Redação (13/09/07) – As exportações brasileiras de milho – produto que já obtém prêmio de US$ 100 por tonelada nas vendas para a Europa – dispararam. Entre janeiro e agosto, os embarques se aproximaram do volume recorde embarcado pelo país em um ano – 2001 – e também chegaram perto de US$ 1 bilhão, de acordo com dados do Ministério do Desenvolvimento Indústria e Comércio (MDIC). As vendas totalizaram 5,578 milhões de toneladas no período, com uma receita de US$ 916 milhões. No mesmo intervalo de 2006, o país exportou 2,4 milhões de toneladas, o que rendeu US$ 293,2 milhões. Em 2001, ano da exportação recorde, o Brasil embarcou 5,629 milhões de toneladas de milho.
Diante do avanço das vendas externas de milho – graças à demanda européia -, o Ministério da Agricultura já trabalha com a perspectiva de uma exportação entre 10 milhões e 11 milhões de toneladas do grão, afirma Sílvio Farnese, coordenador-geral da Secretaria de Política Agrícola. O último levantamento de safra divulgado pela Conab este mês mantém a previsão de 8,5 milhões de toneladas.
A explicação para a forte demanda pelo produto brasileiro – que elevou os prêmios para o grão – é a quebra de safra de milho e de trigo na Europa ocidental e leste europeu por causa de problemas climáticos. De acordo com Farnese, esse quadro levou os europeus a buscar o produto no Brasil, pagando prêmios elevados em relação ao Chicago.
Normalmente, a Europa pagava prêmio de cerca de US$ 7 por tonelada pelo milho brasileiro sobre Chicago pelo fato de o produto ser não-transgênico, diz Farnese. Mas a quebra na safra na região fez o prêmio mudar de patamar por conta da escassez de oferta.
E o ágio não pára de subir. Segundo Paulo Molinari, da Safras&Mercado, no fim de julho, enquanto o milho na bolsa de Chicago estava na faixa de US$ 160 por tonelada, o produto brasileiro saía por US$ 180 nos embarques para a Europa. Depois disso, Chicago caiu, mas o prêmio do milho brasileiro só fez aumentar, até chegar ao valor atual de US$ 100.
"A quebra na safra fez o milho atingir ? 240 a ? 260 por tonelada na Europa, o que equivale a US$ 350 por tonelada", diz Molinari. Nesse quadro, explica, os europeus se dispõem a pagar US$ 250 pela tonelada do produto em porto de Paranaguá para entrega em novembro, US$ 100 a mais que o preço em Chicago atualmente, na faixa de US$ 150.
O analista observa que o fato de o milho brasileiro ser não-transgênico continua sendo um fator de atração para os europeus. Por isso, mesmo a entrada da safra nos Estados Unidos não deve aliviar muito o quadro. "O mercado descolou dos EUA".
Ele acrescenta que os europeus não compram milho brasileiro apenas para a ração animal, mas também para a fabricação de farinha para substituir a farinha de trigo, cuja produção foi afetada por causa da quebra do cereal.
Com o prêmio atual, os preços do milho no porto de Paranaguá estão em R$ 27 por saca. E as cotações sobem em todo o Brasil. Em Campinas, já bateram os recordes de 2002, alcançando R$ 27 a R$ 28 por saca, observa Molinari.
A alta generalizada por conta da exportação – e também devido à maior demanda de milho para etanol nos EUA – fez o governo recorrer a um mecanismo que não utilizava há muitos anos, reconhece Farnese: o leilão de 1,4 milhão de toneladas de milho, até o fim do ano, de seus estoques oficiais no Mato Grosso para compradores de todo o Brasil. O primeiro pregão será hoje, com oferta de 100 mil toneladas de estoques, e o produto não poderá ser exportado. Já há outros dois pregões agendados: 20 e 27 de setembro. "Se houver apetite, continuaremos fazendo leilões", afirma Farnese.
Molinari considera que 100 mil toneladas semanais é pouco para atender o mercado e avalia que os prêmios europeus devem continuar estimulando a exportação
A alta da demanda doméstica também sustenta os preços, pondera André Pessôa, da Agroconsult. Ele cita como exemplo os novos confinamentos de boi no Mato Grosso.
Segundo Farnese, o quadro de oferta e demanda de milho indica que não deve faltar produto: a safra é de 51 milhões de toneladas, com estoque inicial de 5,3 milhões. Com consumo de 40,3 milhões e exportação de 11 milhões, sobra um estoque final de 5 milhões de toneladas.