Redação (01/09/2008)- A economia brasileira continua "altamente vulnerável" aos fluxos do capital financeiro internacional, de acordo com um relatório divulgado na terça-feira (26-08) pela consultoria britânica Economist Intelligence Unit (EIU).
"O alto nível da dívida pública do Brasil (50% do PIB) e o fato de que deve rolar cerca de um quarto da sua dívida doméstica todo ano significa que o país continua altamente vulnerável a mudanças nos sentimentos dos mercados internacionais de capital", afirma a consultoria no documento sobre as perspectivas para a economia mundial de 2007 a 2011.
A EIU alerta especificamente para o risco de uma crise de câmbio, que poderia ser provocada por uma fuga de capitais em busca de investimentos mais seguros se houver uma elevação da taxa de juros no Japão e na Europa.
Para a consultoria, embora deva continuar sendo "um dos mercados mais atraentes" para investidores em busca de grandes retornos, o país é especialmente vulnerável a uma diminuição da liquidez global por concentrar grandes quantidades de capital especulativo.
A consultoria projeta, no entanto, que a redução das taxas de juros deverá estimular investimentos – "baixos mesmo em comparação com outros países latino-americanos" – e, especialmente, o consumo no Brasil.
No caso das exportações brasileiras, a EIU prevê que um menor crescimento da demanda em 2007 devido ao crescimento mais fraco nas economias mais desenvolvidas, mas que deverá se recuperar em 2008.
Mantega
O governo argumenta que o Brasil não está mais tão exposto a choques externos. Em visita a Londres, na segunda-feira, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, disse a investidores que o Brasil nunca dispôs de condições tão favoráveis ao crescimento e citou como exemplo a reduzida vulnerabilidade externa, a inflação sob controle e a redução gradual da proporção entre dívida e PIB.
Na mesma ocasião, o ministro disse não temer uma desaceleração mundial. “Mesmo se houver problemas externos não seremos atingidos tão fortemente”, disse Mantega.
Para a EIU, 2007 deverá ser de fato menos favorável do que o "excelente" ano de 2006 para mercados emergentes, como o Brasil.
A consultoria prevê um crescimento entre 3,2% e 3,6% para o Brasil nos próximos cinco anos – "significativamente mais forte do que a média histórica de 2,5%", mas "modesto pelos parâmetros de outros gigantes emergentes, especialmente na Ásia".
Durante a visita a Londres, o ministro Guido Mantega rejeitou a comparação, já feita por vários outros analistas, do Brasil com Índia e China, argumentando que o país não precisava crescer no mesmo nível em que esses países porque conta com um mercado interno e um processo de industrialização em estágios mais avançados.
Na avaliação da EIU, são esses países, entretanto, que continuarão a liderar a economia mundial que, na previsão da consultoria, passará por um período de crescimento sustentado inédito desde a Segunda Guerra Mundial.
"A economia mundial vai se expandir a uma taxa de 4,7% no período analisado (2007 a 2011). Esse desempenho é ligeiramente melhor do que os cinco anos anteriores e reflete o peso crescente na economia mundial de mercados emergentes dinâmicos. Índia e China, em particular, estão ajudando a levantar a economia global", afirma o relatório.
Enquanto o mundo deverá crescer 4,8% em 2007 e 2008, a América Latina deverá crescer 4,2% e 3,9%, respectivamente, de acordo com as projeções da consultoria.
Os analistas da EIU colocam o Brasil entre os países latino-americanos que, "em contraste ao populismo andino" (referência aos governos de Venezuela, Bolívia e Equador), implementaram políticas que elevaram a credibilidade geral da região. Por outro lado, o relatório cita o exemplo da dívida pública brasileira para sustentar que "o risco de uma crise financeira na região ainda é real".
Quanto aos juros nos Estados Unidos, a EIU prevê que o Federal Reserve, o banco central americano, demore um pouco mais para baixá-los da taxa atual de 5,25% graças ao que a consultoria entende como boa resposta dos consumidores americanos.
O relatório prevê um corte de 0,75 ponto percentual apenas no segundo semestre do ano, para reagir à provável desaceleração, mas contempla a possibilidade de esse corte nem ser feito para afastar temores inflacionários.
Para o crescimento da economia americana, os analistas revisaram a previsão de 2% para 2,3%.