Em 2010 será “mais complicado” para o Brasil fechar acordos comerciais, em pleno período eleitoral. Por isso, se houver avanços na Rodada Doha, tem que ser até o fim deste ano, para pavimentar a conclusão da negociação global de liberalização agrícola e industrial.
Essa foi a mensagem que o ministro brasileiro das Relações Exteriores, Celso Amorim, deixou ontem durante conversa com o negociador comercial chefe dos Estados Unidos, Ron Kirk. No mesmo momento, a Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) previa contração de 16% no comércio mundial este ano, por causa da recessão maior que a projetada.
Para o ministro brasileiro, o pacote que está na mesa de negociações em Genebra já permitiria ganhos importantes, ainda mais na crise atual – e no caso do Brasil, quando o país vai entrar em período eleitoral e as concessões de abertura do mercado se tornam mais difíceis.
Amorim insistiu que o Brasil chegou ao limite nas concessões por um acordo na Rodada Doha. Mas deixou uma brecha aberta, dizendo que, “se for possível” alguma flexibilidade, terá antes que ver que tipo de compensação receberá, porque as aberturas para etanol e algodão não foram resolvidas até hoje.
O representante americano mostrou “disponibilidade” para continuar dialogando, conforme relatou Amorim. Mas continua sem clareza o que Washington quer exatamente e o que está disposto a pagar pelas duas demandas. Algo é certo: Amorim reiterou que há coisas impossíveis a serem atendidas, como maior abertura no setor químico, que os americanos sempre demandaram.
O debate sobre protecionismo e abertura comercial foi um dos temas ontem na conferência ministerial da OCDE. O secretário de Comércio Internacional da Argentina, Alfredo Chiaradia, foi incisivo, chamando atenção para as análises de que o comércio internacional estava aberto antes da crise.
“Estava aberto para produtos industriais, que os ricos exportam, mas para produtos agrícolas estava cheio de distorções e barreiras”, afirmou. Para o ministro argentino, é difícil imaginar um acordo global proximamente, se não conseguiu ser fechado no ano passado, antes do auge da recessão global.
O ministro de Comércio da Nova Zelândia, Tim Gross, advertiu que se a Rodada Doha não for concluída nos próximos 18 meses, o sistema multilateral “implodirá” – ou seja, a relevância das regras da Organização Mundial do Comércio (OMC) diminuirá, com os países procurando acordos fragmentados para aumentar exportações.
Hoje, em Paris, haverá uma reunião miniministerial, com a participação de mais de 15 ministros. Mas o ministro Celso Amorim não espera avanços nem na reunião de cúpula do G-8 e G-5, em julho.
O novo ministro de Comércio da Índia, Anand Sharma, que chegou a fazer declarações otimistas de que seu país está “ansioso” para retomar as negociações, já começou a sentir o peso da realidade e parece mais prudente em suas declarações. A Índia e os EUA têm sido apontados como os grandes culpados do impasse na negociação global.