Redação (11/11/2008)- A colheita da soja já foi praticamente finalizada e as máquinas avançam sobre as últimas áreas de milho, mas nem por isso dá para dizer que a safra 2008/09 está definida nos Estados Unidos. Por enquanto, é possível afirmar com segurança que a produção norte-americana de grãos, ainda que volumosa, não será tão grande como se previa inicialmente.
Em relatório divulgado ontem, o Departamento de Agricultura dos EUA (USDA) voltou a recuar suas projeções para as safras de soja e milho do país. A oleaginosa tem produção prevista de 79,5 milhões de toneladas e a safra do cereal é calculada pelo órgão em 305,3 milhões de toneladas. A primeira estimativa do governo norte-americano para o ciclo 2008/09, de maio, indicava 84,5 milhões de toneladas de soja e 308 milhões de milho. No balanço final, a soja acabou perdendo 5 milhões de toneladas (-6%) e o milho, 2,7 milhões (-1%).
Conturbada do começo ao fim – seja pelo turbulento mercado financeiro global ou pelas intempéries climáticas que atrasaram o ciclo da safra –, a atual temporada norte-americana está sendo marcada pela indefinição. A confusão foi tanta que até o USDA, referência mundial em previsão de safras agrícolas, errou. Com direito a mea culpa e relatório extra revisado. No mês passado, pela primeira vez, o órgão soltou um documento extraordinário reajustando seus números de outubro: cortou em 1,5% as projeções de safra de soja e milho. A oleaginosa perdeu, de uma só vez, 1,2 milhões de toneladas e o cereal, 4,23 milhões de toneladas.
Mas, no mercado, o estrago já estava feito. No inídio do mês, quando aumentou, contra todas as expectativas, a produção de soja e milho dos EUA, o USDA fez com que os dois grãos terminassem o dia no limite de baixa (70 e 30 pontos, respectivamente) na Bolsa de Chicago (CBOT). Alguns dias antes, uma inesperada revisão positiva nos números de consumo da safra passada (2006/07) já havia levado à lona esses dois mercados.
No final de setembro, mexendo no quadro de oferta e demanda do ciclo anterior, o governo americano engordou em 1,77 milhão de toneladas os estoques de passagem de soja e incrementou em 1,2 milhão de toneladas as reservas de milho do país. “Foram três relatórios seguidos com surpresas grandes, sentidas nos preços”, resume o analista da consultoria Safras & Mercado Flávio França Jr.
Em outubro, soja e milho deixaram os fundamentos de lado e voltaram-se aos mercados financeiros para testar o piso das cotações. E descobriram que o poço era mais fundo que o previsto. No dia 15, avistando sinais reais de recessão nos EUA depois que o Fed (BC dos EUA) afirmou que a atividade econômica se enfraqueceu em diversas partes do país, o mercado de grãos derreteu na CBOT. A soja rompeu a barreira dos US$ 9 e fechou os negócios no pior preço em 14 meses, enquanto o milho caiu ao menor patamar em 10 meses.
O baque com relação aos picos de preço alcançados há apenas quatro meses foi grande. A soja perdeu 48% de seu valor e o milho, 51%. Em julho, quando as recém-semeadas lavouras norte-americanas estavam debaixo d’água, a oleaginosa foi a US$ 16,58 na CBOT e o milho alcançou US$ 7,55.
Na última semana, depois de muita oscilação, os preços dos dois grãos ficaram em patamares semelhantes aos registrados há um mês, antes do vaivém dos números de safra do USDA. A soja encerrou a semana passada cotada a US$ 9,11 o bushel (27,2 quilos) e o milho a US$ 3,75 o bushel (25,4 quilos) em Chicago. As oscilações ocorreram numa época em que a tendência era de cotações mais realistas, previsão que nem todos se arriscam a manter agora.