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Milho: morro abaixo até quando?

<p>Leia artigo de João Carlos Garcia e Jason de Oliveira Duarte, pesquisadores da área de economia rural da Embrapa Milho e Sorgo.</p>

Redação (15/08/08)- Situação Mundial

Desde o início do mês de agosto, as cotações de milho iniciaram um movimento decrescente à medida em que dados mais atualizados sobre a safra de milho nos Estados Unidos iam sendo disponibilizados. No dia 11 de julho, foram liberadas estimativas relativas à área plantada, considerando os efeitos das enchentes que ocorreram no início do plantio. Estas reavaliações indicaram um acréscimo da área plantada, fornecendo uma visão não tão dramática como a que vinha sendo explorada. Após este sinal, os preços começaram a cair, pois a situação não se apresentava tão ruim como a esperada.

Nesta mesma ocasião, os preços do petróleo iniciaram também um movimento decrescente. Com esta redução, os preços do etanol perdem sustentação e, conseqüentemente, os empreendimentos de produção de álcool a partir de milho somente se viabilizam a partir da redução dos preços do cereal. No dia 12 de agosto, o Departamento de Agricultura dos EUA liberou novas estimativas, alterando desta vez os parâmetros relativos aos rendimentos agrícolas, que foram aumentados em relação às estimativas anteriores e, se confirmados, serão os segundos maiores rendimentos médios obtidos nos EUA.

As condições das lavouras seguem melhorando e a avaliação da percentagem de lavouras em condição “boa ou excelente” vem aumentando em cerca de 1% a cada semana, atingindo agora 67%. O resultado final é que a produção de milho americana será a segunda maior da história, sendo cerca de 6% inferior à safra recorde do ano passado. Como esperava-se uma redução de 10%, a situação aparentemente é melhor do que a considerada anteriormente e, aí, os preços tinham mesmo que ser reajustados para baixo.

Com base nas novas estimativas e em revisões sobre a utilização de milho para diferentes finalidades, mantém-se a expectativa de uma grande redução nos estoques americanos de milho ao final da safra 2008/09 (embora não tão drástica como as previsões anteriores, passando para 28 milhões de toneladas em comparação com as 40 milhões de toneladas do fim do ano civil 2007/08).

Espera-se que a redução na produção seja parcialmente compensada pelo menor uso do milho diretamente na alimentação animal (em virtude do acréscimo no uso de resíduos da produção de etanol de milho) e devido à redução nas exportações (em um quantitativo superior a 10 milhões de toneladas, indo para cerca de 51 milhões de toneladas). Por outro lado, verifica-se o contínuo incremento no uso do milho para produção de etanol (que deverá chegar a cerca de 104 milhões de toneladas, aproximadamente o dobro do milho produzido no Brasil). As previsões de redução nas exportações americanas, embora muito inferiores às da safra anterior, estão pouco abaixo do verificado nos dois anos anteriores.

A expectativa de preços médios para o agricultor americano para a safra a ser colhida é, ainda, superior à do atual ano comercial. No curto prazo, o movimento de decréscimo de preços na Bolsa de Chicago representa um ajuste derivado da incerteza existente antes da divulgação das estimativas oficiais do Departamento de Agricultura. Agora, com o quadro completo, é possível uma melhor estimativa dos preços futuros e, caso fatores climáticos desfavoráveis não se verifiquem até a colheita, um patamar referencial deverá se estabelecer. Após a divulgação das informações, já se verificam três dias de crescimento dos preços do milho em Chicago. O problema é o ajuste fino: até que as informações sejam processadas, os corretores fazerem suas apostas e o novo patamar de preços ser delineado.

Por falar em fatores climáticos desfavoráveis, a demora no plantio do milho nos EUA levou a que as lavouras se encontrem em um estágio atrasado em relação ao normal. Existe a possibilidade da colheita ser afetada pelo início do inverno, afetando a produtividade. A conferir.

Nos outros países, as condições se mostram favoráveis. Na Comunidade Européia, espera-se uma recuperação da produção de milho em relação à safra passada, interrompendo um processo de redução na produção de milho que já se verificava há quatro anos. Países como a Hungria e a Romênia, que no ano passado foram afetados por problemas climáticos que reduziram a produtividade das lavouras, estão experimentando condições normais e boas expectativas de produção, reduzindo sensivelmente a necessidade de importações que se verificaram no ano passado (decréscimo nas importações de milho de 13 para 4 milhões de toneladas), o que pode afetar a situação do Brasil, que conta hoje com um excedente considerável de milho que necessita ser exportado.

Na Argentina, as estimativas iniciais são de uma redução na área plantada com milho em virtude dos preços elevados de fertilizantes (e em alguns casos a sua própria disponibilidade) e de uma elevação das áreas com soja, cujo peso dos insumos adquiridos é menor. Nesta cultura, o peso dos serviços mecânicos é maior, mas grande parte deles refere-se à amortização das máquinas, que de qualquer forma já são de propriedade dos arrendatários, que hoje se constituem no segmento mais importante da produção agrícola argentina. No caso do milho, os fertilizantes têm que ser adquiridos e implicam em desembolso de dinheiro.

A produção esperada de milho fora dos EUA para o ano agrícola 2008/09 deve crescer em cerca de 20 milhões de toneladas, após crescer cerca de 11 milhões de toneladas na safra 2007/08.

Situação Interna

No Brasil, o 11º levantamento da Conab foi liberado no início do mês de agosto. Na safra de verão de milho, as informações estão definidas e apenas se verificaram pequenos ajustes na produção esperada para o Sudeste, confirmando uma expectativa de produção de cerca de 40 milhões de toneladas e 9,5% acima da safra de verão do ano anterior. A safra do Nordeste é uma das maiores colhidas na região, cerca de 45% superior à safra do ano passado, decorrente de condições climáticas favoráveis e beneficiando o abastecimento interno.

