Redação (29/08/2008)- O presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado (Famato), Rui Ottoni Prado, se prepara para assumir no dia 28 de outubro a Câmara Setorial da Soja, entidade que acaba de ser criada no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) para canalizar os problemas da cadeia produtiva de soja e gerar subsídios para a formulação da política agrícola do governo federal.
“A criação desta Câmara era uma antiga reivindicação do setor”, afirmou Prado, que espera utilizar a ferramenta para “canalizar os anseios da cadeia de soja e contribuir para o equacionamento dos problemas que afligem o segmento em nível nacional”.
Antes mesmo de assumir o cargo, Rui Prado já começa a pensar os grandes problemas da cadeia da soja para definir as prioridades e linhas de ação na câmara setorial.
Um dos problemas identificados, segundo ele, diz respeito à logística de transporte. “A nossa logística é extremamente cara”, diz, citando como exemplo o caso de Mato Grosso, que tem um custo “a mais” de até R$ 120 por tonelada em relação ao Paraná, por exemplo. “Hoje pagamos entre R$ 160 a R$ 180 por tonelada de soja transportada ao Porto de Paranaguá, enquanto os paranaenses pagam em média entre R$ 40 e R$ 60/t”.
O problema do crédito oficial é outro gargalo que, na avaliação do presidente da Famato, precisa ser resolvido logo. “Temos sérias dificuldades para acessar ao crédito. Hoje este dinheiro não chega a atender 20% dos produtores de soja”. Ele diz que em cifras o crédito oficial para a soja disponibilizado em 2007 foi de R$ 4 bilhões para todo o país, “quando a nossa necessidade era de R$ 20 bilhões”. No caso de Mato Grosso, a necessidade para este ano é de R$ 6 bilhões somente para custeio da safra 2008/09. “Para se ter uma idéia, no ano passado foram liberados apenas R$ 500 milhões”.
Rui Prado diz que o endividamento também está na lista de prioridades que ele pretende levar ao ministro da Agricultura, Reinhold Stephanes. “Temos hoje uma dívida consolidada nacional de R$ 120 bilhões e o governo federal está anunciando que vai renegociar apenas R$ 78 bilhões. Em Mato Grosso, a dívida dos produtores chega a R$ 11 bilhões e as negociações talvez não cheguem a R$ 3 bilhões”.
ALERTA – O custo de produção também faz parte da pauta de reivindicações que a Câmara Setorial da Soja pretende encaminhar ao Mapa. “Só do ano passado para cá tivemos uma elevação de 40% nos custos para se produzir a soja”, conta Rui Prado, apontando os fertilizantes como o “grande vilão” desta alta ao produtor.
Segundo ele, nos últimos sete anos os adubos sofreram reajuste acima de 380%. Em 2008, os preços dos fertilizantes já acumulam alta de mais de 100%. “Os custos estão muito elevados para a nossa realidade e anulam a margem de lucro do produtor”, afirma. De acordo com os estudos da Famato, o custo variável para a produção de um hectare de soja é de US$ 1,05 mil, enquanto a rentabilidade está em torno de US$ 1,1 mil/hectare.
HOMERO – O deputado federal e presidente licenciado da Famato, Homero Pereira, diz que a escolha de Rui Prado para presidir a Câmara Setorial da Soja “é uma homenagem do ministro [Reinhold Stephanes] ao maior produtor de soja [Mato Grosso] e um reconhecimento do governo federal ao trabalho realizado pela Famato em favor da agricultura nos últimos anos”.
Para ele, a Câmara Setorial da Soja “é mais um desafio” que Mato Grosso assume visando o desenvolvimento da cadeia da soja. “Precisamos mostrar a importância da soja como alternativa para a crise mundial do alimento e, em nível nacional, a sua contribuição para ao Produto Interno Bruto (PIB), geração de empregos e agregação de valores”, destacou Pereira.