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Sanidade

O mito da carne de frango com hormônios

<p>Programa de monitoramento comprova que aves consumidas no Brasil e exportadas para mais de cem países não são criadas com substâncias que estimulam crescimento.</p>

O uso de hormônio em frangos ainda é crença de grande parte dos consumidores. No sistema produtivo, essas aves vivem cerca de 45 dias, entre sair do ovo e atingir o peso ideal para o abate, e o pouco tempo dessa trajetória reforça a ideia de aplicação de substâncias anabolizantes ou com ação hormonal na avicultura. Especialistas, no entanto, derrubam o mito. “Desde o início da avicultura de corte, a eficiência na produção de frango é questionada, inclusive, por médicos e nutricionistas, mas o rápido crescimento de frangos não é milagre”, afirma o chefe de Pesquisa e Desenvolvimento da Embrapa Suínos e Aves, Gerson Scheuermann.

Essa história surgiu por volta das décadas de 30 e 40, quando foram construídas as atuais estruturas de aviários, com mais de 15 mil aves que crescem cada vez mais e em menos tempo. E foi justamente o avanço técnico do segmento que contribuiu para que, em anos de pesquisa, se chegasse ao balanceamento de nutrientes e energia nas dietas e em um ambiente adequado para a criação das aves, com controles de temperatura, umidade do ar e ventilação das instalações. O monitoramento de doenças e o manejo apropriado também merecem destaque no cenário atual da avicultura.

Outro fator relevante para acelerar o crescimento e engorda dos frangos foi o melhoramento genético a partir da seleção de aves por ganho de peso e desempenho.

Quem também desmistifica a aplicação de hormônios exógenos em frangos é o veterinário Leandro Feijó, da Secretaria de Defesa Agropecuária, do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (SDA/Mapa). “O tempo de vida do animal até o abate inviabiliza qualquer tentativa de utilização de hormônios nesta espécie, assim como o tempo suficiente para a sua atuação no organismo”, defende.

Feijó coordena o Plano Nacional de Controle de Resíduos e Contaminantes (PNCRC), que monitora, continuamente, a presença de medicamentos veterinários de uso proibido no País em carnes, incluindo hormônios. Ele explica que, nos últimos quatro anos, foram realizadas mais de 2,8 mil análises em frangos e atesta: “a partir dos resultados obtidos, a conclusão é de que não há indícios da utilização dessas substâncias nas carnes de aves consumidas pela população brasileira e exportada a mais de cem países”.

Como funciona – Por meio de um plano estatístico definido, são coletadas amostras não só de aves, mas também de espécies bovina, suína e equina, além de leite, mel, ovos e pescado, em estabelecimentos registrados no Serviço de Inspeção Federal (SIF). O PNCRC é uma ferramenta que garante a segurança do alimento tanto à população quanto aos consumidores dos países que fazem parte das relações comerciais do agronegócio brasileiro. Todos os frigoríficos registrados no SIF são inseridos para participar dos sorteios semanais para a coleta de amostras, inclusive aqueles habilitados para emitir Certificado Sanitário Internacional. Um sistema informatizado, o SISRES, gerencia as informações do plano e realiza o sorteio aleatório dos estabelecimentos onde as amostras serão coletadas pelos fiscais do Ministério da Agricultura. São, em média, 52 sorteios semanais, com coletas realizadas em todo o País, entre 1º de janeiro e 31 de dezembro de cada ano.

Esta metodologia torna possível avaliar a utilização de medicamentos veterinários e a exposição dos setores produtivos monitorados diante de contaminantes ambientais, como metais pesados e pesticidas utilizados das pastagens. “O Plano pode ser considerado um raio-x do processo”, afirma Feijó. Uma vez identificada violação de Limite Máximo de Resíduo (LMR) ou a utilização de uma droga de uso proibido no País, o Ministério da Agricultura adota ações regulatórias imediatas, a fim de evitar que o produto contaminado vá para o mercado. Além disso, são colocadas em prática ações na propriedade, com a finalidade de identificar as causas dessa infração.

O plano é estruturado para pesquisar substâncias anabolizantes. Para isso, os Laboratórios Nacionais Agropecuários (Lanagros) do Rio Grande do Sul, Minas Gerais, Pernambuco e São Paulo, assim como os laboratórios credenciados pelo Mapa, estão equipados com alta tecnologia para detectar resíduos dessas e outras substâncias, contando com modernos recursos de análise, como a espectrofotometria de massa, na qual é possível detectar quantidades muito baixas desses resíduos.

Boas Práticas – A importância deste programa para a avicultura de corte e de postura faz parte da adoção das chamadas Boas Práticas para o Uso do Medicamento Veterinário, que visam o aperfeiçoamento do manejo sanitário, da diminuição de custos e da disponibilização de produtos com qualidade, em que o consumidor é o grande regulador.

As bases legais do programa levam em consideração as recomendações do Codex Alimentarius, fórum internacional de normatização de padrões de segurança do alimento.

O controle de resíduos e contaminantes em produtos de origem animal é reconhecido pela União Europeia e por países como: Estados Unidos, Canadá, China e Rússia, que realizam auditorias anuais nas ações do plano.

Resultados de 2008 – Os resultados do monitoramento no Programa de Controle de Resíduos e Contaminantes em carnes de aves, bovinos, suínos e eqüinos, leite, ovos, mel e pescado, em 2008, segundo Feijó, podem ser considerados satisfatórios. “No entanto, demonstram a necessidade de vigilância contínua para mitigar o risco de violações que foram detectadas”, alerta.

Das 19.211 análises concluídas, 99,85% não apresentaram resíduos de medicamentos veterinários ou contaminantes acima dos limites estabelecidos. Destaque para mel, camarão de cultivo e pescado de cultivo, que não apresentaram nenhuma irregularidade no ano passado.

O Programa para aves também alcançou percentual positivo no último ano. Das 8.209 análises concluídas, apenas cinco, ou 0,06%, apresentaram resíduos.