Redação (28/03/07) – Em discurso sob medida durante a concorrida cerimônia, o deputado federal por cinco mandatos acenou com algumas das mais importantes bandeiras para o setor. Sugeriu a necessidade da redução dos juros do crédito rural e abriu a porta para as discussões sobre o endividamento rural. Também destacou como "questões sensíveis" a biotecnologia, "inclusive os transgênicos", e a melhoria na estrutura da defesa agropecuária.
No palanque e na platéia do acanhado anexo do ministério, entre sorrisos e apertos de mão, figuravam deputados e senadores ruralistas, parlamentares do PT, líderes do setor rural e secretários estaduais de Agricultura. A eles, Stephanes prometeu "ouvir todos e, inclusive, compreender os críticos". Também afirmou estar em busca de "conciliação e harmonia". Mas disse que, se necessário, tomará decisões "mesmo que contrariem os interesses de determinados segmentos".
Stephanes disse, ainda, que deve se colocar à frente das "reivindicações e dos legítimos interesses do setor", o que muitas vezes pode levá-lo a "ter opiniões conflitantes com outras áreas do governo".
O ministério sofre um forte bloqueio no orçamento de custeio e investimento para 2007 – 44,5% das verbas foram contingenciadas pela equipe econômica do governo. Exibidos como prioridades, o seguro rural e a defesa agropecuária sofreram forte cortes orçamentários. A defesa tem apenas R$ 127,4 milhões garantidos para atender a todas as suas ações – uma redução de 52% sobre os R$ 265 milhões aprovados pelo Congresso. O seguro ficou somente com R$ 20 milhões para subsidiar as apólices contratadas pelo produtores rurais – um corte de 80% sobre os R$ 99,5 milhões originais.
Ao mesmo tempo, Stephanes deu um recado aos grandes produtores: "Devo, acima de tudo, ter a visão geral do Brasil e seguir a recomendação do presidente Lula: de olhar para aqueles que não podem estar aqui representados e por aqueles que mais precisam do governo".
Na semana passada, Lula recomendou ao ministro que não olhasse apenas pelos que mais gritam ou estão no Congresso. "Devo entender a importância do agronegócio e da pequena propriedade familiar como bases de desenvolvimento", resumiu. O programa de governo do segunda mandato petista prevê uma atenção especial à classe média rural, produtores com renda anual entre R$ 80 mil e R$ 240 mil e propriedades entre 20 e 300 hectares.
A aproximação com os ruralistas tem a ver com a disputa pelos principais cargos do ministério. Nos bastidores, políticos e entidades tentam influenciar as escolhas.
A Secretaria de Defesa Agropecuária é o posto mais disputado. Estão na briga Décio Coutinho, indicado pelo governador de Mato Grosso, Blairo Maggi (PR), e Inácio Kroetz, que conta com o apoio das indústrias de carne e do vice-governador do Paraná, Orlando Pessutti. A Secretaria-Executiva tem em Benedito Rosa do Espírito Santo o mais forte candidato. Ex-diretor do IICA na Argentina e ex-secretário de Política Agrícola, Rosa tem apoio político do PMDB de Goiás, a simpatia de algumas entidades ruralistas e do ex-ministro Roberto Rodrigues. A Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB) trabalha para emplacar um nome afinado com suas idéias na Secretaria de Desenvolvimento Rural e Cooperativismo. Superintendente da Ocepar, José Roberto Ricken aparece como forte candidato.
Por orientação do próprio presidente Lula, a Embrapa deve seguir sob o comando de Sílvio Crestana. A diretoria, porém, pode ter uma nova composição em função da correlação de forças políticas. Na Conab, há uma luta de bastidores entre o PT, auxiliado por movimentos sociais como o MST, e o governador Blairo Maggi. O PT quer manter Jacinto Ferreira e sua diretoria. Maggi quer emplacar Moisés Sachetti, irmão do prefeito de Rondonópolis, Adilton Sachetti.