Redação (08/08/2008)- O propósito é compreender melhor como são as fazendas pelo mundo através de comparações. Para tanto, as instituições parceiras adotam metodologias comuns.
Informações microeconômicas da produção brasileira de grãos passam a ser comparadas com as de outros 14 países: França, Hungria, Alemanha, Itália, Suíça, Dinamarca, Reino Unido, Polônia, Ucrânia, Canadá, Estados Unidos, África do Sul, China e Malásia. A partir de análises, é possível apresentar o Brasil sem estereótipos, com informações técnicas atualizadas.
O método de coleta recomendado pela entidade que coordena o projeto, o IFCN, é o Painel, que consiste em reunião com grupo de até 10 produtores para a composição de uma propriedade típica de cada região visitada. Além do inventário da propriedade, são coletados quantidades utilizadas de insumos e os preços pagos localmente por produtores. Os dados do Brasil têm sido levantados por pesquisadores do Cepea, com apoio financeiro da CNA.
No caso da produção de soja, a comparação tem sido feita entre o Brasil, Argentina e Estados Unidos. Para as comparações sobre a safra 2006/07, do Brasil, foram enviadas informações sobre propriedades típicas do Paraná, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e de Goiás.
De Mato Grosso, foi destacada como fazenda típica de produção de soja uma propriedade de 1.300 ha de área agrícola (BR-1300, MT), que no verão cultiva 100% da área com soja e, no inverno, 25% com milho safrinha – o restante não tem aproveitamento comercial. No Paraná, a propriedade típica submetida para comparações internacionais tem 169 ha (BR-169, PR), cultiva 80% desta área com soja no verão e os 20% restantes, com milho; no inverno, 80% é de milho. Em Goiás, a propriedade típica tem 480 ha (BR-480, GO), com 100% da área ocupada com soja no verão e 31% com milho no inverno – o restante não é usado comercialmente.
Comparação entre retorno dos produtores coloca brasileiro em situação difícil
Entre todas as propriedades analisadas (dos três países) na safra 2006/07, o maior custo operacional foi verificado no Brasil, na propriedade do Paraná, onde produzir um hectare de soja custou US$ 438,00 na safra 2006/07. Na seqüência, estão: a fazenda de Iowa, nos Estados Unidos (US-700, IA), com US$ 366,00/ha e a de Mato Grosso (BR-1300 – MT), com US$ 332,00/ha. Já os menores custos operacionais foram registrados na Argentina, na província de Buenos Aires, com US$ 150,00/ha (AR-2300, BAr) e com US$ 227,00/ha (AR-50000, BAr).
O terceiro menor custo operacional ficou para o estado de Goiás (BR-480, GO) e para Dakota do Norte (US-3050, ND), ambos com US$ 291,00/ha.
Considerando somente o custo operacional, a produção de soja na Argentina está muito à frente da brasileira. O custo de produção daquele país é favorecido em três aspectos em relação ao o Brasil: baixo uso de fertilizantes, baixo custo com os herbicidas e incidência reduzida de doenças – não há grandes infestações de ferrugem asiática.
A principal vantagem competitiva da produção argentina diante da brasileira é a alta fertilidade do solo, que implica o uso reduzido de adubos químicos. Em algumas propriedades, esse insumo sequer é utilizado e, noutras, seu custo chega ao máximo de US$ 17,00/ha. Em situação bem diferente, os brasileiros investem uma grande parcela do capital em fertilizantes, gastando de US$ 63,00/ha, no Paraná, a US$ 79,00/ha, em Mato Grosso. Nos Estados Unidos, o dispêndio com fertilizantes vai de US$ 18,00/ha em Dakota do Norte a US$ 78,00 em Iowa.
Os gastos com herbicida na Argentina na safra 2006/07 foram apurados em cerca de US$ 29,00/ha. No Brasil, são de aproximadamente US$ 75,00/ha, no Paraná, e de US$ 53,00/ha, em Mato Grosso. Quanto a doenças e pragas, os argentinos e os norte-americanos não apresentaram gastos significativos. No entanto, nas lavouras do Brasil, foram registrados custos com controle de pragas e ferrugem asiática de US$ 65,00/ha, em Mato Grosso, a US$ 72,00/ha, no Paraná.
Em relação às propriedades típicas dos Estados Unidos, os argentinos apresentaram vantagem somente no que diz respeito aos fertilizantes, pois os gastos com herbicidas são semelhantes. No caso de fungicidas e inseticidas, os norte-americanos não apresentaram nenhum gasto, enquanto na Argentina despende-se de US$ 1,50/ha a US$ 3,00/ha.
Quando se analisa o custo total de produção da soja, incluindo-se o custo da terra, a depreciação das máquinas e outros custos fixos, verifica-se que a soja produzida no estado de Iowa, nos Estados Unidos (US-700, IA), demanda US$ 745,00/ha, seguida pela província de Buenos Aires, na Argentina (AR-2300B, BAr), com US$ 617,00/ha e pelo Paraná, no Brasil (BR-169, PR), com US$ 602,00/ha.
Embora a região de Iowa tenha apresentado na safra 2006/07 o maior custo total por hectare de soja, não é possível afirmar que esta foi a região menos competitiva. O indicador mais indicado para dar resposta sobre competitividade é o retorno por unidade monetária investida. A figura abaixo mostra que, mesmo com a região de Iowa apresentando o maior custo por hectare, teve um retorno positivo por unidade monetária investida. Para cada US$ 1,00 investido, o retorno foi de US$ 1,12, ou de 12%. Já as propriedades típicas de Dakota do Norte estão no vermelho, com retorno negativo entre 6 e 7%.
A propriedade típica da Argentina (AR-2300, BAr) apresentou o menor custo operacional, mas, com o custo da terra, teve o segundo maior custo por hectare e o pior retorno por unidade monetária investida. No Brasil, as propriedades típicas dos estados de MT e do PR também demonstraram retorno negativo, sinalizando que o investimento na atividade não está remunerando o valor da terra e a depreciação da infra-estrutura. Com efeito, a persistência desse cenário representa a falta de sustentabilidade do negócio. Entre as brasileiras, somente a propriedade de Goiás obteve retorno positivo, de 12%.