Houve enorme decepção e desilusão com Obama e Hu Jintao, como resultado da visita feita pelo presidente americano à China. Discordaram no acessório: os EUA não reconhecem a China como “economia de mercado”; a China não toma conhecimento da queixa americana contra sua taxa de câmbio. Concordaram no essencial: a enorme dificuldade de controlarem a emissão de gases que estão produzindo um aquecimento da Terra. Contra os lobbies do setor industrial e agrícola no Congresso americano, e contra a firme crença do Partido Comunista Chinês, que qualquer redução do crescimento abaixo de 9% ao ano produzirá uma desintegração social na China, nem Obama, nem Hu Jintao podem fazer muita coisa, a não ser ter um comportamento cínico.
As evidências empíricas são sempre sujeitas a reparos, mas não há dúvida que emissão de CO2 (dióxido de carbono) e outros gases (metano, óxido nitroso e clorofluorcarbono) são irmãos siameses da produção do PIB. O PIB e o CO2 (e os outros) fazem parte do que se chama “produção conjunta”: um não pode ser produzido sem que o outro o seja, automaticamente.
Logo, reduzir a sua emissão significa: 1) ou cortar o crescimento do PIB (como aconteceu em 2009, por conta da crise bancária); 2) ou reduzir a relação CO2/PIB, modificando a estrutura produtiva com o uso de combustíveis renováveis; 3) desenvolver novas tecnologias economizadoras de energia em setores vitais da economia (cimento, aço, transporte etc.); ou 4) uma combinação dos três. Tudo isso implica custos sociais e econômicos enormes, impondo riscos consideráveis às lideranças que se dispõem a fazê-lo. Isso explica por que a solução é deixada sempre para amanhã…
O problema não é novo. Já em 1824, o grande matemático e físico francês Jean Baptiste Fourier sugeriu as consequências do crescimento da emissão de CO2 sobre o clima. Nos anos 60 do século passado, muitos economistas (notadamente Kenneth Boulding) chamaram a atenção para o uso acelerado dos recursos naturais, a emissão dos gases com efeito estufa e as possíveis consequências sobre toda a atividade humana na face da Terra. Os números são sempre sujeitos a erros, mas uma estimativa da emissão mundial de gases que produzem o efeito estufa (medida em CO2-equivalente) foi da ordem de 44 gigatoneladas em 2008 (o ano antes da crise), assim distribuídas.
O avanço da poluição chinesa compara-se com seu enorme crescimento. O problema é que se trata de uma economia altamente ineficiente no uso da energia, como se vê na tabela abaixo, onde se compara os EUA com a China:
O último item mostra a grande diferença na eficiência energética entre os dois países, que é confirmada pelos números abaixo e explica por que a China propôs reduzir 45% a relação CO2/PIB, com a condição de não sacrificar seu crescimento:
No plano quinquenal chinês (2006-2010), propunha-se, com relação ao problema do clima, uma redução de 10% de todos os poluentes e uma referência ao controle dos gases que produzem o efeito estufa, que não parecem ter tido resultados práticos. A estratégia da China na discussão é apelar para a “injustiça” de se exigir um esforço maior dos emergentes (quando os grandes poluidores foram os hoje desenvolvidos) e colocar três problemas: 1) como e quanto os países desenvolvidos estão dispostos a financiar as modificações necessárias da estrutura produtiva dos emergentes?; 2) deseja ter livre acesso às tecnologias, o que bate de frente com a propriedade intelectual sagrada para os EUA; e 3) quais as garantias efetivas dos parceiros que cumprirão suas promessas?
Em junho de 2009, a Câmara dos EUA aprovou a lei “American Clean Energy and Security”, que sugere uma redução das emissões em 17%. Ela foi aprovada com tantas acomodações que, já em setembro, os congressistas John Kerry e Barbara Boxer apresentaram novo projeto para corrigi-la. A boa notícia é que, finalmente, o Congresso está agindo, porque aumentaram os riscos de uma catástrofe, se as emissões de CO2-eq não forem controladas.
Segundo os modelos da Agência Internacional de Energia, a manutenção do “status quo” poderá elevar a temperatura média da Terra em até 6 graus Celsius por volta de 2050, com severas consequências sobre a atividade humana. Num cenário possível (o chamado Plano 450), uma ação enérgica e coordenada de todos os países poderá limitar as emissões de CO2-eq a 450 partículas por milhão. Com isso teríamos, aparentemente, com uma probabilidade de 50%, a chance de controlar o aquecimento até 2 graus, minorando os efeitos sobre o clima.