Os próximos dias serão decisivos para a reforma do Fundo Monetário Internacional (FMI). Estão em pleno andamento as negociações preliminares, preparatórias para a cúpula dos chefes de Estado e governo do G20, que acontecerá em Pittsburgh, nos EUA, na quinta e sexta-feiras da semana que vem.
Para o Brasil e outros países em desenvolvimento, a redistribuição do poder decisório no FMI é um dos principais pontos (talvez o principal) da agenda de Pittsburgh. Não vai ser fácil, mas temos uma chance real de fazer avanços importantes nesse campo.
O fato de a cúpula ocorrer nos EUA é uma vantagem apreciável. Os EUA têm mais disposição do que outros países desenvolvidos para a reforma do FMI. Os EUA ainda são (e continuarão sendo por algum tempo) a principal economia e o maior acionista do Fundo.
A cúpula de Pittsburgh é a primeira grande reunião internacional em que o anfitrião é o presidente Obama. O novo governo americano tem todo interesse em que ela produza resultados palpáveis (“deliverables”, como dizem eles). Um desses “deliverables” pode ser um progresso importante em matéria de reforma do FMI e do Banco Mundial. Mas é evidente que os EUA só penderão para o lado dos países em desenvolvimento se sentirem que do nosso lado existe real determinação de lutar por essas reformas. O nosso grande desafio é superar a resistência europeia à mudança. O velho continente está super-representado no FMI -e não quer largar o osso.
A janela de oportunidade existe, sem dúvida. Não só por causa das circunstâncias e das inclinações dos EUA mas também porque a crise abalou os países desenvolvidos e aumentou o peso relativo e a influência dos países de mercado emergente e em desenvolvimento. China, Índia, Brasil e outros países já vinham aumentando seu peso relativo antes da crise de 2008-2009. Depois da crise, e com a resistência que várias dessas economias demonstraram em face da crise, o nosso poder de barganha cresceu consideravelmente.
Nesse contexto, a atuação conjunta dos Bric (Brasil, Rússia, Índia e China) adquiriu uma importância especial no FMI e no G20, como já tive ocasião de explicar nesta coluna. Os objetivos que os Bric estão buscando em Pittsburgh, em matéria de FMI e em outras áreas, foram expressos no comunicado conjunto dos ministros de Finanças e dos presidentes de bancos centrais dos quatro países, assinado em Londres, no dia 4 deste mês. Esse comunicado pode ser encontrado na página do Ministério da Fazenda na internet (ver Sala de Imprensa, Notícias).
A janela de oportunidade não vai ficar aberta por muito tempo. Primeiro, porque a fase mais aguda da crise internacional já passou e tudo indica que haverá uma recuperação gradual da economia mundial. O abrandamento da crise reduz a pressão por reformas -inclusive as do FMI e do Banco Mundial.
Segundo, o G20 poderá entrar numa fase de esgotamento e retornos decrescentes -sobretudo se Pittsburgh não produzir resultados convincentes. Já existem sintomas de “summit fatigue” (fadiga de cúpulas). Em outras palavras, a sucessão de reuniões internacionais gera um cansaço natural. A mera passagem do tempo favorece os que lutam pela preservação do status quo.
Por último, mas não menos importante: no ano que vem o governo brasileiro estará em fim de mandato e voltado, em boa medida, para o processo eleitoral. A influência do Brasil tende a diminuir relativamente à situação atual. A hora é essa.