M.Sc. Fabrício Simplício Maia, Dr. Dario de Oliveira Lima Filho e Dr. Leandro Sauer, são professores e pesquisadores do Departamento de Economia e Administração da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul ([email protected]).
1. INTRODUÇÃO
Em um mundo mais integrado pela facilidade de acesso à informações, observa-se uma crescente competição em mercados cada vez mais segmentados, um aumento no nível de desenvolvimento tecnológico e uma mudança sem precedentes no comportamento dos consumidores. O conhecimento desses fatores é importante para as empresas construírem estratégias a fim de obterem a fidelidade de seus clientes (KAHN; MCALISTER, 1997).
O mercado de alimentos tem-se mostrado muito dinâmico, com alterações na composição e no comportamento da população, implicando em mudanças estruturais na demanda. Os produtos de preparação mais rápida ou que poupam tempo (de conveniência) têm se tornado cada vez mais populares.
A avaliação da qualidade dos alimentos, por parte do consumidor, é baseada em três conjuntos de atributos: (a) atributos de pesquisa, que podem ser verificados no momento da compra; (b) atributos de experiência, que só podem ser percebidos após o consumo; e (c) atributos de crença, que não podem ser observados, nem antes e nem depois da compra como resíduo de antibiótico. Na presente pesquisa foram analisados os atributos de pesquisa (cor, frescor etc.) e de crença (maciez, origem da carne e outros).
Estudos conduzidos no Brasil (SOUKI, 2003; BARCELLOS, 2002) e no exterior (SPRIGGS; HOBBS; FEARNE, 2000; EASTWOOD, 1994) discutem a avaliação da carne de frango por parte dos consumidores, porém não esclarecem a diferença entre esses dois conjuntos de atributos.
Outro ponto falho nos estudos é o fato de não se observar se o produto ofertado é adequado no sentido de atender às necessidades e desejos dos consumidores. Dois estudos recentes (LIMA FILHO et al. 2003; BARCELLOS; FERREIRA, 2003) tratam do assunto mostrando o que está sendo oferecido por parte da industria frigorífica e dos produtores, mas não incluem o varejo alimentar (açougue e supermercados).
O presente trabalho tem como objetivo identificar o grau de importância dos atributos de escolha, para a carne de frango fresca, por parte dos consumidores, e verificar se os pontos de venda – supermercados e açougues – privilegiam esses atributos considerados relevantes.
A revisão da literatura permitiu identificar atributos utilizados para avaliação, pelos consumidores, da carne de frango (quadro 1). A pesquisa consistiu de um suvey composto de 354 pessoas que, no momento da compra de carne, foram abordados, em supermercados e açougues, para opinar sobre grau de importância que davam aos atributos identificados. Utilizou-se, para tanto, um questionário de respostas fechadas com escala Likert (1 a 5). A coleta de dados foi realizada no mês de abril e maio de 2004, em Campo Grande (MS).
Quadro 1: Atributos de qualidade utilizados para pesquisa com os consumidores de frango.
Atributos
Cor
Frescor da carne
Disponibilidades de cortes
Maciez da carne
Ter uma boa aparência
Origem da carne
Prazo de validade
Marca
Presença de embalagem
Tamanho do frango
Preço
Informações nutricionais
2. MERCADO DE CARNE DE FRANGO NO BRASIL.
No Brasil, o mercado de carne de frango não se diferencia do mercado mundial quando se trata do dinamismo e do avanço das tecnologias utilizadas nessa cadeia produtiva. A competitividade brasileira é fruto de uma mão-de-obra barata e da disponibilidade de grãos que compõem a ração utilizada na alimentação das aves. Outros fatores também favorecem o elevado nível de competitividade do mercado de frango: disponibilidade de terras agriculturáveis e das condições climáticas favoráveis à produção de commodities (SILVA, 2003).
Este aumento de oferta é justificado pelo aumento de consumo per capita de frango no Brasil (figura 01) e no mundo. Em nosso país, o consumo per capta saiu de 19,1, em 1994, para 35 em 2004, verificando um aumento de, aproximadamente, 70% no período, ou uma taxa média anual de 5,4% (GIROTTO; MIELE, 2004).
Supõe-se que este aumento esteja ligado a dois fatores principais: (a) substituição da carne vermelha pela carne branca em função do menor preço ou da busca por saúde, pelos consumidores; e (b) elevação da renda, possibilitando as classes mais baixas adquirirem proteína animal.
3. RESULTADOS DA PESQUISA
Os consumidores, independentemente da carne de frango ser oferecida em cortes ou inteira, estão em busca de qualidade, evidenciada pela maior importância atribuída a aparência (93,5%), prazo de validade (90,1%) e frescor (86,2%). Estes valores não são significativamente diferentes (p-valor > 0,40).
Há dois atributos considerados importantes que vem logo abaixo: preço (85%) e presença de embalagem (84,9%). Note que o preço não se destaca entre os primeiros, alias fato corroborado por Farina e Almeida (2004).
A presença de embalagem possui uma característica que a torna fundamental na oferta, qual seja: sua presença esta ligada à presença de marca, informações sobre validade, informações sobre origem, informações nutricionais e informações sobre formas de preparo (r² > 0,95).
