O ministro da Indústria, Comércio e Trabalho de Israel, Binyamin Ben Eliezer, fez um apelo a deputados e senadores do Brasil para que aprovem com rapidez o acordo de livre comércio entre o país e o Mercosul. “Cada dia que passa sem ratificar o acordo, é um dia que ambas as economias perdem”, disse Ben Eliezer, por e-mail, ao Valor.
O acordo entre Mercosul e Israel – o primeiro do bloco com um país de fora da América Latina – enfrenta um lento processo de aprovação desde sua assinatura, em dezembro de 2007. O acordo só chegou ao Congresso no segundo semestre de 2008 e, até agora, não passou da comissão mista do Mercosul, a primeira de muitas instâncias de avaliação.
Os congressistas estão preocupados com as ações de Israel na Palestina. Também não ajudou na tramitação do acordo a firme manifestação do Itamaraty, que classificou a ofensiva israelense na Faixa de Gaza, no início de ano, de “terrorismo de Estado”.
No relatório preliminar, o senador Eduardo Azeredo (PSDB) emitiu parecer favorável, argumentando que se tratava de “um avanço importante, enquanto iniciativas multilaterais mais ambiciosas não prosperam”. Mas manteve o veto previsto no projeto inicial para os produtos procedentes das áreas ocupadas por Israel na Cisjordânia e em Jerusalém Oriental.
O Mercosul também está negociando um acordo com a Conselho de Cooperação do Golfo. Travadas desde janeiro de 2007 por resistência da indústria química brasileira, as negociações foram relançadas em recente viagem do presidente Luiz Inácio Lula da Silva à Arábia Saudita, mas ainda não há reunião de negociação marcada. O ministro israelense disse que vê a iniciativa com “apoio total” e insinuou que “quem sabe, no futuro” poderia se transformar em uma plataforma de cooperação.
Segundo Evandro Didonet, diretor de negociações internacionais do Itamaraty, a tramitação de acordos no Congresso é demorada para qualquer parceiro. Ele lembrou, por exemplo, que o tratado de preferências tarifárias com a Índia, que inclui poucos produtos, foi assinado no fim de 2004, mas só entrou em vigor esta semana.
O acordo entre Mercosul e Israel abrange 95% das tarifas, mas deve ser mais lucrativo para a indústria, já que muitos produtos agrícolas de interesse do Brasil ficaram de fora por pedido israelense. Os setores mais beneficiados serão calçados, móveis, eletrodomésticos, autopeças entre outros, porque as tarifas de importação em Israel vão cair de 12% para zero.
Ben Elizer disse que Israel importa US$ 50 bilhões do mundo por ano, mas apenas 8% do Brasil e frisou que o comércio de seu país com o México, por exemplo, duplicou depois de um acordo. A corrente de comércio entre Brasil e Israel chegou a US$ 1,6 bilhão em 2008, mas com superávit de US$ 822 milhões a favor de Israel. Enquanto os brasileiros vendem commodities, os israelenses exportam manufaturados.