Redação (28/11/2007)- Um dos principais insumos de várias cadeias produtivas, o milho vai escassear, encarecer e inviabilizar muitas atividades do agronegócio brasileiro em 2008 e, o que é pior, o Brasil pode ficar sem ter onde comprar milho para suprir o abastecimento nacional segundo previsões do vice-presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Santa Catarina (Faesc), Enori Barbieri.
A seca no Brasil Central atrasou o preparo das lavouras e redução na produção. Para um consumo nacional de 40 milhões de toneladas, a safra principal deve produzir de 35 milhões a 37 milhões de toneladas. Para cobrir o déficit, o Brasil vai contar com a safrinha. Ocorre que, com o atraso no plantio da soja, também haverá atraso e possível redução de produção de milho da safrinha.
Por outro lado, o Brasil vai encerrar o ano em situação apertada: produziu 51 milhões de toneladas, consumiu 41 milhões e exportou 10,5 milhões. Tudo isso cria uma expectativa de escassez e de falta de produto em 2008.
A preocupação da Faesc é a seguinte: apenas dois países terão disponibilidade de milho no mercado mundial em 2008 – Argentina e Estados Unidos – e, ambos, com semente transgênica. A legislação brasileira proíbe a importação de transgênicos, o que deixará o país em uma sinuca. Ou muda a lei ou fica sem milho
A Faesc prevê uma produção na safra 2007/2008 de 3,5 milhões a 3,7 milhões de toneladas, com redução de 2% a 3% da área plantada, e uma produtividade média baixa de 60 sacos por hectare. Para cobrir esse déficit, o Estado fará importações do Paraguai, do Paraná e do centro oeste, especialmente Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Goiás.
Barbieri mostra que a repercussão desse quadro no preço do grão será imediata: o preço do milho será balizado pelo mercado norte-americano e não deve baixar de R$ 22 reais a 23 reais a saca o que representa uma alta de 44% considerando-se que, em 2007, o preço médio foi de R$ 16,00.
A escassez está sendo acentuada pela quebra da safra européia em cerca de 10 milhões de toneladas (o continente colherá somente 5 milhões das 15 milhões de toneladas previstas) e do processamento de 50 milhões de toneladas de milho para produção do etanol nos Estados Unidos.
A destinação do milho para fins energéticos criou um novo parâmetro de valoração. Como o milho e a soja viraram produtos possíveis de se transformar em etanol e biodíesel, o preço agora acompanha o petróleo que está em alta no mercado internacional. A crise do petróleo também está provocando inflação mundial no segmento alimentício, pois induz a transformação de produtos destinados a alimentação em energia. Por outro lado, a crise imobiliária americana tem levado investidores mundiais a abandonar bens imóveis e investir na bolsa de produtos agrícolas, aquecendo ainda mais o mercado de commoditties.
No plano interno, Barbieri expõe que a Faesc prevê um cenário de extrema dificuldade para produtores independentes de suínos em 2008 que ficarão restritos ao mercado doméstico e terão altos custos de produção, enquanto as agroindústrias ampliarão sua participação no mercado externo, que remunera melhor.
O milho deve continuar escasso no mercado internacional porque, em 2008, os Estados Unidos processarão 80 milhões de toneladas de milho para etanol e a tendência é, até 2015, processar 200 milhões. Em 2007 a produção norte-americana foi de 284 milhões de toneladas e, para 2008, a previsão é colher 338 milhões de toneladas de milho, dos quais 50 milhões serão exportados. Enquanto isso, o Brasil colherá 50 milhões de toneladas em 2008.
Enori Barbieri mostra que a opção americana pelo etanol não pode ser condenada porque não provocará falta do vegetal no planeta. Explica que do milho extraí-se o etanol, que é combustível, e a glicerina que atualmente é descartada. Entretanto, nova tecnologia em fase final de desenvolvimento vai transformar a glicerina em produto de alto valor protéico que será utilizado na alimentação animal em substituição ao milho.