Redação SI (28/08/2008) – A competição entre alimentos e biocombustíveis é passageira. Em médio prazo, a pressão que a produção de energia limpa exerce sobre os preços dos alimentos tende a desaparecer.
Isso não significa, no entanto, que os preços agrícolas vão cair nos próximos anos. Eles atingiram um novo patamar e devem permanecer elevados por conta do aumento dos custos de produção, sobretudo dos fertilizantes.
De agora em diante, os preços das commodities agrícolas passam a acompanhar a cotação do petróleo. A conexão entre ambos os mercados é cada vez mais estreita e deve se intensificar nos próximos anos. “A forte conexão entre a produção agrícola e o preço do petróleo alçou os preços dos grãos a um novo patamar. Com os custos de energia em alta a tendência é que os preços agrícolas mantenham-se firmes por um bom tempo”, afirma André Nassar, diretor geral do Instituto de Estudos do Comércio e Negociações Internacionais (Icone).
Demanda forte – De acordo com Nassar, tanto a oferta de etanol de milho nos EUA quanto a de biodiesel na Europa estão no limite. O impacto destes dois biocombustíveis na formação dos preços dos alimentos deve inibir o aumento de sua produção. “O programa de etanol dos EUA chegou ao seu teto e não deve haver aumento da demanda de milho para produção de biocombustível”, pondera.
O programa europeu de biodiesel também está no seu limite, afirma o especialista. “Os europeus estão começando a se dar conta de que seu modelo não é sustentável economicamente. Então eles não vão deixar a mistura de biodiesel aumentar, basicamente para não puxar ainda mais os preços agrícolas para cima”, afirma.
O fato é que tanto na Europa quanto nos EUA a demanda por combustíveis limpos é crescente. Na União Européia, embora o uso de matérias-primas pouco eficientes, não sustentáveis e competidoras com os alimentos seja alvo de severas críticas, ainda é crescente a demanda por óleos vegetais para biodiesel.
No continente as taxas de importação em vigor favorecem a importação de oleaginosas e inibem a de etanol. Segundo Nassar, a questão que se impõe no caso europeu é se o etanol vai ganhar importância num mercado cuja frota de carros é voltada para o uso do diesel.
Os EUA vivem situação é semelhante. Para se ter uma idéia, há dois anos a produção americana de milho para etanol foi de 54 milhões de toneladas. Já em 2007, esse número saltou para 79 milhões e, para este ano, a previsão é de um cultivo de 102 milhões de toneladas para esta finalidade. Nos EUA, as importações de etanol ainda são marginais por conta de tarifas muito elevadas. “A questão central aqui é: os americanos vão reduzir a tarifa de importação do etanol para conter os altos preços dos grãos?”, indaga Nassar. Segundo ele, a cotação do milho no mercado mundial vai depender da tarifa imposta pelos EUA à importação de etanol. Se o governo americano reduzir o imposto, o preço do cereal cai. Caso contrário, não.
Para o diretor do Icone, o Brasil reúne todas as condições para tornar-se um fornecedor mundial de etanol. “Para tanto, porém, o Brasil terá que comprovar no mercado internacional a sustentabilidade ambiental e social de seu etanol”, afirma Nassar.