Redação (26/09/2008)- O Brasil tende a continuar dependente da importação de três dos principais insumos para a produção de fertilizantes, pelo menos no médio prazo, na avaliação do diretor de Mineração e Projetos da Bunge, Vicente Humberto Lobo Cruz.
Em 2007, segundo o executivo, o Brasil passou a ocupar a quarta colocação entre os maiores consumidores de fertilizantes do mundo, mas com uma participação de apenas 2% da produção mundial. Neste mesmo ano, as importações representaram 74% do suprimento brasileiro. Por outro lado, o País é o que vem apresentando maior taxa de crescimento no consumo mundial de nutrientes, de 7% ao ano entre 1990 e 2007; enquanto as taxas mundiais situaram-se em 1% no mesmo período.
Lobo destacou que os picos de preços observados a partir de julho de 2007 foram motivados pelo grande crescimento da demanda em nível mundial, mesmo em tradicionais países exportadores como a China e os Estados Unidos. Da mesma forma, foram registrados aumentos nos impostos de exportação destes países e também nos custos de produção de fertilizantes como petróleo, enxofre, amônia e rocha fosfática, sem contar os gastos com frete.
Em palestra realizada ontem no 5º Congresso Brasileiro de Minas a Céu Aberto e Subterrânea, promovido pelo Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram), Vicente Lobo apontou que as principais indústrias brasileiras têm investido na ampliação da produção de rocha fosfática, considerada a única fonte de fósforo economicamente viável para a produção de fertilizantes fosfatados. Ele explica que no cenário atual, o Brasil produz 49% da necessidade de fósforo e depende da importação do restante. Sem novas expansões, a produção interna atenderá apenas 35% da demanda em 2014. No entanto, novas ampliações permitirão que o País reduza a dependência externa e passe a produzir 65% do total demandado dentro de sete anos.
A própria Bunge já anunciou aportes de US$ 120 milhões na ampliação da produção em Araxá (MG), que deverá atingir 1,65 milhão de toneladas/ano, a partir de 2010. Outro projeto em andamento é de uma planta em Anitápolis, em Santa Catarina, a partir de uma joint venture com a norueguesa Yara e o da chamada Serra do Salitre, localizado em Patrocínio (MG), com investimentos da ordem de R$ 2 bilhões, para a produção de 2 milhões de toneladas de rocha, com início de operações previsto para 2011.
Enquanto em todo o mundo a demanda por rocha fosfática tende a crescer 2,4% ao ano entre 2006 e 2016, na América Latina o crescimento previsto é de 4% ao ano no mesmo intervalo. Por outro lado, a produção ainda é concentrada. Neste ano, apenas dez países foram responsáveis por 90% do total produzido, com destaque para os Estados Unidos e China.
Em contrapartida, o País tem grandes limitações à ampliação de investimentos para a produção de potássio, no qual a importação responde por 91% do consumo. "O Brasil possui apenas uma mina em operação e uma reserva localizada na Amazônia, cuja extração não é economicamente viável", apontou o executivo. A tendência, segundo ele, é que a dependência histórica brasileira das importações volte ao patamar de 94% verificado nos anos 90. A alternativa que vem sendo buscada pelas empresas brasileiras é a prospecção de reservas na região da Patagônia, na Argentina.
Por fim, no caso do nitrogênio, resultante do refino do petróleo, a tendência é de manutenção das importações, pelo fato de a produção ser dependente do fornecimento de gás natural. "Os investimentos em nitrogênio são proibitivos em função do preço", disse Vicente Lobo. Em 2007, o mercado externo respondeu por 75% do fornecimento do produto para o Brasil. Ele ressalta, porém, que as recentes descobertas de reservas de gás natural na Costa brasileira poderão minimizar os efeitos deste quadro, mas apenas a "longo prazo".