Redação (10/12/2007)- O céu de brigadeiro para a soja mato-grossense poderá causar alguns dissabores aos produtores estaduais. A tendência de alta dos preços internacionais da commodity se mantém, e o melhor, firme no curto prazo. As cotações estão melhores a cada dia, comparando os preços fixados no mercado futuro de fevereiro até agora. Isso significa que o sojicultor que travou vendas antecipadas em fevereiro, por cerca de US$ 10 a saca, vai perder dinheiro. Cerca de 66% da safra está fixada em US$ 12, enquanto que os contratos mais recentes, ‘travados’ em novembro apresentam alta de 50%, pois obtiveram valores acima de US$ 17 e US$ 18.
Nesta semana, dependendo da região produtora, a mesma saca obteve no mercado futuro até US$ 19, ou seja, uma diferença de até US$ 9 dólares por saca. Vendas antecipadas são aquelas em que o produtor comercializa a produção antes mesmo de plantar e troca a soja por insumos para então iniciar a lavoura. Os contratos futuros vencem em no pós-colheita, geralmente entre fevereiro, março, abril e maio, dependendo de cada produtor e da região de cultivo.
Após três safras consecutivas ruins, os produtores de soja de um modo geral, especialmente os mato-grossenses, esboçam um certo otimismo perante a nova temporada. Porém, como aponta o presidente da Associação dos Produtores de Soja do Estado de Mato Grosso (Aprosoja), Glauber Silveira, há um temor de que este cenário positivo delineado para a soja, prejudique o cumprimento dos contratos futuros.
“Já vivemos uma situação adversa em 2004, quando os preços atingiram índices históricos e boa parte de nós, já havíamos travado preços para entrega futura. Muitos produtores se recusaram a entregar a soja pelos preços abaixo do mercado naquele momento. A quebra de contratos teve péssima repercussão para a sojicultura mato-grossense e por isso, nós, como entidade, estamos nos antecipando ao problema fazendo gestões junto à União e esclarecendo que a Aprosoja repudia qualquer ruptura de contrato”.
Silveira alerta ainda que “com todos os problemas de infra-estrutura que temos, de endividamento e os altos custos de produção, a única alternativa que o produtor tem de começar a plantar na data certa é comercializando sua produção no mercado futuro e para isso dependemos da nossa credibilidade lá afora, afinal, são os nossos compradores que nos financiam os insumos utilizados nas lavouras”.
A preocupação da entidade está calcada na seguinte realidade: cerca de 50% da produção da safra 07/08 – que está na reta final de plantio no Estado – foi comercializada por até US$ 12 para entrega no próximo ano. “Em 2004 vários produtores de estados diferentes romperam unilateralmente os contratos. O mercado futuro começou mais cedo neste ano e por isso estamos em alerta e a partir de janeiro a Aprosoja vai percorrer as principais regiões produtoras conscientizando cada um e apresentando as nossas alternativas para aliviar a diferença que houver”.
O presidente da entidade argumenta que a credibilidade é fundamental. “Hoje o mercado pode se mostrar desfavorável para quem ‘travou’ preços lá atrás. Mas, pode chegar o momento em que os contratos estarão firmados a US$ 12 e na hora da entrega do grão, as cotações estejam derrubadas para US$ 6, por exemplo, e ai, a outra parte pode se sentir no direito de não cumprir com o acordado”.
Conforme Silveira, dependendo do contrato, há quem possa deixar de ganhar com a oscilação positiva da cotação até US$ 700 mil.
A demanda mundial por alimentos e as perspectivas de que a oferta de produtos não vai acompanhar no mesmo ritmo sinaliza excelentes picos de mercado daqui para frente. “Se não fosse o dólar desvalorizado, nosso céu seria completo com a moeda norte-americana cotada a R$ 2,50, ao invés dos cerca de R$ 22,50 para saca, teríamos ela a R$ 30, uma diferença de cerca de R$ 6 entre o custo de produção de saca em relação ao valor do mercado. Nesta safra, segundo números da Conab, o custo de cada saca está em torno de R$ 24 na média Mato Grosso”.
