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Consumo muda na Ásia e deve favorecer a América do Sul

<p>Mudanças nos hábitos de consumo alimentar e a redefinição de barreiras para proteger a produção agrícola local determinarão os rumos do comércio agrícola.</p>

Redação (21/08/07) –  As mudanças devem atingir especialmente os países da América do Sul e asiáticos, que apresentam os maiores índices de expansão agrícola no mundo e já respondem por 30% do PIB agrícola e 16% das exportações agrícolas globais. 

Essa é uma das conclusões de um conjunto de estudos liderado pelo Instituto de Estudos do Comércio e Negociações Internacionais (Icone) e realizado por institutos de nove países, que constituem a Asia Latin-America Agri-Food Research Network (Alarn). Os estudos revelam que como a China, outros países da Ásia mudarão seu perfil de consumo, o que afetará de modo significativo o comércio agrícola global. Ano a ano, esses países elevam mais as importações do que as exportações e tendem a manter uma grande dependência em relação aos países do Mercosul e Chile. 

André Nassar, diretor-geral do Icone, observa que nos países da América do Sul, o processo de urbanização já foi concluído e, por isso, a população consome alimentos mais diversificados e industrializados. Na América do Sul, diz, a população rural representa entre 7% e 17% da população de cada país, contra 36% a 72% em países asiáticos. "À medida que a população mais pobre migra do campo para as cidades e melhora sua renda, o consumo de produtos processados aumenta. Na China essa mudança já é clara, mas na Índia, por exemplo, ainda não é", diz. 

De acordo com dados do Icone, os países do sudeste asiático mais a China elevaram as exportações agrícolas em 65% entre 2000 e 2005, para US$ 87 bilhões. Mas as importações desses países subiram 88% no mesmo período, para US$ 77,7 bilhões. China e Filipinas já apresentam uma balança comercial agrícola deficitária, mas países como Índia e Tailândia importam em um ritmo mais veloz que exportam, o que leva os pesquisadores a crer que em poucos anos esses países também se tornarão importadores líquidos de produtos agrícolas . 

Os países do Mercosul e Chile, compara Nassar, elevaram as exportações em 89% entre 2000 e 2005, para US$ 66,4 bilhões. As importações recuaram 1% no período, para US$ 8,5 bilhões. "Esse aumento nas exportações ocorreu principalmente graças ao aumento das importações pelos países asiáticos", afirma Fabio Chaddad, pesquisador do Icone. Ele observa ainda que, países concorrentes na exportação agrícola, como Austrália e Estados Unidos têm restrições para expandir sua área plantada, o que também pode favorecer o comércio agrícola para os sul-americanos nos próximos anos. 

Nesse cenário, resta entre os países da América do Sul uma interrogação: saber que tipos de produtos os países da Ásia irão importar. Nos últimos anos, a China incrementou o consumo de carnes, mas optou pela importação de grãos para produção de ração animal em seu território. "No entanto, o país enfrenta problemas com a disponibilidade de água e terras. Certamente em um segundo momento importará carnes", afirma Nassar. 

Saulo Nogueira, pesquisador do Icone, ressalta a Índia como um dos potenciais importadores de grande porte. A cada ano, a importação de produtos agrícolas do país sobe16%, enquanto as exportações crescem 8%. "Hoje a Índia tem sua alimentação baseada no consumo de alimentos frescos porque a maioria da população não possui geladeira. Mesmo assim a demanda por carne cresce rapidamente", observa Nogueira. 

Na avaliação dos pesquisadores, países como Tailândia (grande exportador de frango e açúcar), Indonésia e Malásia (exportadores de óleo de palma) manterão suas balanças agrícolas positivas, mas tendem a se concentrar nessas commodities e importar grãos, carne, leite e outros alimentos. 

Hoje, segundo o Icone, esses países impõem regras de protecionismo fortes para resguardar a sua produção agrícola, essencialmente minifundiária. Mas, em breve, terão de rever suas leis agrícolas para tornar a produção mais profissional – Índia e Filipinas, por exemplo, já discutem mudanças na legislação que restringe o arrendamento e compra de terras.