Redação (30/09/2008) – A grave crise mundial, que teve ontem seu ápice, já está provocando reflexos na economia mato-grossense. A mais visível é a vertiginosa queda no preço da soja, cuja saca caiu de US$ 22,50 para US$ 16,80, o que representa uma desvalorização de 25,3% em menos de 15 dias.
A depressão sobre a cotação da commodity é resultado das baixas registradas na Bolsa de Chicago (Cbot), esta provocada pela saída de investidores dos negócios e pelas inseguranças estabelecidas pelo atual contexto. Somente no pregão de ontem, a saca perdeu 65,75 pontos em Cbot, o que em cifras representa perdas de US$ 1,44 por cada 60 quilos do grão. A baixa reduziu a cotação ao menor patamar registrado para nova safra, os US$ 16,80.
Porém, as más notícias que parecem estar longe do fim para o segmento revelam outros efeitos diretos para o sojicultor mato-grossense que está em campo cultivando a nova temporada, a safra 08/09. Com as perdas do mercado de ontem, o produtor acumula prejuízo de US$ 110 por hectare, já que a saca atingiu cotação de US$ 16,80, enquanto o custo de produção está entre US$ 19 e US$ 20, ou US$ 950 por hectare.
“As perdas são sem dúvida reflexos da crise norte-americana, mas temos de lembrar que o segmento vem sendo atingido por uma série de fatores externos. Essas perdas refletem também os custos de produção que tiveram seus valores influenciados pelo momento de euforia do mercado, no qual os fertilizantes em 12 meses triplicaram os preços, e agora, na hora de comercializar a saca no mercado futuro, há a depressão”, explica o diretor-executivo da Associação dos Produtores de Soja e Milho do Estado (Aprosoja), Marcelo Duarte Monteiro.
Duarte frisa: “hoje se perde dinheiro e o produtor, por saber disso, não está vendendo e, mesmo que quisesse vender, não teria para quem ofertar. O pânico que se estabeleceu no mercado aponta a cada dia para mais uma safra de prejuízos, pois o nervosismo está derrubando as commodities, as Bolsas, e traz muitas incertezas, pois não sabemos até onde a crise pode avançar”, avalia.
A crise do sistema financeiro dos Estados Unidos não podia chegar em pior momento para os produtores brasileiros que se prepararam para a nova temporada agrícola, especialmente para os sojicultores mato-grossenses que estão em pleno cultivo e vêem as suas chances de obter rentabilidade mais longe do que nunca. Como resume o superintendente do Instituto Mato-grossense de Economia Agrícola (Imea), órgão ligado à Federação da Agricultura e Pecuária do Estado (Famato), Seneri Paludo, “a única certeza que o momento nos revela agora são as incertezas!”, exclama.
Duarte lembra que as incertezas em geral são provocadas por um efeito cascata. A crise afugenta os investidores. Os fundos de investimento que estavam ajudando a sustentar a euforia das cotações foram os primeiros a sair de cena. “Neste momento, os investidores saíram de suas posições, ou para focar em algo mais sólido ou para cobrir perdas em outras aplicações, e isso faz com que a soja vá acumulando perdas”.
O diretor da Aprosoja/MT destaca que apesar do momento, não é hora para pânico. “O produtor deve ter cautela, fazer contas e criar estratégias para ultrapassar esse período de volatilidade, de sobe e desce. O produtor precisar conhecer o seu limite e vender quando achar que está seguro. A estratégia deve ser conservadora”.
FUTURO
A incerteza generalizada sobre a reprovação pelo Congresso do pacote norte-americano anticrise de US$ 700 bilhões levou a taxa de câmbio para seu valor mais alto desde setembro de 2007. Mesmo com a reação da moeda utilizada pelo agronegócio, Paludo explica que o mercado futuro – aquele em que o produtor vende a soja que ainda vai plantar para entrega pós-colheita como forma de segurar bons preços – não está acontecendo no Estado, pois “as incertezas estão freando negócios. Muita água ainda deverá passar por baixo da ponte e todo mundo espera para ver o que vai ocorrer a seguir”.