Redação SI (25/04/2007) – O Japão é hoje um dos maiores importadores de carnes do mundo. Com suas importações crescendo a níveis exponenciais na última década, o país é a “menina dos olhos” de qualquer grande player do mercado mundial de proteína animal. Para o Brasil não é diferente, especialmente para o setor de suinocultura.
A ocorrência de problemas sanitários nos últimos sete anos, como o registro de BSE (Doença da Vaca Louca) em bovinos e a difusão da Influenza Aviária pelo mundo, alavancou o consumo (e, conseqüentemente, as importações) de carne suína no Japão. Somente neste ano, o país deve importar 1,13 milhão de toneladas de carne suína.
Não por acaso, o acesso ao mercado japonês é um antigo sonho da suinocultura brasileira. Para que o setor possa participar desse importante mercado – extremamente rígido e exigente -, no entanto, é necessário conhecê-lo de perto. Saber quais são os requisitos que não podem deixar de ser atendidos para que o setor possa trabalhar para oferecer ao mercado japonês o que ele quer.
Critérios – Nesse sentido, a apresentação de Hiroyassu Nakai, presidente da Associação Japonesa de Classificação Técnica de Carnes do Japão, realizada agora a pouco no 12º SNDS foi bastante elucidativa. Em sua palestra, Nakai falou sobre os critérios de classificação e avaliação da carne suína usados no Japão, sobre a classificação dos cortes e sua divisão no varejo japonês e sobre as condições de vigilância sanitária de carnes termicamente tratadas para exportação ao Japão, entre outros assuntos.
Nakai deixou claro em sua apresentação que sem resolver seus problemas sanitários e atestar a qualidade de seu produto, o Brasil dificilmente conseguirá exportar carne suína para o Japão. “Os padrões de classificação e avaliação da carne suína adotados pelo Japão são bastante rigorosos. Os problemas sanitários registrados no Brasil são um entrave para viabilizar exportações de carne suína para nosso país”, afirma.
Questionado se a regionalização da suinocultura brasileira seria um caminho de acesso ao mercado japonês, Nakai admitiu a importância de tal procedimento, mas minimizou seu papel na abertura do país para a carne suína brasileira. "A regionalização é importante, mas o Japão ainda não costuma levá-la em consideração na relação comercial com seus parceiros”, diz. “Não posso afirmar que seria impossível, mas não se trata de um procedimento comum no Japão”.
Potencial brasileiro – Para Osler Desouzart, da OD Consulting, e um dos debatedores do painel, a apresentação de Nakai evidenciou o desconhecimento do Japão em relação à estrutura e potencial da suinocultura brasileira. “Falo isso no bom sentido. Somos nós brasileiros que temos que demonstrar nossa qualidade na produção de suínos. Não é dever do Japão reconhecer que somos bons”, afirma.
De acordo com Desouzart, antes de pensar em exportar, o setor suinícola precisa trabalhar para promover uma maior aproximação com o mercado japonês. Em sua opinião é necessário ainda centrar esforços para que o conceito da regionalização prevaleça no mercado mundial de proteína animal. “O Brasil é um país de dimensões continentais. Não considerar a regionalização equivale a proibir a Dinamarca de exportar para o Japão porque Portugal tem Peste Suína Africana”, compara o especialista.
Além as possibilidades da carne suína brasileira no mercado japonês, Nakai abordou em sua apresentação os padrões e critérios de avaliação de seu país para a importação de produtos suinícolas. Falou também
sobre a demanda, produção e tendências da importação de carnes no Japão. Segundo ele, desde 1985 a produção japonesa não consegue atender a demanda por produtos cárneos do país. “Desde então as importações de carnes do Japão vêm crescendo, especialmente nos últimos 10 anos”, explica. Hoje os principais exportadores de carne suína para o Japão são a Dinamarca, o Canadá e os EUA.
Sanidade – De acordo com Nakai, o Japão é bastante exigente quanto à qualidade e sanidade dos produtos suínos. A ocorrência de problemas sanitários pelo mundo (como os casos de BSE e Influenza Aviária, por exemplo), fizeram o Japão ficar ainda mais rigoroso na importação de produtos de origem animal. “O Japão promove rigorosas inspeções na importação e exportação de animais e de seus derivados para evitar a proliferação de doenças transmissíveis típicas da logística internacional”, comenta.
Nakai explica que a classificação da carne suína no Japão é baseada em especificações como peso da carcaça e espessura de toucinho. “No Japão a carne suína é classificada no Japão como extraordinária, superior, mediana, normal e fora de padrão. Essa avaliação se dá através da medição específica de peso do animal e espessura de toucinho”, explica. “A classificação de superior, por exemplo, é concedida para os animais com peso acima de 65 kg e inferior a 80kg e com espessura de toucinho superior a 13 mm e inferior a 24mm”.
De acordo com o representante japonês, a cor da carne e quantidade de gordura também servem como referência para a classificação dos produtos suinícolas no Japão. Lá, os cortes de carne suína são divididos em seis categorias de cores para a avaliação da qualidade. “A cor da carne suína ideal é a de número 3, as cores 1 e 2 são mais fracas e podem ser utilizados para avaliar a carne suína PSE”, afirma Nakai. “O número 4 ainda se encontra dentro do limite apesar de um pouco escura. As de número 5 e 6 são comuns em casos de carne suína DFD e em animais pesados e velhos”, completa. Segundo ele, essa referência de cores foi adotada pela indústria Nippon Ham e tem sido utilizada por todos os países interessados em exportar para o Japão. “Trata-se de um procedimento adotado mundialmente”, diz.
Tratamento térmico – Nakai falou ainda sobre os padrões de tratamento térmico exigidos pelo Ministério da Agricultura do Japão para a importação de carnes de animais do grupo artiodactila, dos quais os suínos fazem parte. Segundo ele, a carne e os órgãos dos animais desse grupo usados na produção de salsicha, presunto e bacon têm de ser armazenados por mais de três dias sem congelamento. Em seguida devem ser submetidos a tratamento de sal ou tratamento semelhante e, finalmente, submetidos a tratamentos térmicos.
O animal do grupo artiodactila fornecedor de carne submetida a tratamento térmico, explica Nakai, precisa ser nascido e criado no país exportador. “É necessário também que esse animal seja inspecionado por agentes do governo do país exportador, antes e depois do abate, para certificar a não contaminação. Essa inspeção deverá ser realizada dentro de uma estrutura que possua certificação do governo para tal atividade”, conclui Nakai. Como se vê, os padrões de avaliação e classificação da carne suína adotados pelo Japão são bastante rigorosos. Porém, por se tratar de um grande mercado a metodologia japonesa é adotada mundialmente. Se quiser mesmo exportar para a “terra do sol nascente”, o setor suinícola terá de se adequar às suas exigências.