Redação (09/09/2008) – Os custos de produção passaram a corroer a renda dos produtores nos últimos anos. Fertilizantes, agroquímicos e biotecnologia estão sendo os grandes freios do rendimento no campo, que já sofre os efeitos da desaceleração do dólar, base da comercialização dos produtos brasileiros.
Para implementar as atividades do agronegócio e assegurar melhores ganhos aos produtores, um grupo de 21 cooperativas do Paraná está se unindo e formando um consórcio de cooperação mútua.
Investimentos, pesquisas e desenvolvimento de novas técnicas agrícolas e de comercialização estão entre os objetivos comuns dessas cooperativas, segundo informações obtidas pela Folha.
Esse movimento das cooperativas está em sintonia com as preocupações do governo, que diz que o agronegócio brasileiro é muito dependente de poucas empresas multinacionais, responsáveis tanto pelo fornecimento de insumos como pela compra e exportação dos grãos produzidos no país.
O ministro da Agricultura, Reinhold Stephanes, já chegou a acusar a existência de cartel em alguns setores do agronegócio. Na avaliação dele, que já foi secretário de Agricultura do Paraná, o país deve buscar uma maior produção interna de insumos, reduzindo a dependência das importações.
Alta, o estopim
O consórcio, que terá o nome de Coonagro (Consórcio Nacional Cooperativo Agropecuário) e deve ser criado oficialmente neste mês, espera a entrada de novas cooperativas no futuro.
O estopim na formação desse consórcio foi a forte aceleração dos preços dos fertilizantes, que tiveram alguns componentes dobrando de preço nos últimos 12 meses.
Mas o consórcio não quer se limitar apenas a fertilizantes e deverá coordenar e desenvolver métodos de aquisição, formulação, fabricação e comercialização de vários insumos agrícolas.
Para aumentar escala e diminuir custos, o Coonagro fará também mão dupla no comércio externo. Ao mesmo tempo em que exportará produtos de origem das cooperativas, fará importações diretas de defensivos agrícolas e outros insumos utilizados pelos produtores.
A união dessas cooperativas dará também ao grupo escala para aquisição e desenvolvimento de produtos de biotecnologia.
Além de produtos específicos para o plantio e desenvolvimento de lavouras, o consórcio se voltará também para o fornecimento de produtos destinados ao uso veterinário, devido à forte presença de produtores de carnes em algumas das áreas das cooperativas.
O consórcio vai atuar, ainda, em um dos pontos de estrangulamento do agronegócio, o de logística e de transportes. A operação conjugada do grupo deve facilitar as operações e reduzir custos nas movimentações internas e externas.
Para agilizar essas ações, principalmente pelo ineditismo de algumas operações, o consórcio pretende firmar convênios com entidades públicas ou privadas para melhor atingir os objetivos.
Um dos pontos fortes dessa união das cooperativas deve ser a busca de crédito para as operações financeiras, industriais e de comercialização do grupo, além do fornecimento de crédito aos produtores.
Poder de barganha
Ao ganhar corpo, o grupo terá maior poder de barganha na obtenção desses recursos, tanto com empresas nacionais como estrangeiras. O consórcio tem ainda, entre os objetivos, trazer investimentos de risco para as operações do grupo.
Essas parcerias, feitas com empresas nacionais ou estrangeiras de fôlego, colocariam o consórcio na produção de insumos utilizados pelo setor.
As 21 cooperativas que participam do consórcio são responsáveis por 60% do faturamento dessas entidades paranaenses. O faturamento total das cooperativas paranaenses deve atingir R$ 20 bilhões neste ano.
As 21 cooperativas que formarão o Coonagro criarão uma 22ª cooperativa, que administrará o consórcio.
Após a forte aceleração dos preços, os insumos são os principais fatores de pressão no bolso dos produtores atualmente, representando 70% dos gastos totais com a lavoura.
Entre as maiores pressões estão os fertilizantes, que representam 25% do custo total das lavouras de milho no Paraná. No caso do trigo, o percentual é de 22%; no da soja, 20%.