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Comentário Avícola

Avicultura e o meio ambiente: da madeira ao adubo orgânico

<p>O uso da cama de frango como adubo orgânico é um atrativo encontrado para tornar a produção agrícola mais rentável, em virtude da substituição de parte ou totalidade do adubo químico.</p>

Uso integrado e racional na avicultura com tecnologia aumenta a estabilidade e rentabilidade de produção com redução de custos, melhorando a produtividade, preservando o meio ambiente, no qual o resíduo de um sistema passa a ser o insumo ao outro. Um exemplo é a madeira e outros subprodutos agropecuários utilizados na cama aviária, que pode ser a maravalha/cepilho, casca de arroz, palha de café e palhas de outras origens. A cama gerada da raspa do eucalipto origina resíduos orgânicos que, corretamente manejados, fornecem nutrientes à produção de alimentos, melhorando condições físicas, químicas e biológicas do solo. Porém, quando indevidamente manuseados e tratados, constituem fonte de contaminação e agressão ao meio ambiente, se direcionados aos mananciais hídricos ou mal armazenados. Grãos e pastagens pressupõem necessidade de nutrientes em quantidade e qualidade compatíveis à produtividade pretendida.

Sistemas de produção animal recebem alimentos por meio dos concentrados e forragens, sejam cultivadas ou nativas, resultando em ganho de peso/crescimento e maior parte eliminada por meio das fezes e urina com transformação em insumos agrícolas, adotando adequado processo de tratamento de armazenamento e aplicação. Produção de leite e carne em pastagem, o uso da cama de frango como adubo orgânico é um atrativo encontrado por tornar a produção mais rentável, em virtude da substituição de parte ou totalidade do adubo químico, principalmente a uréia, além do potássio e até mesmo o fósforo, a troca do adubo químico na forma de uréia pelo uso da cama de frango pode ser utilizada em pastagens como capim Panicum Maximum – Mombaça, em sistemas de lotação rotacionada e o efeito da matéria orgânica sobre a produtividade pode ser direto por meio do fornecimento de nutrientes ou pelas modificações das propriedades físicas do solo, melhorando o ambiente radicular, estimulando o desenvolvimento das plantas.

Baixo custo e rica em nutrientes, em galpões avícolas, a cama evita o contato direto da ave com o chão, favorece a absorção da água e a incorporação de fezes, urina, penas, descamações da pele e restos de ração. Portanto, calcular custos e benefícios nas proximidades dos galpões produtores de cama e sua composição é importante em virtude da baixa densidade em relação a custos de transporte e nas quantidades a serem aplicadas em áreas de cultivos e a utilização dos resíduos depende do conhecimento de sua qualidade. 

Produção de suínos gera dejetos com o conteúdo de matéria seca de 1,7% a 3,5%, os de bovinos confinados, de 5% a 16% e as camas de frango, entre 70,7% a 78,7%, de uma mesma granja. Esses conteúdos poderão variar pelo manejo, composição da alimentação e desperdício dos comedouros e bebedouros. O uso da cama de frango como adubo orgânico está sendo difundido como adubação de pastagens, hortaliças, milho, soja, algodão e café, sendo importante que o produtor utilize um material de excelente qualidade, livre de produtos químicos e padronizado, quanto à composição química. O sistema produtivo de frango permite a reutilização da cama de uma a seis criadas se bem manejada e sem problema sanitário em lotes anteriores, devendo atentar com a qualidade da cama a ser utilizada, a fim de se alcançar objetivos quanto à reposição de nutrientes nas variadas culturas. A cama de matrizes de corte também é uma alternativa diferenciada e a reposição de nutrientes do solo tem base na extração ou na produtividade desejada.

Culturas de maior produção requerem maiores reposições de nutrientes com distintas recomendações de adubações, então não só quantidade e sim a qualidade do adubo orgânico utilizado é de importância ao sucesso. Dados em relação à composição química de quatro camas de frango com casca de café retiradas da mesma granja destacaram diferenças percentuais ao número de criadas nos parâmetros analisados. Com aumento significativo nos preços dos diversos insumos agrícolas e pecuários, trabalhar com redução de custos e obrigação para permanecer na atividade agropastoril e altos preços dos adubos químicos, o uso da cama torna-se uma saída viável, mas de forma compulsiva, sem prévia recomendação implicará em erro.
Como ocorre nas formulações de adubo, há diferentes concentrações de nitrogênio, fósforo, potássio (NPK) e micronutrientes como o zinco e outros, ocorrem diferenças com a cama de frango. Tomando-se como exemplo a porcentagem de nitrogênio das camas com uma e quatro criadas, pode-se dizer que houve aumento de 42%, enquanto que na relação (nitrogênio/matéria orgânica) nas respectivas camas de frango, o valor chegou a 50%. Isto pode inferir que o produtor poderia utilizar menor quantidade de adubo se optasse pela cama com maior número de criadas, a este nutriente. Todavia, a consideração de valores tabulados poderia inferir a erros.

O uso da cama de frango ao produtor poderá minimizar ou zerar seus custos com adubação, dependendo da cultura. Avaliações da influência da adubação orgânica nas propriedades químicas de um solo vermelho mostraram que a adubação orgânica com cama de frango pode ser considerada uma importante fonte de nutrientes e quanto mais perto do sistema produtor da cama de frango, menores serão os custos com transporte e, quanto maior o número de criadas poderá ser maior a concentração de nutrientes por unidade de peso, viabilizando os custos e logística, pois menor será a quantidade de cama a ser colocada na área de cultivo para atender as recomendações. Há necessidade de mais estudos com maiores variações de amostras, regiões e tipos de cama, para melhor interpretação e maior confiabilidade dos dados, porém, atentar-se com a composição química do adubo orgânico utilizado é de fundamental importância a viabilidade do processo. Ser eficiente não está somente em produzir maiores quantidades e sim, pelo fato de se ter a maior produtividade a um menor custo possível, com a menor produção de resíduo. Hoje, no norte do Paraná o custo deste material está na faixa de R$ 60 a R$ 90 a tonelada e um frango de corte produz 1.3 kg de esterco até o abate. Considerando um lote de 20 mil aves se produziria uma carreta desse material por lote. 
    
por Valter Bampi, médico veterinário e executivo avícola