O rebanho bovino brasileiro emite anualmente quase metade de todos os gases causadores do efeito estufa no Brasil. E a abertura de novas áreas de pastagens responde por 75% da área devastada na Amazônia e por 56,5% no Cerrado do país, estima um estudo inédito coordenado pelos pesquisadores Mercedes Bustamante (UnB), Carlos Nobre (Inpe) e Roberto Smeraldi (Amigos da Terra).
O levantamento, a ser divulgado amanhã (12/12) na conferência sobre mudanças climáticas em Copenhague, aponta para o “potencial” de redução de emissões pela pecuária nacional. Essa concentração das emissões do País num único segmento seria, segundo os pesquisadores, “a mais importante” oportunidade de mitigação no Brasil.
A pesquisa avalia as três principais fontes de emissão do setor: desmatamento para formação de pastagem e queimadas da vegetação derrubada, além de queimadas de pastagem e fermentação entérica do gado (o chamado “arroto” do rebanho). O estudo não considera, porém, emissões de solos de pastagens degradadas, da produção da ração, de grãos, do transporte e dos frigoríficos. Os cálculos seriam assim “conservadores”, pois não foi computado ainda o desmatamento fora da Amazônia e do Cerrado.
O estudo, assinado por dez cientistas, diz que as emissões da pecuária bovina caíram para 813 milhões de toneladas de dióxido de carbono (CO2) equivalente no ano passado, de 1,09 bilhão de toneladas em 2003. A emissão total associada à pecuária na Amazônia passou de 775 milhões de toneladas de CO2 a 499 milhões. No Cerrado, o volume foi de 231 milhões de toneladas a 229 milhões. Nas demais regiões do país, as emissões passaram de 87 milhões a 84 milhões.
O trabalho científico avalia que a alteração no cenário das emissões deve incluir o fim da impunidade nas grilagens de terras da União na Amazônia e a aplicação do decreto de crimes e infrações ambientais. “Há uma relação clara entre essa impunidade, a especulação fundiária desenfreada e a degradação das florestas, especialmente na Amazônia”, afirma. A implantação de grandes frigoríficos seria o “principal motor” da expansão descontrolada e sem precedentes da atividade pecuária.
“A sustentabilidade econômica da indústria da carne requer drástica queda em carbono-intensividade”, diz Roberto Smeraldi, da ONG Amigos da Terra.