Redação (07/07/2008)- A proposta de dimensionamento de um sistema de criação, abate e processamento de frango de corte para atender pequenos produtores da Venezuela, elaborada pela Embrapa Suínos e Aves (Concórdia/SC), está pronta. Esse foi o principal objetivo da visita de pesquisadores e técnicos da Empresa à Caracas, no final do mês de junho. O encontro ocorreu por intermédio do Instituto Nacional de Investigação Agropecuária da Venezuela (INIA) e pelo recém criado Escritório da Embrapa naquele país.
O sistema proposto pela Embrapa prevê o abate de 25 mil aves por dia e segue o modelo de criação de frango de corte utilizado em assentamentos da reforma agrária em Santa Catarina. O fundamento é a agricultura de base familiar e organizada em cooperativa de trabalho. De acordo com o técnico da Embrapa Suínos e Aves, Márcio Saatkamp, a proposta foi feita para ser adaptada ao processo de criação de duas granjas que já estão em
funcionamento no país, porém com problemas operacionais. “Essas granjas atenderiam a primeira etapa do processo, que é a criação e o fornecimento das aves aos abatedouros. Isso porque elas já têm estrutura e precisam apenas adequar o sistema”, explicou.
Outra sugestão da Embrapa é que a gestão do processo seja feita pelos próprios produtores, organizados em cooperativa. “A premissa desse sistema é justamente uma produção com otimização de recursos físicos e financeiros, com distribuição igualitária das sobras”, explicou Márcio.
A intenção da Venezuela, que hoje importa 70% de todo alimento consumido no país, é diminuir a dependência externa pelo menos na produção de frango de corte. A proposta elaborada pela Embrapa, para atender o projeto Incremento da Produção de Aves para Fortalecer a Segurança e Soberania Alimentar da Venezuela, pode auxiliar na redução de 2% da importação de carne de frango. Atualmente, o país importa cerca de 100 mil toneladas ao ano e tem uma produção interna de 800 mil toneladas, tudo para atender um consumo per capita de 35 kg/ano. “O objetivo é, na verdade, fortalecer a produção de pequenos agricultores e melhorar a oferta de proteína animal no país”, comentou o chefe de Comunicação e
Negócios da Embrapa Suínos e Aves, Cícero Monticelli. Para atender esse objetivo, a Venezuela designou ao projeto U$ 10 milhões.
Além do desenvolvimento deste projeto, o INIA pretende melhorar e ampliar suas pesquisas com aves. Para isso contam com a Embrapa. “Nossa experiência é muito importante para eles, que nos solicitaram auxílio na elaboração de estratégias para o reforço de pesquisa na Venezuela”, explicou Monticelli. O interesse maior é no fornecimento do material genético de aves coloniais. “A única criação que o país possui é de frango de corte comercial, importado por grandes empresas. Eles não têm produção própria”.Para a Embrapa Suínos e Aves a parceria com o INIA é entendida como uma grande oportunidade. “É a primeira vez que nossa tecnologia passa a fronteira do Brasil. Mais interessante ainda é que ela poderá atender um país latino, que têm como objetivo melhorar e fortalecer a agricultura de base familiar”, comentou Cícero.
“Estabelecer melhor esta parceria de transferência de tecnologia com países vizinhos será muito importante para o Brasil. E, para a Embrapa, um novo momento”, comentou o chefe-geral da Embrapa Suínos e Aves, Élsio Figueiredo. “O mundo se abriu e as empresas de tecnologia estão procurando espaço. O governo acredita na Embrapa e decidiu que podemos abrir as portas do mercado internacional para outras empresas brasileiras. Temos que levar nossa experiência de pesquisa e produção para adaptação em outros lugares”, finalizou ele. A negociação entre a
Venezuela e o Brasil está sendo coordenada pelo INIA e pela Embrapa Venezuela, escritório da Empresa instalado neste ano em Caracas.