Independentemente do local de compra (supermercado e açougue), os consumidores atribuem o mesmo grau de importância para os doze atributos considerados, a exceção de três. Disponibilidade de cortes foi avaliada como mais importante nos açougues (p-valor < 0,033), possivelmente em função de um maior sortimento deste item. Maciez (p-valor < 0,050) e preço (p-valor < 0,043), por outro lado, obtiveram maior grau de importância nos supermercados. No primeiro caso, a explicação pode ser a disponibilidade de balcões abertos refrigerados que possibilitam manter o produto não congelado e, portanto, macio quando da avaliação no momento da compra. No caso do preço, a maior importância justifica-se pelo fato de o cliente de supermercado ser mais sensível a este atributo.
Com o intuito de organizar os dados analisados, criou-se uma matriz 2 x 2 para classificar os atributos, entre atributos de crença e pesquisa e entre atributos intrínsecos e extrínsecos (figura 02).
Os atributos intrínsecos na carne de frango são classificados como: cor, frescor e maciez da carne, ter uma boa aparência, origem da carne e tamanho do frango. Os atributos extrínsecos abrangem: disponibilidade de cortes, prazo de validade, marca, presença de embalagem, preço e informações nutricionais. A classificação entre bens de crença e pesquisa, para os atributos intrínsecos, é a seguinte: (a) bens de crença – frescor e origem da carne; e (b) para bens de pesquisa – cor, maciez da carne, ter uma boa aparência e tamanho do frango. Para os atributos extrínsecos: (a) bens de crença: disponibilidade de cortes e informações nutricionais; (b) bens de pesquisa: prazo de validade, marca, presença de embalagem e o preço.
4. CONCLUSÃO
Dos doze atributos estudados, quatro apresentaram grau de importância superior aos demais: aparência, prazo de validade, frescor e preço. Os outros mostraram importância equivalente, exceto marca que revelou menor grau de importância. Este resultado revela que os consumidores ainda percebem a carne de frango como uma commodity.
Quanto à presença destes atributos nos pontos de vendas pode-se observar que em ambos, supermercados e açougues, não se diferenciam, estatisticamente. Em relação à oferta de atributos para a carne de frango, concluiu-se que somente os atributos “presença de embalagem de isopor” e “formas de criação” não estão sendo ofertados aos consumidores. A presença dos atributos é indiferente, se analisados os pedaços ou o frango inteiro. A presença de embalagem na carne de frango é sinônimo de presença de outros atributos como, por exemplo, a marca, informações sobre validade, informações sobre origem, informações nutricionais e informações sobre formas de preparo.
Uma possível explicação para a oferta de uma variada gama de atributos indicadores de qualidade está relacionada fato de que, atualmente, os consumidores estão mais bem informados sobre qualidade dos produtos que consomem o que se justifica pela presença do atributo “informações nutricionais” (formas de preparo, calorias, teor de proteínas e outras) nas embalagens da carne de frango.
Em suma, os resultados mostram que a cadeia do frango tem oferecido produtos com os atributos demandados pelos seus consumidores.
5. BIBLIOGRAFIAS
ANUALPEC – Anuário da Pecuária Brasileira. São Paulo: FNP Consultoria e Comércio, 400 p. 2004.
BARCELLOS, M. D. de. Processo decisório de compra de carne bovina na cidade de Porto Alegre. Porto Alegre: UFRGS. 2002. 167 p. (Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Agronegócios da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Área de concentração: Agronegócios).
BARCELLOS, M. D. de; FERREIRA, G. C. Adequação entre demanda e oferta: uma análise de marcas em carne bovina. In: XXVII CONGRESSO DA ASSOCIAÇÃO NACIONAL DOS PROGRAMAS DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO, 2003, Atibaia/SP. Anais…. [CD ROM]. Atibaia: ANPAD, 2003.
EASTWOOD, D. B.; Consumer acceptance of a new experience good: a case study of Vacuum Packed Fresh Beef. The Journal of Consumer Affairs. ABI/INFORM Global. 300-313 p. 1994.
FARINA, T. M. Q.; ALMEIDA, S. F. Consumer precption on alternative poltry. 2003. Retirado do site: http://www.ifama.org/nonmember/OpenlFAMR/Articles/v5i2/Tfarina.pdf. Acesso em 14 de outubro de 2004.
GIROTTO, A. F.; MIELE, M. Situação atual e tendências para avicultura de corte nos próximos anos. Anuário Avicultura Industrial. Nº 11, 2004. 20-28 p.
KAHN, B.; MCALISTER, L. Grocery Revolution: the new focus on the consumer. Reading, MA: Addison. Wesley, 1997.
LIMA FILHO, D. O.; SPROESSER, R. L.; NOVAES, A. L.; FIGUEIREDO, J. C. O comportamento do consumidor e suas implicações estratégicas para os agentes econômicos da cadeia produtiva da carne bovina em Mato Grosso do Sul. In: XXVII CONGRESSO DA ASSOCIAÇÃO NACIONAL DOS PROGRAMAS DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO, 2003, Atibaia/SP. Anais…. [CD ROM]. Atibaia: ANPAD, 2003.
SILVA, D. F. da Chance de ganhar mais competitividade no frango. ANUALPEC – Anuário da Pecuária Brasileira, 2003. São Paulo: 10. edição, p. 259-260, 2003.
SOUKI, G. Q. Estratégias de marketing para os agentes da cadeia da carne bovina. Lavras: UFLA, 2003. p. 228 (Tese de Doutorado apresentada ao Curso de Pós-Graduação em Administração da UFLA).
SPRIGGS, J.; HOBBS, J.; FEARNE, A. Beef producer attitudes to coordination and quality assurance in Canada and the UK. International Food and Agribusiness Management. Vol. 3. 95-109 p. 2000.
(Para ilustrações, escreva para [email protected])