Redação (10/10/2008)- Os produtores que estão com as cerca de 6 milhões de toneladas de soja restantes da safra 2007/08 não tem motivos para reclamar. Os preços do grão seguem firmes e reagiram de imediato às altas recentes na Bolsa de Chicago (CBOT). Levantamento da FCStone mostra que na média do Paraná, a valorização desta quarta para quinta-feira na saca da soja foi de R$ 1,50. "Mas mesmo assim poucos negócios foram feitos", afirma Glauco Monte, consultor de gerenciamento de risco da FCStone.
Além de estarem firmes, os preços da soja no mercado interno mostram comportamento diferente das cotações na CBOT. Ontem, em Ponta Grossa a saca de soja foi negociada a R$ 48,50, segundo levantamento da AgRural. Esse valor era de R$ 45 em meados de agosto deste ano, ou seja, a alta acumulada foi de 7,7%. Nesse mesmo período, a cotação na CBOT desvalorizou-se em torno de 18,3%. Em Sorriso, norte de Mato Grosso, o movimento foi semelhante. Ontem, a saca foi negociada a R$ 39, valor que estava em R$ 33,30 em meados de agosto.
Quem ainda não vendeu a soja está com expectativa de que vai subir, conforme explica Monte. "Como os preços muito caíram no mercado externo, a expectativa do produtor é de alta", relata Monte. Além disso, do outro lado está o comprador, as tradings, também sem crédito abundante para realizar aquisições. "Como as cotações estavam caindo muito, a demanda estava ‘da mão para a boca’. Ainda há o agravante do aperto do crédito".
Eduardo Godoi, da AgRural, acredita que ainda há disponível para venda de 8% a 10% da safra brasileira de soja, de cerca de 60 milhões de toneladas. "A pressão de comercialização é maior até julho. Depois que ela atinge 80% o ritmo de negócios diminui muito".
Fábio Barros, produtor do norte do Paraná, conta que aproveitou o pico de preço de R$ 50 em julho na sua região para vender o que ainda faltava de sua safra. "Mas o pessoal aqui que ainda tem soja não vai vender mais este ano. Todos estão achando que o preço vai subir", conta Barros.
Se o mercado físico, com preços mais atrativos, está caminhando devagar, as negociações no mercado futuro para a safra 2008/09 estão estacionadas no patamar de 16% – ante os 38% de outubro do ano passado, segundo a AgRural. "O preço ofertado para entrega em março de 2009 está em US$ 16 (com o produtor correndo riscos de câmbio). O valor empata com os custos de produção (com impostos)", compara Godoi.
Mas a falta de apetite para negócios não está ocorrendo somente no Brasil. Monte, da FCStone, afirma que nos Estados Unidos os produtores de soja estão bem retraídos com esse patamar de preço em Chicago. "Os agricultores lá também avaliam que o preço tem que subir. Eles estão com mais descontos de frete em seus preços, por conta de problemas logísticos com furacões", relata Monte.