ANTECIPAÇÃO
A Aprosoja redigiu um ofício endereçado à ministra da Casa Civil, Dilma Roussef, que deverá ser entregue nos próximos dias e que solicita a realização de leilões de soja para tentar equacionar os preços como o objetivo de garantir equilíbrio entre receita e despesa ao produtor, ou seja, que o preço final da saca, fique acima dos valores aplicados na produção do grão. Conforme a Aprosoja, a melhor data para a retomada dos leilões seria a partir do dia 15 de janeiro de 2008, pouco antes do início da colheita.
No documento, a Aprosoja reitera que a venda antecipada é uma forma de garantir os insumos à produção, já que a oferta de juros públicos mais baratos é restrita e burocrática. Ainda no documento, a Aprosoja ratifica que mais de 60% da safra está vendida de maneira antecipada a preços médios de US$ 12 por saca.
66% da safra de MT estão travadas no mercado futuro
De acordo com números da Agência Rural Commodities Agrícolas (AgRural), atualmente cerca de 66% da produção da nova safra estão comercializados no mercado futuro. A AgRural prevê uma área plantada de 5,59 milhões de hectares para uma produção de 16,78 milhões de toneladas. “No momento, além da pressão entre oferta e demanda no mercado mundial, temos um fator que está contribuindo para a valorização do grão a curto prazo: a entressafra”, explica o analista de mercado da AgRural, Daniel Sebben.
Na última sexta-feira, por exemplo, a soja estava cotada no mercado disponível – diga-se pronta-entrega – a US$ 21. “Temos um mercado firme com tendência de alta, isso muito influenciado pela entressafra. Caso não haja nenhum fator surpresa, a evolução positiva será observada até o final do ano”. Sebben frisa que entre o mercado físico e o futuro há hoje uma diferença de cerca de US$ 4, mas que durante a pressão de safra, na colheita, pode recuar para até US$ 2, mas é uma diferença considerável “quando estão em negociação milhões de sacas”, observa.
O analista explica que não há um limite ideal de comprometimento antecipado da safra, já que cada produtor tem um custo e uma necessidade diferente e ainda variável de acordo com a região produtora. “O correto é vender o suficiente para garantir insumos e uma rentabilidade mínima. Mesmo porque, até que a colheita se encerre, a estimativa de produção pode ser frustrada por fatores alheios ao produtor, como ataques de ferrugem, por exemplo, que vão reduzir a produtividade por hectare e consequentemente, a produção”.
O analista explica que tradicionalmente, produtores das regiões norte, médio norte e oeste são os que abrem a temporada de vendas antecipadas, mesmo porque, são os primeiros a plantar a nova safra brasileira da oleagionosa. “Para se ter uma idéia, 100% da região norte e oeste está com o plantio concluído, enquanto que no sul do Estado os trabalhos devem finalizar neste final de semana e no leste cerca de 90% da área está coberta com a soja. Por essa diferença, o plantio no Estado atingiu na semana passada 97% da área plantada”. Obedecendo ao comportamento dos produtores, fica explícito que os sojicultores das regiões sul e leste obtêm melhores cotações no mercado futuro, visto que entram mais tarde na negociação.
“Enquanto boa parte dos contratos no norte e oeste ficaram entre US$ 11,50 e US$ 14, no sul mato-grossense, por exemplo, a fixação salta em média de US$ 13/14 para até mais de US$ 17. Quem fixou em novembro, teve melhor preço”. Sebben destaca, no entanto, que 50% dos produtores do norte/oeste fixaram entre US$ 11,50 a US$ 14 e que cerca de 5% da produção do sul do Estado conseguiu fixar em preços acima de US$ 16.
Questionado sobre a antecipação das negociações futuras neste ano, iniciadas em fevereiro – ao invés de maio em diante -, o analista explica que houve um tripé que fomentou a precocidade do mercado. “Excelentes preços internacionais, alto índice de endividamento que reduz as possibilidades de o produtor obter juros mais baratos nas instituições públicas e o último e também muito importante fator, foi a lição dos anos anteriores. O produtor aprendeu a planejar a safra e aos poucos vai aproveitando os piques do mercado, comercializa a produção antecipada e garante preços mínimos à atividade”.