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Economia

Relação Brasil - China

<p>Depois do reforço do comércio, Brasil e China devem fazer mais investimentos, dizem economistas.</p>

Com a China como principal parceiro comercial do Brasil desde março, não há dúvidas de que a balança comercial entre os dois países está em ascensão. Economistas lembram, porém, que em termos de investimentos diretos externos, essa relação ainda é muito limitada.

“A China é a cara-metade do Brasil. Para manter o casamento, temos de avançar nos investimentos”, diz Ilan Goldfajn, economista-chefe do Itaú Unibanco. A declaração foi feita em conferência promovida ontem sobre as relações sino-brasileiras pelo Conselho Empresarial Brasil-China. Ele lembra que os investimentos diretos chineses são insignificantes. Segundo dados do Banco Central, essas aplicações ficaram em US$ 25 milhões em 2007 e, em 2008, não chegaram a US$ 40 milhões.

Goldfajn destaca que a China, assim como o Brasil, foi por muito tempo uma grande receptora de investimentos diretos. Há, porém, um início de mudança nesse perfil. Segundo dados organizados pelo Itaú Unibanco, os investimentos diretos da China para o exterior saltaram de menos de US$ 20 bilhões em 2007 para cerca de US$ 53 bilhões no ano passado.

Rodrigo Tavares Maciel, secretário executivo do Conselho Empresarial Brasil-China, diz que houve uma grande expectativa dos investimentos chineses em território brasileiro a partir de 2004, quando a China passou a ser considerada como economia de mercado. Para ele, esses investimentos passaram por uma fase de maturação e começarão a ser concretizados agora, pouco a pouco. Para 2009, estão sendo encaminhados alguns projetos pontuais. Por enquanto, diz, os recursos chineses mais relevantes têm chegado ao Brasil por meio de financiamentos e não com participação em empresas ou instalações de atividades produtivas. Ele dá como exemplo o recente crédito de US$ 10 bilhões concedido pelo China Development Bank à Petrobras para financiar compras na China em troca da venda de petróleo.

O economista Octavio de Barros, diretor de pesquisas econômicas do Bradesco, acredita que o Brasil reúne atualmente as melhores condições para atrair investimentos externos, inclusive os chineses. Segundo ele, um levantamento do Bradesco em 2008 e 2009 indica um total de US$ 2,8 bilhões em investimentos chineses anunciados para o Brasil nos próximos anos.

O Brasil, avalia ele, deverá ter retração de 0,5% no PIB em 2009, sendo que a previsão de crescimento para 2010 é de 4%. Ele prevê que o Brasil encerrará 2009 com aumento de 3,8% de crescimento real no comércio varejista e queda real de 8,2% na indústria. As perspectivas para a massa salarial, porém, são boas. Barros considera 3% de crescimento real da massa salarial no Brasil em 2009 e 6,5% no próximo ano. Além de índices macroeconômicos favoráveis, diz Barros, o Brasil não apresenta riscos políticos. Para qualquer um dos dois prováveis candidatos à presidência que o país terá, diz, há perspectiva de avanço na política macroeconômica e social. “Todo mundo quer captar um pedaço desse Brasil novo e inédito.”

Jiang Shixue, vice-presidente da associação chinesa de estudos latino-americanos, acredita que há grandes oportunidades de cooperação entre os dois países, mas para reforçar os investimentos é necessário que o Brasil e a China facilitem a troca de informações de mercado e tenham um melhor entendimento sobre as estratégias e os interesses de cada um.

Ele reconhece que a China deve oferecer maiores incentivos e que as empresas chinesas precisam ter maior responsabilidade social. Ao mesmo tempo, porém, ele também acha que há necessidade de mudança no lado do Brasil. O Brasil, diz, continua baixando medidas antidumping contra produtos chineses, mesmo depois que a China passou a ser considerada economia de mercado. Além disso, lembra, há representantes empresariais que não veem a China como parceiro estratégico porque, para eles, os chineses compram insumos de baixo valor agregado e vendem bens de consumo.