insumos

A encruzilhada da soja sustentável

A Assembléia Geral sobre Soja Sustentável deve aprovar medida polêmica sobre o insumo.

Cinco anos após a sua criação, a Mesa Redonda da Soja Sustentável (RTRS, na sigla em inglês) chega à sua primeira encruzilhada: aprovar uma medida polêmica e perder alguns associados ou adiar a decisão e arriscar perder outra parte de seus associados – e, com isso, a sua credibilidade.

A controvérsia resume-se a um único item de 87 propostos no documento “Princípios e Critérios” para uma produção sustentável, que será apresentado hoje em Campinas (SP), durante a 3ª Assembleia Geral da organização, composta por 108 membros de 17 países produtores e consumidores de soja. O ponto de discórdia: a partir de maio deste ano sojicultores associados não poderão mais desmatar as suas propriedades em nome do plantio do grão. Ou até que uma terceira parte independente apresente um estudo técnico que endosse a derrubada da mata virgem.

Até o fim da tarde de ontem, o comitê-executivo da Mesa Redonda, formado por 15 representantes da indústria, produtores e organizações não-governamentais, ajeitava vírgulas e palavras para tornar a medida mais palatável. A queda-de-braço hoje será para se chegar ao consenso.

Para os sojicultores brasileiros, a nova exigência ambiental da Mesa Redonda os coloca em desvantagem frente a produtores de países onde as leis ambientais já são mais frouxas que a do Brasil. Além disso, dizem, preservar só se justifica se acompanhada de recompensa econômica pelos serviços ambientais que a floresta presta a toda a comunidade, como o fornecimento de água.

“Sem isso como é que eu vou convencer os nossos cinco mil associados que eles não podem desmatar?”, questiona Ricardo Arioli, vice-presidente da Associação de Produtores de Soja do Mato Grosso (Aprosoja/MT). “As ONGs fazem exigências mas as discussões de compensação ao produtor sempre ficam para a próxima reunião. Há um desbalanço na discussão e estamos bem desanimados com o processo”, disse ele, ameaçando abrir a primeira dissidência no grupo.

O documento que será discutido hoje aborda de forma genérica a questão. Diz que a reivindicação de pagamentos é mundial, mas ainda não há “ideias definidas” de como operacionalizá-la.

Quem também não está feliz é a Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove), envolvida em outra iniciativa paralela, a Moratória da Soja – o comprometimento da indústria de não comprar soja proveniente de áreas desmatadas da Amazônia. Criada em 2006 e restrita ao Brasil, a Moratória sofreu reveses que podem sinalizar para onde pode ir a Mesa internacional.

O primeiro foi a resistência de parte dos sojicultores em mapear por satélite suas propriedades rurais, a única ferramenta capaz de apontar com precisão limites territoriais, onde há floresta e onde ela sumiu. O segundo foi a realidade do mercado: com os preços internacionais da soja em alta, a própria Abiove admitiu que poderia rever unilateralmente o acordo, desmatando o permitido por lei para semear mais grãos.

“Esses impasses podem ocorrer com a gente também”, admitiu Christopher Wells, superintendente para riscos socioambientais do Banco Santander e presidente da Mesa Redonda.

Outra frente de batalha que se anuncia está relacionada à produção de soja convencional e geneticamente modificada. Para a WWF e a rede varejista de alimentos suíça Coop, ambas associadas à Mesa Redonda, está mais que na hora de puxar o assunto para o debate interno: eles defendem uma norma diferenciada que discrimine o que é soja sustentável (que segue aos critérios do grupo) convencional e o que é soja sustentável transgênica.

E não é só. Um dos grandes desafios para a Mesa Redonda inclui a adesão de EUA e China – os maiores produtores e consumidores de soja do mundo, respectivamente. Sem eles, o debate fica naturalmente esvaziado.

“Os EUA exportam soja basicamente para a China, que não se importa com questões ambientais”, disse Wells. “Começaram como observadores, mas não se interessaram em ser membros”.