Depois de “chacoalhada” pela crise econômica no último trimestre de 2008 e no primeiro deste ano, a economia brasileira começou a voltar aos trilhos, segundo avaliação de economistas ouvidos pelo G1 com base nos mais recentes indicadores.
Segundo os analistas, essa tendência deve se intensificar no segundo semestre, ainda que sem nenhum salto “milagroso”.
No último trimestre deste ano, é possível que o Produto Interno Bruto (PIB) apresente um crescimento alto em relação ao ano passado. Para a economista Silvia Ludmer, do Banco Fator, haverá uma retomada gradual da atividade – ela prevê que, já no segundo trimestre, o crescimento do PIB vai marcar ganho de 1,5% em relação aos três meses anteriores.
Além disso, a economista cita também o “efeito estatístico” nos números, que, segundo afirmou, virá do fato de a economia ter registrado forte desaceleração no último trimestre de 2008, já sob os efeitos da crise econômica originada no mercado de hipotecas nos EUA e cujo início é marcado pela “quebra” do banco Lehman Brothers, em setembro do ano passado.
No último trimestre de 2008, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o PIB brasileiro teve desaceleração de 3,6%, em relação aos três meses anteriores.
Esse foi o pior resultado da série do instituto sobre a economia brasileira, iniciada em 1996. Mesmo assim, por conta dos fortes resultados da economia nacional, entre janeiro e setembro, o PIB brasileiro cresceu 5,1% em 2008.
O primeiro trimestre deste ano marcou o pior resultado para a economia brasileira desde 2003. O País entrou oficialmente em “recessão técnica” ao marcar duas retrações trimestrais seguidas.
O PIB brasileiro caiu 0,8% no primeiro trimestre, em relação ao quarto trimestre de 2008. Apesar de negativo, o comportamento da economia brasileira entre janeiro e março foi considerado melhor que o esperado por analistas.
Ladeira acima – Desde então, os números mostram um longo caminho “ladeira acima”, movimento que deve continuar a ser percebido nos próximos meses, de acordo com os analistas.
Segundo a economista do Banco Fator, a retomada pode ser tortuosa – ou seja, podem aparecer indicadores negativos ao longo do caminho –, mas já existem subsídios para que se acredite em um melhor desempenho para alguns setores.
Silvia diz que a indústria, que sofreu bastante na primeira meta de 2009, deve aos poucos acompanhar o resultado do consumo, que se manteve forte e acima das expectativas mesmo durante os períodos de maior desânimo. Com os estoques chegando ao fim, o setor deve esboçar alguma reação.
Ainda que o cenário possa ser mais positivo nos próximos meses, o consenso entre analistas é que 2009 seja “um ano perdido”.
O economista Francisco Pessoa Faria, da consultoria LCA, diz que, historicamente, a queda entre 2008 e 2009 foi bastante significativa, com o País passando de uma expansão de 5% para um resultado negativo.
Faria afirma que houve uma “desaceleração brutal” da economia, mas com “perfil diferente”. “Foi possível preservar o consumo das famílias, a massa salarial. Houve um bom aumento do salário mínimo e a importância maior da aposentadoria (para a economia). Por isso, em termos de sensação, (o País) não sentiu tanto. Mas, em números, (a economia) sofreu tanto ou mais do que nas outras crises”, explica.
Mais pessimista que a média do mercado, o economista Miguel Daoud, da Global Financial Advisor, diz acreditar que a economia brasileira terá uma retração de 1,5% neste ano.
O último boletim Focus, que reúne perspectivas de bancos que atuam no Brasil para a economia local, previu, na última segunda-feira (13/07), que a economia teria retração de 0,37% neste ano.
Mesmo entre as consultorias que ainda acreditam em algum crescimento – como a LCA e a SLW, que projetam uma alta de 0,5% para o PIB, ou a Austin Rating, que projeta ganho de 0,7% –, o consenso é que o resultado de 2009 ficará próximo do “zero a zero”.
Dificuldades – Entretanto, os problemas estruturais da economia brasileira continuarão a afetar o desempenho da economia.
No segundo semestre, para Miguel Daoud, as contas públicas tendem a se deteriorar.
“O governo está dando isenções, mas as despesas não-reversíveis, de custeio, estão subindo. Essa política de estímulo fiscal esbarra nos gastos”, diz.
Ele afirma também que, com a dificuldade de recuperação da economia americana, pode ocorrer uma desvalorização maior do dólar, o que prejudicará os exportadores e facilitará a entrada de produtos importados na economia brasileira.
Mesmo a manutenção do nível de emprego, com a criação de 299 mil vagas no primeiro semestre, é vista com desconfiança por Daoud. “A renda está caindo e, quando você dá dinheiro para o consumidor consumir, (isso acarreta) alto endividamento, o que significa inadimplência. E inadimplência (acarreta) alta de juros e do spread bancário”, frisa.
Na visão da economista Ariadne Vitoriano, analista da consultoria Tendências, a retração da economia brasileira deve ficar em 0,6% neste ano. “O nível de produção é muito baixo na indústria. (O PIB) deve encerrar o ano com queda em relação a 2008”, ressalta.
Fundamentos – Quem vê o cenário de forma mais otimista insiste, porém, que os indicadores de percepção da crise econômica melhoram, inclusive na indústria.
“A isenção de IPI, todas as facilidades que o governo criou, (ajudando) também com as fusões (de empresas). O BC atuou bem no câmbio. Isso tudo cria um ambiente propício para alguma recuperação”, afirma Carlos Thadeu Freitas Gomes Filho, economista-chefe da SLW Asset.
Ele admite que parte da recuperação será “ilusória”, fruto da comparação fraca, mas frisa que “as questões fundamentais” da economia também contribuem para um cenário de recuperação.