Redação (22/08/2008)- A mudança para a condição deficitária reflete o aumento no preço de commodities como os grãos, entre os quais a soja.
Mas também coloca sob uma luz interessante a postura da China nas negociações malsucedidas do mês passado sobre o comércio global.
Naquele processo, o governo chinês, cada vez mais preocupado com garantir seu fornecimento de comida, ficou ao lado da Índia e contra os EUA ao defender a aprovação de um mecanismo de defesa para proteger os agricultores de países em desenvolvimento ameaçados pela eventual invasão de produtos importados.
Segundo a Global Trade Global Trade Information Services Inc (GTIS), a China registrou um déficit de 5,78 bilhões de dólares na balança dos produtos agrícolas, na primeira metade deste ano, contra um superávit de 2,45 bilhões de dólares um ano antes. O valor dos produtos importados elevou-se 72 por cento, ao passo que o dos exportados subiu apenas 12 por cento.
A GTIS fornece e analisa dados sobre o comércio internacional.
As informações dizem respeito ao desempenho do mercado nas categorias de 1 a 24 do sistema harmonizado (HS), usado internacionalmente para classificar os produtos. Essas categorias incluem derivados de animais, derivados de vegetais e alimentos, entre os quais ração para bichos e comida para pessoas.
Naquele período, as importações dos EUA, maior fornecedor de produtos agrícolas da China, quase dobraram de tamanho. As vindas do Brasil elevaram-se 95 por cento e as da Argentina, 132 por cento — esses são os dois próximos maiores fornecedores dos chineses.
Mas as exportações para o Japão, maior consumidor dos alimentos vindos da China, diminuíram 12 por cento. Mas aumentaram 13 por cento as exportações para os EUA.
Dados da Organização Mundial do Comércio (OMC), que mensuram o comércio de alimentos utilizando uma metodologia um pouco diferente, mostram que a China registrou um superávit na balança comercial de produtos agrícolas de 2000 a 2007. A única exceção deu-se em 2004, quando o país asiático verificou um pequeno déficit, de 0,2 bilhão de dólares.
O superávit dos chineses nessa área atingiu o pico de 6,4 bilhões de dólares em 2004, mas ficou em apenas 0,9 bilhão em 2008, ano em que o preço dos alimentos começou a subir.
O tamanho em si do comércio de alimentos na China transformou o país, em 2006, quando ainda tinha um superávit de 5 bilhões de dólares, no quarto maior exportador desse tipo de produto no mundo, atrás apenas da União Européia (UE), dos EUA e do Brasil, e no quarto maior importador, atrás da UE, dos EUA e do Japão, mostraram dados da OMC.
Desde então, a China sofreu uma deterioração clássica no setor comercial, e o preço dos alimentos importados elevou-se muito mais rapidamente do que o preço dos exportados.
Em termos de valor, os principais produtos agrícolas importados pela China são grãos e cereais, soja e óleos comestíveis. Já seus principais produtos de exportação incluem peixe e derivados de peixe, vegetais, grãos como o arroz, além de frutas e sucos de fruta.
O valor da soja importada nos primeiros sete meses deste ano elevou-se 118,6 por cento, atingindo 12,3 bilhões de dólares. Mas em termos de volume, a elevação foi de apenas 22,8 por cento (para 20,7 milhões de toneladas), mostraram dados oficiais da China.
O valor do peixe exportado aumentou apenas 9,5 por cento, para 2,88 bilhões de dólares, mas caiu 4 por cento em termos de volume (para 1 milhão de toneladas), revelaram aqueles dados.
Os gastos crescentes com os alimentos colocaram pressão sobre o governo chinês para adotar uma atitude protecionista no comércio de produtos agrícolas. E isso apesar de o país ter se beneficiado do sistema de livre comércio instalado pela OMC, entidade na qual a China ingressou em 2001.
O país asiático é hoje o segundo maior exportador mundial, ficando atrás apenas da Alemanha.