Redação (22/07/2008)- Antes mesmo de iniciado o plantio da soja da próxima safra, técnicos e produtores de Mato Grosso já acenderam o sinal de alerta para a presença da ferrugem asiática, uma das doenças mais temidas na sojicultura. A ferrugem que atacou as plantações do Estado na temporada 2007/08 pode resistir até o início do plantio do ciclo 2008/09.
O temor é explicado principalmente pelo atraso nas chuvas registrado na safra que terminou de ser colhida em junho. Como o fungo causador da doença alastra-se com mais facilidade em ambientes úmidos, foi criado o cenário para o sinal de alerta. "Em regiões em que a chuva normalmente concentra-se em abril, choveu até 1º de junho", afirma Luiz Nery Ribas, gerente técnico da Associação dos Produtores de Soja do Estado de Mato Grosso (Aprosoja).
O temor ganhou amplitude ao serem encontrados focos de ferrugem asiática neste mês, em plena vigência do vazio sanitário. Em três anos de adoção da "quarentena", é a primeira vez que são encontrados focos da doença nesse intervalo, segundo Ribas.
O vazio sanitário proíbe o plantio de soja em um intervalo de 90 dias. No Mato Grosso, esse intervalo começou em 15 de junho e vai até 15 de setembro. Os focos foram encontrados na chamada "soja guacha", planta que se desenvolve espontaneamente a partir de grãos que são deixados para trás na colheita da safra de verão.
"Já passamos de 30 dias de vazio e ainda há ferrugem. É um caso de urgência urgentíssima", afirma o técnico. Os dados foram recolhidos em mais de 50 pontos de coleta, distribuídos em 18 municípios de todo o Estado. Participaram do trabalho técnicos da Aprosoja, do Ministério da Agricultura, do Instituto de Defesa Agropecuária de Mato Grosso (Indea) e José Tadashi Yorinori, da Tadashi Agro, um dos maiores especialistas na doença no país.
O risco de a ferrugem resistir no vazio sanitário é que ela ataque as plantações mais cedo do que de costume. Segundo o Consórcio Antiferrugem, da Embrapa, na safra 2007/08, de 36 focos no Estado, apenas um foi registrado em dezembro. Os demais foram detectados em janeiro e fevereiro. Se a doença atacar mais cedo, a produtividade pode ser comprometida.
A infestação de lavouras bolivianas também preocupa. "O vento pode trazer a ferrugem para cá", diz Ribas. No Brasil, a ferrugem já causou perdas superiores a US$ 10 bilhões nas últimas seis safras.