Redação (13/11/2008)- A turma era boa. Tinha o Neguinho da Rondofertil, o Paulo, o Guiomar, o Tonico do Nonda. A idéia também era boa. O grupo formado por produtores de soja de Alto Araguaia (MT) somou forças, quatro safras atrás, para aumentar o poder de barganha na compra de insumos. Conseguiam descontos de até 30% em compras que, sozinhos, eles não conseguiriam.
Era o Grupo do Paraíso e tinha 23 produtores. Passaram-se três safras de problemas variados. Uma hora foi um ataque mais forte da ferrugem asiática, uma das doenças que mais causam perdas à sojicultura. Uma outra hora o endividamento cresceu por conta da queda do preço do grão. Em outra, caso da safra 2008/09, o crédito minguou.
O Grupo do Paraíso também minguou e restaram quatro produtores. O poder de fogo que existia na negociação dos insumos não debelou as dificuldades para o pagamento de dívidas ou a obtenção de financiamento.
A maioria arrendou terras e só acompanha a safra como espectador. "Muita gente não agüentou a pressão. Desde o ataque mais forte da ferrugem, três anos atrás, os problemas se acumularam", diz Guiomar Borges de Carvalho, um dos ex-membros da associação. "E no Estado está assim. Tem gente fazendo compromisso que não sabe se vai conseguir pagar. O produtor planta para tentar fazer dinheiro para quitar dívida que ficou para trás, mas a cada ano ele está cavando mais o buraco".
Em safra de dificuldade o movimento se repete. Quem tem mais poder de fogo arrenda terras de produtores de menor porte, que têm menos capacidade de negociar com os financiadores – no caso de Mato Grosso, principalmente as tradings e as fabricantes de fertilizantes e defensivos.
Há cerca de 6 mil produtores de soja em Mato Grosso. Nos últimos três anos, esse número foi reduzido em 10%, de acordo com estimativa apresentada em julho pela Associação dos Produtores de Soja do Estado de Mato Grosso (Aprosoja). A concentração tem também marcado a safra 2008/09. O raquitismo do Grupo do Paraíso é a parte que explica o todo.
"A concentração preocupa. Produtor grande tem arrendado cada vez mais terra para obter mais crédito, mas é possível que, em algum momento, eles não consigam pagar todos os financiamentos", avalia Marcelo Duarte Monteiro, diretor executivo da Aprosoja. "Não vai ser surpresa se, em breve, alguns começarem a quebrar".