Redação (10/10/2008)- Com a dificuldade de acesso a crédito e a queda do preço das commodities, agravadas pela crise financeira global, as indústrias de fertilizantes enfrentam a desaceleração no mercado. O cenário indica que os números de setembro, a serem divulgados nos próximos dias, repitam o recuo de agosto, quando o setor registrou sua primeira queda em 2008, após o recorde de consumo no primeiro semestre.
O volume entregue ao produtor caiu 29,1% no período, apontam dados da Associação Nacional para Difusão de Adubos (Anda), com venda de 2,08 milhões de toneladas. E o Rio Grande do Sul acompanhou a retração. As 243,88 mil toneladas vendidas representaram um recuo de 29,34%. O replanejamento da safra, com menor tecnologia, motivado também pela alta do valor dos insumos, conforme técnicos de universidades e da Emater, deixará a área cultivada bem mais suscetível às intempéries do clima e ao rigor do verão.
Segundo Jorge Rodrigues, coordenador da Comissão de Grãos da Federação da Agricultura do Estado (Farsul), quem ainda não comprou o insumo é porque não tem dinheiro e depende de crédito até o final do plantio de verão, em dezembro.
– Tem muita gente com os pedidos de financiamento trancados no banco pela renegociação das dívidas e, mesmo com mais recursos públicos, haverá dificuldades de modificar este quadro, pois há problema de acesso ao crédito pelo comprometimento de limites devido à repactuação das dívidas – avalia Rodrigues.
Ainda assim, as indústrias mantêm a intenção de entregar entre 25 e 26 milhões de toneladas neste ano, superando o volume recorde do ano passado, de 24,6 milhões de toneladas. Um dos fatores deste otimismo seriam os R$ 5 bilhões antecipados pelo governo federal e a possibilidade de R$ 5 bilhões extras para o plantio da safra de verão.
Torvaldo Antonio Marzola Filho, vice-presidente da Anda, avalia que, no primeiro semestre, houve euforia devido às elevadas cotações de grãos como soja, milho e trigo, ocasionando a antecipação na compra do insumo. Habitualmente, 30% dos consumidores vão às compras até julho. Neste ano, esse percentual subiu para 47%.
– Houve uma tremenda antecipação de vendas, agora o mercado está mais quieto – afirma o dirigente.
Nas indústrias de defensivos agrícolas, o andamento dos negócios nos próximos quatro meses é uma incógnita. Com 40% dos pedidos concentrado nesse período do ano, o tom é de cautela sobre a possível manutenção do crescimento de 36% entre janeiro a agosto, para R$ 6,5 bilhões. As empresas do segmento também aumentaram o rigor na aprovação do crédito por causa da inadimplência que, em 2007, chegou a 10% do faturamento de R$ 5,37 bilhões.
– Há uma grande interrogação do que acontecerá daqui para a frente – explica José Otávio Menten, diretor executivo da Associação de Defesa Vegetal (Andef).