Redação (02/08/07) – De atuação inicialmente hemisférica, em breve a comissão deve incorporar o "internacional" ao nome com a adesão do ex-primeiro-ministro espanhol Felipe González. Convidado para integrar o "board", González compartilharia o entusiasmo pela iniciativa e, ainda mais importante, representaria os interesses da Europa, outro expressivo consumidor potencial do etanol – como o Japão do ex-premiê Junichiro Koizumi, recém-agregado à direção, hoje composta pelo ex-ministro Roberto Rodrigues, o ex-governador da Flórida, Jeb Bush, e o atual presidente do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), Luís Alberto Moreno.
Ao mesmo tempo em que ganha musculatura política, a comissão também começa a apresentar as primeiras idéias concretas. Na última terça-feira (31/07), durante reunião em Washington, a comissão propôs a autoridades do Departamento de Estado americano, encarregado do assunto pelo presidente George W. Bush, a adoção de uma regra para incentivar a produção de etanol em terceiros países e, de quebra, facilitar a progressiva abertura do mercado dos Estados Unidos.
A proposta, segundo apurou o Valor, é atrelar o volume das exportações ao consumo interno de cada País. Assim, explica-se, haveria uma condição preliminar para levar à elevação do consumo na América Latina. Para entrar no "jogo do etanol", os países precisam produzir o combustível e elevar sua demanda interna, o que redundaria na elevação e na consolidação do comércio global do produto. Um projeto-piloto em El Salvador deve servir como vitrine para os potenciais novos participantes do mercado.
Em outra frente, executivos da comissão começam a planejar ações para preservar a imagem de um produto "essencial" ao meio ambiente, "socialmente justo" e "acessível" a todos os países. O etanol tem sofrido com crescentes ataques e classificado até como "sujo" em razão de alegadas conseqüências sociais, ambientais e econômicas do cultivo da cana.
Para desarmar os ataques, a estratégia inclui destaques à participação de pequenos produtores no processo de produção da cana-de-açúcar, o respeito aos direitos de trabalhadores e a recomendação para se evitar o cultivo da matéria-prima em áreas de florestas e cerrado brasileiros. Mas, sobretudo, a comissão quer reforçar a mensagem de que a cana não ameaça o espaço da agricultura de alimentos – milho, soja e trigo. O Departamento de Estado americano deve auxiliar nas ações com sua diplomacia em diversos países.
Grandes tradings que atuam no Brasil, como ADM, Bunge, Cargill e Louis Dreyfus, serão convidadas a ajudar na estruturação de "road shows" nos Estados Unidos e Europa para "vender" esses atributos do etanol.
Ao mesmo tempo, a comissão segue sua estruturação interna e a fase de captação de recursos para o financiamento das atividades.
Com sede em Miami, a comissão também terá atuação ativa em Washington. Em setembro, executivos viajam ao Japão para apresentar oficialmente a entidade e receber aportes prometidos por Toyota e Honda. Nos EUA, a General Motors deve ajudar.
E no Brasil, até o mega-investidor George Soros já prometeu auxiliar no financiamento das ações. Coopersucar, Unica e Câmara Americana de Comércio (Amcham) também devem participar. Como ONG, a comissão arrecadou US$ 800 mil para financiar sua burocracia interna, mas prevê chegar a US$ 2 milhões. O projeto-piloto de El Salvador deve servir também para atrair as empresas ao mostrar o papel da comissão no auxílio à elaboração de legislação para garantir investimentos, na realização de diagnósticos locais sobre o mercado e no aconselhamento sobre potencial de produção e exportação mundiais aos países.