No caso da safrinha, o levantamento não confirma as notícias pessimistas sobre possíveis quebras de produção em decorrência de geadas que ocorreram no Paraná e indica, inclusive, um acréscimo na produção de aproximadamente 800 mil toneladas em relação ao levantamento anterior. Este acréscimo é decorrente da maior produção obtida em Mato Grosso, com um reajuste em relação ao 10º levantamento, que indicava 700 mil toneladas. A safrinha deste ano no Mato Grosso foi realmente excepcional: 17% de acréscimo de área, 20% de acréscimo de produtividade e um resultado final 40% superior à safra do ano passado. Hoje o Mato Grasso é o segundo maior produtor de milho no Brasil, a partir principalmente da colheita do milho na safrinha. Considerando-se o “estoque” representado pela área plantada com soja no estado (e o possível ajuste a ser feito no sentido do plantio de uma área um pouco maior com variedades de soja precoces) e o menor uso de fertilizantes, esta época de plantio tem condições de contribuir ainda mais para o abastecimento interno de milho nos próximos anos. A sustentabilidade desta produção tem sido cada vez mais assegurada pelo aumento da produção de aves, suínos e bovinos confinados na região Centro-Oeste, além da melhoria das condições de transporte ferroviário. De certa forma, isto tem sustentado os preços e evitado que eles caiam a níveis reduzidos, como acontecia em condições semelhantes em anos passados.

A produção total esperada agora é de cerca de 58,4 milhões de toneladas, 13,8% superior à safra de 2006/07. No caso da região Sul, o crescimento da produção no Paraná e em Santa Catarina compensou, com folga, a redução na safra gaúcha de milho e fornece uma boa garantia para o abastecimento interno.

Uma vez que as perspectivas da safra são favoráveis, as preocupações passam para o lado da comercialização, de forma a evitar que a produção recorde obtida seja prejudicada por uma eventual redução dos preços. Para que isto não aconteça, as exportações são vitais para escoar o excesso de produção.

As previsões da Conab mantêm a expectativa de uma exportação de cerca de 11,5 milhões de toneladas de milho em condições de serem exportadas (restando, inclusive, um estoque de passagem de cerca de 9 milhões de t, após os efeitos sobre a produção da safrinha).

Os dados referentes às exportações de milho no mês de julho não são animadores. A quantidade exportada foi semelhante à do mês de junho e muito inferior à de julho de 2007 (menos 650 mil toneladas). O total acumulado do ano é 700 mil toneladas inferior ao acumulado até julho de 2007 (isto apesar do preço em dólar estar superior ao verificado no ano passado).

O ritmo das exportações terá que ser acelerado para atingir o quantitativo desejado. Como já vimos, as necessidades de importação de milho pelos tradicionais importadores podem ser menores do que as verificadas no ano passado. A maior redução esperada deve ocorrer nos países da Comunidade Européia, cujas preferências por milho não-transgênico favoreceram as exportações brasileiras no ano passado, por meio de um excelente sobrepreço. Em que medida as necessidades européias e o efeito da menor disponibilidade de milho para exportar, nos EUA, afetarão o mercado internacional será melhor determinado nos próximos meses.

Em decorrência da safra, e principalmente da época do ano (concentração da colheita da safrinha), os preços internos têm se mostrado em queda. Desde meados de julho, os preços de milho em praças representativas têm se mostrado em queda. Nos últimos 30 dias, as  quedas mais acentuadas se verificaram (como era de ser esperado, em decorrência da colheita da safrinha) no Mato Grosso. Já no Rio Grande do Sul, a queda é menos acentuada. Após o término da colheita no Mato Grosso, os preços devem se estabilizar e as condições de demanda para atendimento às compras de aves e suínos na época do Natal definirão o ritmo dos preços.

Do lado da demanda por milho, o crescimento da produção de aves segue firme. Segundo o Avisite, as exportações de aves no primeiro semestre de 2007 cresceram 19% em relação ao mesmo período de 2007 (o crescimento em valor foi de 57%, o que tem ajudado a referendar os preços mais elevados de milho). Nos sete primeiros meses do ano, a receita com exportação de carnes foi 36% superior à do mesmo período em 2007 e dos quatro principais tipos (aves, suínos, bovinos e perus) a quantidade exportada foi 3% superior, com redução na quantidade apenas da carne bovina. Isto indica condições muito favoráveis para o setor exportador de carnes, com reflexos no mercado interno e sinalizando um mercado firme para o resto do ano.

Este cenário é crucial para a definição, pelos agricultores, da área a ser plantada com milho a partir de agora. Os preços estão favoráveis, mas a grande modificação em relação à safra passada são os custos de produção. Preços coletados em maio pelo Instituto de Economia Agrícola de São Paulo indicam um forte crescimento dos preços de fertilizantes (quase 90% nos formulados) em relação ao mês de agosto de 2007, embora o custo de outros insumos, como defensivos, sementes e diesel, não tenham se elevado em igual magnitude ou mesmo tenham se mantido estáveis.

O problema é que os fertilizantes têm alto peso na composição dos custos de produção de milho. Desta forma, um planejamento cuidadoso da tecnologia a ser utilizada tem que ser efetuado para esta safra, embora os preços do milho estejam favoráveis. O estabelecimento de talhões nas lavouras, que serão analisados separadamente (fertilidade de solo, incidência de ervas etc.) e em decorrência desta análise receberão diferentes tratamentos (frente às suas necessidades de adubos e defensivos), é um bom início para o estabelecimento de um gerenciamento da produção, evitando-se o uso de “pacotes tecnológicos” homogêneos para toda a lavoura.