O fluxo de investimentos financeiros nos índices de matérias-primas diminuiu significamente em julho, principalmente nos produtos agrícolas, depois de quatro meses de alta, segundo o banco francês Natixis.
A situação começou a se reverter em função do menor apetite por risco em meio à alta volatilidade nos preços e coincide com pressões de reguladores para frear a influência de especuladores no mercado de commodities, segundo analistas europeus. Ao fim de junho, o montante total de investimentos financeiros em matérias-primas agrícolas, petróleo e metais tinha alcançado US$ 209 bilhões, numa alta recorde de US$ 34 bilhões em relação ao primeiro trimestre, segundo o Barclays Capital, de Londres.
Mas em julho, pelos cálculos de Natixis, a entrada líquida ficou em US$ 5,7 bilhões nos índices de commodities, que dão aos investidores acesso para uma cesta diversificada de matérias-primas. No ano, o total de dinheiro novo teria chegado a US$ 51 bilhões.
A queda foi especialmente importante nos fundos especializados em commodities agrícolas, com entrada líquida de US$ 700 milhões, comparados a US$ 2,8 bilhoes em maio. A maior parte das aplicações foi para o setor de energia, sobretudo gás. Mas Nic Brown, analista do banco francês, alerta que julho foi um período particularmente volátil e ficou difícil identificar os montantes investidos em certos produtos agrícolas.
Amrita Sen, analista do Barclays Capital, minimiza a queda de fundos especializados em produtos agrícolas. “Investidores aumentaram sua exposição em commodities em razão de fundamentos, ao contrário do que ocorria no ano passado, quando os preços já estavam em níveis recordes”, diz ela.
Andy Duff, do banco holandês Rabobank, confirma que certos investimentos financeiros ocorrem em decorrência dos fundamentos, como no caso do açúcar. “Um incentivo para esse tipo de investimentos é a proteção contra a inflação e desvalorização do dólar”, afirma.
Além de investimentos instuticionais e de fundos de hedge terem retornado forte ao mercado de commodities no segundo trimestre, um novo investidor foram fundos soberanos, controlados por governos, segundo o Barclays. Isso ajuda a explicar a alta das aplicações no período.
Por sua vez, o banco Goldman Sachs avalia que os preços de commodities vão continuar voláteis. A alta estaria “apenas no começo” e poderia ser “mesmo mais extrema” do que foi vista no passado.
Nesse cenário, a Agência das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO) nota que a atividade global de operações nos mercados futuros dobrou nos últimos cinco anos, e a especulação nos mercado de alimentos influiu no nível e volatilidade dos preços em 2007 e 2008.
A FAO chama os governos a tomarem medidas no Encontro de Cúpula sobre Segurança Alimentar, marcado para novembro em Roma, para controlar a especulação nos mercados agrícolas, diante “das sérias implicações que isso tem sobre a segurança de alimentos globalmente”.
Nos EUA, a corrida de especuladores está no alvo de Gary Gensler, o novo diretor da US Commoditiy Futures Trading Comission (CDTC), a agência governamental para vigilância dos mercados de matérias-primas. Em sua primeira audiência no Senado americano Gensler disse que 2008 teve “uma bolha especulativa sobre commodities” e que “os fundos de índices de matérias-primas e outros investidores financeiros participaram na formação dessa bolha”.
Seu objetivo é não se restringir aos mercados agrícolas. Para frear a “especulação excessiva”, ele quer limitar o número de contratos de petróleo e gás que bancos e fundos serão autorizados a deter. Para analistas, isso pode reduzir os negócios em bilhões de dólares. Na semana passada, autoridades dos EUA e do Reino Unido começaram a discutir a influência de especuladores nos mercados de energia.