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Meio Ambiente

Grandes negócios na rota de Copenhague

<p>Oportunidades de lucro reforçam causa ambiental. Reduzir dependência do petróleo e energias fósseis cria novo império.</p>

Negócios bilionários e boas intenções vão se encontrar em Copenhague na próxima semana. Grandes oportunidades de lucro reforçam a causa ambiental e elas dependem do que for decidido na Conferência do Clima. Reduzir ao máximo a dependência de petróleo e as demais fontes de energia fóssil é agora um imperativo econômico. O petróleo está se tornando um bem escasso, caro demais e 70% de suas reservas localizam-se nas regiões mais instáveis do mundo. Mesmo com a maior recessão em quase cem anos, o preço do barril praticamente não caiu abaixo dos US$ 35, quase o quádruplo dos US$ 9 do valor anterior, no fim dos anos 90. Livrar-se da dependência energética externa tornou-se um mantra da administração do presidente Barack Obama. “A única questão é: quais países inventarão, fabricarão e exportarão as tecnologias limpas e quais países se tornarão dependentes de produtos de fora?”, resume Steven Chu, secretário da Energia dos EUA.

Deter o aquecimento global tornou-se uma nova fronteira a partir da qual é possível auferir grandes lucros e, claro, poder global. Ainda que sua fatia seja hoje diminuta, as energias renováveis crescem exponencialmente. Em 2007 e 2008 elas atraíram investimentos globais acima dos US$ 100 bilhões anuais. Mas elas são apenas uma parte da história. Se forem incluídos os produtos “verdes”, o mercado potencial chega a fantásticos US$ 4,7 trilhões em 2020, segundo projeção da consultoria Roland Berger. Há uma corrida pela vantagem tecnológica, com fantásticas recompensas para quem estiver na dianteira. “A revolução verde já começou e em 2020 a tecnologia verde será maior que a indústria automobilística e de engenharia na Alemanha”, prevê Peter Löscher, presidente da Siemens, a líder europeia em engenharia (“Financial Times”, 24 de novembro). Löscher coloca dinheiro para sustentar suas palavras. O portfólio “verde” da Siemens atingiu US$ 34 bilhões no ano fiscal terminado em 30 de setembro. A General Electric, com sua “ecoimagination”, amealhou US$ 17 bilhões e projeta US$ 25 bilhões em 2010. O alvo de outra gigante, a Philips, é obter 30% das receitas com a venda de produtos ambientalmente amigáveis.

Os recursos destinados a projetos de tecnologia limpa são relevantes e crescentes. Até 2013, China, Japão e Coreia do Sul despejarão US$ 509 bilhões neles e os EUA, mais US$ 172 bilhões nos EUA no período (“FT”, 19 de novembro). Para cortar as emissões de CO2 pela metade até 2050 em relação ao nível de 2005, serão necessários investimentos de US$ 45 trilhões, estima a Agência Internacional de Energia.

Em 2008, o aumento da capacidade instalada de energias não fósseis foi superior ao das fontes convencionais. A Europa e os EUA estão na dianteira nas energias renováveis, com a China se aproximando deles. A China é o país com maior capacidade instalada dessas energias, com 76 gigawatts (mas nem toda ela integrada a uma rede de transmissão), seguida pelos EUA (40 GW), Alemanha (34 GW), Espanha (22 GW), Índia (13 GW) e Japão (8 GW), mostra um detalhado estudo da divisão de mudança climática do braço de gestão de fortunas do Deutsche Bank. As posições oscilam de acordo com a fonte da energia. Os EUA investiram US$ 24 bilhões (20% do investimento global) e ultrapassaram a Alemanha em energia eólica. A China bateu o Japão na liderança da produção de células fotovoltaicas para captação da energia solar.

Do investimento total, a energia eólica recebeu a maior fatia, US$ 52 bilhões em 2008, ante US$ 34 bilhões para a solar, US$ 17 bilhões para biocombustíveis e US$ 8 bilhões para a biomassa. A energia eólica é a campeã em capacidade instalada, com 43% do total, seguida pelas pequenas hidrelétricas (30%), biomassa (18%) e solar (5%). Apesar de 80 países terem instalações comerciais para usar a energia eólica, quase toda ela concentra-se na Europa. Ninguém bateu a China até agora no aproveitamento de pequenas e grandes centrais hidrelétricas. E a Espanha tornou-se a líder mundial em energia solar, com 2,8 GW e sedia a maior unidade do mundo em Olmedilla de Alarcon.

Para bancar as energias renováveis, que são capital intensivas, havia “project finance” de US$ 47,8 bilhões em 2008. Cerca de 28% desses projetos foram feitos na Europa e 15% nas Américas. Dos projetos que estão sendo montados ainda, quase metade vai para os EUA, um quarto para a Ásia e 15% para a Europa. Os bancos tiveram receitas de US$ 500 milhões com a comercialização de créditos de carbono e o futuro é promissor. Este mercado pode mover US$ 2 trilhões em 2020, prevê a consultoria McKinsey.

Há mais bilhões nessas contas. As legislações nacionais de estímulo a medidas que reduzam emissões, feitas pelo Deutsche Asset Management, chegam a US$ 212 bilhões, excluindo a China. Um quarto desse total destina-se à eficiência energética. Transporte de massa e carros “limpos” ocupam boa parte dos recursos restantes.

A economia de baixo carbono vai modificar a paisagem humana e os carros elétricos são hoje uma aposta transcontinental, com a China igualmente no páreo. A Peugeot , uma das pioneiras, quer uma nova linha deles rodando na França no ano que vem, antes que sua rival Renault chegue com seus quatro modelos a partir de 2011. O governo americano dará US$ 7,5 mil, o inglês, US$ 8,2 mil e o chinês US$ 8,8 mil ao comprador de um veículo elétrico. Ainda há grandes desafios tecnológicos pela frente. Baterias de lítio estão sendo testadas, mas tudo nos carros será transformado para torná-los mais leves e econômicos, da aerodinâmica a novos materiais.

Os gastos com pesquisa e desenvolvimento ainda engatinham e tecnologias revolucionárias não aparecerão tão cedo. Mas é a dianteira tecnológica que definirá os vencedores na economia verde. Nesse ponto, o futuro continua desagradavelmente parecido com o passado e os países ricos dominam. A organização britânica Chatam House vasculhou 57 mil patentes de tecnologia de energias limpas e constatou que, apesar do progresso de Brasil, Índia e China, nenhuma de suas companhias ou organizações estavam nas dez primeiras colocações em qualquer setor analisado. O Brasil detinha, em 2008, 1,2% do total de patentes ambientais, segundo estudo da Bruegel, “think tank” belga.