Os produtores rurais do sudoeste de Mato Grosso do Sul, onde estão algumas da terras mais férteis e produtivas do País, acreditam que os estudos técnicos para identificação de áreas indígenas na região são inúteis e não resultarão em medidas práticas.
Para esses fazendeiros, que têm documentos de posse da terra, a discussão de uma solução para os índios que vivem em aldeias próximas ou em acampamentos à beira de estrada tem viés estritamente econômico, diferentemente do cenário que resultou na demarcação da Terra Indígena Raposa Serra do Sol, em Roraima.
“Não precisa do terrorismo instalado pelo governo federal, pela Funai [Fundação Nacional do Índio] e pelas ONGs [organizações não governamentais] no nosso Estado. Aqui não é Roraima. Com certeza não vai haver demarcação de terra indígena. Pode haver uma aquisição de terras pelo governo federal, se o proprietário quiser. E tem que pagar por elas, pois temos títulos emitidos pela União. Temos documentação”, ressaltou o pecuarista Gino José Ferreira, que tem área arrendada no município de Bela Vista e cria gado em Dourados, onde presidiu o Sindicato Rural.
“Tem proprietários que vendem sua propriedade e outros que não vendem. Mas nunca vamos voltar à origem dos indígenas de 100 anos atrás. Isso é a utopia dos medíocres. Se quiserem sentar com os proprietários rurais para resolver o problema indígena no nosso Estado, vamos sentar e resolver, ver de que o governo federal dispõe para indenizar os produtores”, acrescentou.
Segundo o presidente do Sindicato Rural de Dourados, Marisvaldo Zueli, 1 hectare de terra na região está avaliado em R$ 20 mil para uma eventual desapropriação. Mas, de acordo com ele, os produtores também têm vínculos fortes com a terra. “Tem pessoas com laços familiares aqui e muito amor pela terra. Não é comprando que se resolve. Existe terra do narcotráfico e do governo para dar aos índios. Não precisa tirar de quem está produzindo”, defendeu.
Para os produtores, a demarcação de terras indígenas atende a interesses estrangeiros. O pecuarista Dácio Queiroz, diretor da Federação da Agricultura e Pecuária de Mato Grosso do Sul (Famasul), diz que os atrativos da terra vermelha da região vão além da fertilidade.
“Quando você vê o subsolo, a biodiversidade, o Aquífero Guarani, só pode ter nisso interesse externo por recursos naturais sob o manto da causa indígena. Nossa política indigenista está carregada de sotaque”, criticou Queiroz. “São interesses de fora do País para desestabilizar o setor produtivo do Brasil. Quem vai mandar no mundo é quem produzir mais alimentos e essa é uma das regiões mais produtivas do mundo”, completou Ferreira.
Os fazendeiros garantem ter uma solução melhor para os indígenas da região, sem levar em consideração, entretanto, as tradições e os costumes da outra cultura.
“Antigamente os proprietários rurais tinham como parceiros em lavouras os indígenas. Na fazenda do meu pai sempre trabalhavam 20, 30 indígenas na lavoura e na pecuária, e todos viviam bem, tinham salário. Índio que trabalha não quer demarcação de terra”, argumentou o pecuarista Gino José Ferreira Ferreira, criador de gado na região de Dourados.
Segundo o pecuarista Dácio Queiroz, há no Brasil atualmente uma “política equivocada de segregação da espécie humana”.
Na concepção dele, o índio quer receber documentos e as mesmas condições de educação dos que os brancos e dessa forma se integrar à sociedade e ter qualidade de vida. Queiroz destaca o grande número de índios empregados em usinas de cana-de-açúcar na região como exemplo.
Os fazendeiros criticam o trabalho dos antropólogos que antecede as demarcações e homologações de terras indígenas no Brasil. No caso de Mato Grosso do Sul, os produtores argumentam que os títulos de posse das áreas superam qualquer estudo.
“Não adianta estudar minha propriedade se tenho título definitivo. Se algum dia ela foi de índio, o Brasil inteiro também foi. Tinha que arrumar uma enxada para esses antropólogos, para eles não ficarem em sala com ar condicionado criando conflito”, ironizou Ferreira.