O valor total de recursos comprometidos pelos governos de 11 países desenvolvidos para salvar seus bancos da falência e restaurar o crédito chega a US$ 7 trilhões ou 18,8% do Produto Interno Bruto (PIB), revela o Banco de Compensações Internacionais (BIS). Os programas de socorro subsidiam de fato instituições grandes e complexas, que justamente estiveram na origem da crise global e que parecem menos inclinadas a usar os fundos levantados para aumentar os créditos para a economia real, diz o estudo feito pelo BIS e pelo Banco da Itália.
Espécie de banco dos bancos centrais, o BIS alerta que as intervenções governamentais podem não ter sido suficientes, pelo menos até agora, para deflagrar um “círculo virtuoso” para os bancos, como reforçar mutuamente o aumento de capital e captação de um lado e dos créditos e lucros de outro. A instituição da Basileia nota que, entre o primeiro e o segundo trimestres deste ano, a parte dos fundos dos bancos fornecidas ou garantidas pelos governos reduziu fortemente, mas que isso pode ser “transitório” e alerta que a maioria dos bancos “continua a depender de fundos governamentais”.
Até agora, do total comprometido pelos governos, os dispêndios com injeção de capital, compra ou garantia de bônus emitidos pelos bancos e com limpeza de “ativos tóxicos” alcançaram US$ 2,8 trilhões, ou 7,6% do PIB, nos Estados Unidos, Alemanha, Japão, Austrália, Canadá, França, Itália, Holanda, Suíça, Espanha e Reino Unido.
O tamanho da intervenção foi mais alta no Reino Unido e na Holanda, com os dispêndios já feitos chegando a 44,1% e 16,6% do PIB, respectivamente, onde o sistema bancário é grande em relação à economia real e dominado por grandes instituições que foram afetadas severamente pela crise. A ajuda foi menor em países como Japão (0,1% do PIB) e na Itália (O,6%), onde os bancos são mais concentrados na atividade tradicional de crédito e foram menos atingidos.
Writedowns – O BIS avalia que, no geral, os pacotes de socorro contribuíram para reduzir o risco de falência dos bancos, para benefício dos credores (detentores de bônus e depositantes) e para vendedores de produtos CDS (“credit default swaps”, instrumento financeiro utilizado por participantes no mercado de renda fixa para especular ou fazer “hedging” contra o risco de uma empresa deixar de pagar sua dívida). Quanto às emissões de bancos garantidas pelos governos, a instituição da Basileia aponta efeitos “indesejáveis e distorções”. Foram feitas 900 bônus por 140 bancos, totalizando US$ 988 bilhões, para refinanciar débitos que venciam.
Só que os bônus garantidos foram emitidos às expensas de emissões não garantidas. E, sobretudo, a maior parte das emissões ocorreu por parte de grandes bancos, que tiveram de fazer enormes volumes de depreciações (“writedowns”). Para o BIS, isso ilustra subsídios na prática para grandes bancos que provocaram a crise financeira global. Além disso, os bônus garantidos não estimaram os empréstimos para a economia real, ajudando apenas no crédito para outros bancos.
Nesse cenário, o BIS conclui que os empréstimos para empresas e consumidores nos EUA e na Europa continuam baixos. Bancos americanos aumentaram o spread e reduziram a duração das linhas de crédito. Na zona euro, as exigências para empréstimos também aumentaram, o valor e linhas de crédito para empresas dminuíram. “De fato, as condições dos crédito bancários continuam apertadas”, diz o BIS. A instituição sugere que os governos comecem a elaborar uma estratégia de saída dos bilionários programas de socorro. Inclusive para evitar que bancos e outras instituições financeiras venham a conceber suas futuras estratégias com a ideia de que vão continuar a se beneficiar de ajuda governamental por mais tempo, às custas de seus concorrentes.
O BIS alerta que as condições do desmantelamento das medidas de socorro terão consequências para os bancos. E para o sucesso da estratégia de saída, um elemento central é a retomada do mercado para securitização, que representou fonte “muito importante” de fundos para os bancos até que secassem por causa da crise.