Tradicionalmente financiado pelo Banco do Brasil e instituições de fomento governamental, o agronegócio do País está atraindo fundos de investimentos estruturados especialmente para jorrar recursos no campo. Levantamento feito pelo Valor identificou 45 fundos, entre Fundos de Investimentos em Participações (FIPs) e Fundos de Investimento de Direito Creditório (FIDCs), registrados na CVM (Comissão de Valores Mobiliários), com potencial de captação de aproximadamente R$ 13 bilhões, voltados para a agricultura.
“Hoje o agronegócio não é financiado apenas pelo Banco do Brasil e BNDES. Há fundos específicos para este segmento, de olho no potencial de expansão desse setor”, afirma Marina Procknor, advogada do escritório Mattos Filho.
Esses 45 fundos, com registros entre 2007 até este ano, têm como foco o campo, seja em agroindústria do açúcar e do álcool, que teve seu boom de investimento a partir de 2005, como em agropecuária e grãos. Do total dos registros da CVM, 26 são Fundos de Investimento de Direito Creditório (FIDCs) e outros 19 são FIP (Fundo de Investimentos em Participações).
Passada a turbulência financeira, que limitou as linhas de crédito no mercado em geral, os agronegócios voltaram a atrair capital basicamente por conta do seu alto potencial de rentabilidade, afirmou ao Valor Marcos Françóia, diretor-sócio da consultoria MBF Agribusiness.
Françóia administra cerca de R$ 850 milhões em fundos estruturados para o campo. Segundo ele, o mercado começou a se voltar para o agronegócio à medida que muitas companhias abriram o capital. “A entrada das agroindústrias na bolsa atraiu recursos, dá mais credibilidade”, disse.
A MBF também está assessorando um novo FIP, que está prestes a concluir sua estruturação na CVM – a Ecoagro, para investir em agroenergia.
“O setor estava muito acostumado a ser financiado pelo Banco do Brasil e por tradings”, afirmou Amaury Fonseca Júnior, sócio da gestora de recursos Vision, que tem dois fundos estruturados na CVM para esse fim. “Temos sentido esta reversão de contração de crédito e o apetite voltando com mais força a partir de 2010”, disse Fonseca.
Por conta da crise financeira global, as tradings tiveram sua atuação limitada para financiar os agricultores, afirmam analistas ouvidos pelo Valor. Mas ao contrário dos últimos anos, quando essas companhias, sobretudo as multinacionais, e o Banco do Brasil eram praticamente os principais financiadores da safra agrícola do país.
“As captações não só chegam por meio dos títulos dos agronegócios. Agora os fundos querem ter participação direta na gestão da empresa, na qual eles acreditam que podem ter uma boa valorização”, afirmou uma fonte do setor familiarizada com esse tipo de operação.
De acordo com a mesma fonte, muitos fundos de private equity se assustaram com o péssimo desempenho do setor sucroalcooleiro entre 2007 e 2008 e fugiram desse tipo de investimento. Agora, com a recuperação do setor, muitos estão se estruturando para voltar para o segmento de agroenergia. No entanto, escolhem parceiros fortes para financiar recursos.