A China reviu consideravelmente para cima sua estimativa de importações de soja em grão neste mês. Conforme a nova projeção do Ministério do Comércio chinês, as importações alcançarão 4,28 milhões de toneladas em julho, 20,2% mais do que o previsto em junho. O governo também ajustou o volume de compras chinesas no exterior no mês passado para 4,23 milhões de toneladas, 2,5% menos do que a estimativa anterior, mas ainda 20,2% acima do total maio.
Apesar da correção do número de julho, o ministério ainda não alterou sua projeção para as importações acumuladas na temporada 2008/09, que no calendário agrícola da China termina em 30 de setembro. Em junho, a previsão oficial apontava 40 milhões de toneladas. É um volume pouco superior às 38,8 milhões de toneladas estimadas pelo Departamento de Agricultura dos EUA (USDA), que nesta sexta-feira divulga novo relatório sobre oferta e demanda de grãos no país e no mundo e pode trazer novidades nesta frente.
Para 2009/10, as últimas estimativas disponíveis do governo chinês e do USDA sinalizam uma desaceleração das compras. Pequim projeta 37 milhões de toneladas, e Washington ainda fala em 38,1 milhões. Vacinados contra as surpresas estatísticas que costumam envolver a China, porém, especialistas brasileiros divergem sobre a tendência. Sempre é bom lembrar que o país asiático é o principal destino das exportações de soja do Brasil, e que a soja é o carro-chefe do agronegócio nacional.
Entre os que não acreditam na desaceleração está Renato Sayeg, da Tetras Corretora, que em recente entrevista ao Valor reiterou que, sobre a China, “a leitura não é transparente” e que a demanda do país poderá superar as atuais estimativas e crescer para 54,5 milhões de toneladas em 2009/10, ante uma produção de cerca de 16 milhões. No dia 2 de julho, o Fundo Monetário Internacional (FMI) elevou sua previsão para o avanço do PIB chinês para 7,5% em 2009 e 8,5% no ano que vem.
Fabio Silveira, da RC Consultores, acredita que a China elevou as importações recentemente para engordar seus estoques de soja e forçar a queda das cotações internacionais nos próximos meses. “O processo chinês de expansão econômica depende de matéria-prima barata. O país trabalha com preço médio e olhando para frente. Pode até perder rentabilidade hoje, mas compensa no futuro”, sustenta Silveira.
“As importações da China estão relacionadas a uma decisão de governo que leva em consideração a política de estoques do país. Por isso é impossível prever o que pode acontecer em 2009/10”, afirma Antonio Sartori, da corretora gaúcha Brasoja. Em geral, lembra, os estoques chineses de alimentos são muito menores hoje que há dez anos.
Sartori realça que no caso dos cereais, por exemplo, os estoques totais da China chegavam a 370 milhões de toneladas na safra 1999/00, diminuíram para 208 milhões na safra 2008/09 após anos de crescimento econômico acelerado e devem aumentar para 221 milhões em 2009/10, segundo a FAO, braço das Nações Unidas para agricultura e alimentação.
Com peso na formação dos preços de soja maior que em qualquer outra commodity agrícola, pelo grande desequilíbrio entre oferta e demanda, a China ajudou a sustentar a alta do grão na quinta-feira na bolsa de Chicago, que vinha de quatro sessões seguidas de tombos. Não pela nova previsão de importações em julho em si, mas porque, em linha com ela, a demanda chinesa pelo produto americano já se mostrou mais aquecida.
Mas após a recente erosão, um movimento de cobertura de posições também colaborou para a recuperação. Traders ouvidos pela agência Dow Jones Newswires ressaltaram, contudo, que o clima favorável ao desenvolvimento das lavouras americanas nesta safra 2009/10, um dos fatores que determinaram a recente sequência de quedas, segue vivo.
Os contratos do grão com vencimento em agosto fecharam a US$ 10,4750 por bushel, alta de 32,50 centavos de dólar. Novembro subiu 24 centavos, para US$ 9,16.