Redação SI (05/03/07) – O Presidente da Associação Brasileira dos Criadores de Suínos (ABCS), Rubens Valentini, vai pessoalmente a Tóquio acertar os detalhes da participação de técnicos do Ministério da Agricultura do Japão no 12º Seminário Nacional de Desenvolvimento da Suinocultura (SNDS), que será realizado em Cuiabá, no mês de abril.
Valentini, que integra a comitiva governamental chefiada pelo Ministro da Agricultura, Luiz Carlos Guedes, acredita que o 12º SNDS será uma oportunidade inigualável para que os produtores se informem adequadamente a respeito das barreiras que precisam ser vencidas para garantir a presença da carne suína brasileira no mercado japonês.
Para Valentini, o 12º SNDS foi organizado desde sua concepção como uma ferramenta mercadológica, destinada a aprimorar o desempenho do setor, tanto no que diz respeito ao mercado interno quanto no mercado externo. “Muita gente acha, por exemplo, que basta os Estados conseguirem o status de livres de vacinação que automaticamente estarão garantindo a abertura dos mercados, mas não é bem assim”, observou Valentini.
A idéia é trazer um técnico do Ministério da Agricultura do Japão para detalhar as características do mercado japonês e as exigências por ele feitas para permitir a importação. Em resumo, um passo a passo de todas as providências que o Brasil precisa atender para se candidatar a disputar o mercado que melhor remunera a carne suína em todo o planeta.
O presidente da ABCS considera essa ação de extrema importância, porque prevalece entre os produtores brasileiros o desconhecimento quanto a verdadeira extensão das exigências formuladas pelos japoneses. “Não vamos exportar para o Japão como uma decorrência natural, com o passar do tempo – nós precisamos nos preparar, nos organizar especificamente para atingir esse objetivo”, comentou Rubens.
Experiência com Programa do Cerrado ajuda no encaminhamento das negociações
Na condição de Coordenador da área internacional do Ministério da Agricultura, na gestão Alysson Paulinelli, durante o Governo Ernesto Geisel, Rubens Valentini esteve à frente das negociações que desembocaram no Programa de Desenvolvimento do Cerrado Brasileiro –Prodecer. Ele pretende usar essa experiência para criar canais de comunicação entre os produtores brasileiros e os representantes do governo japonês e da iniciativa privada daquele país.
Em meados dos anos 70, o Japão exibia uma forte resistência à importação de soja brasileira. O argumento era calcado nas preocupações com o controle sanitário, já que a soja no Japão é uma cultura de origem milenar. O principal argumento utilizado pelo Brasil à época foi a importância para o Japão de constituir um mercado alternativo aos Estados Unidos, que meses antes haviam embargado exportações de soja para o Japão.
As negociações demoraram exatamente dois anos. Em outubro de 1976, um acordo de cooperação foi assinado durante a visita do presidente Ernesto Geisel ao Japão, que facultou a criação de uma empresa de capital misto que acabaria funcionando como Holding de um projeto de desenvolvimento da produção de soja em locais específicos do cerrado brasileiro. Essa região, aliás, não produzia um único grão de soja até aquela oportunidade.
As negociações somente prosperaram – Valentini foi ao Japão por três vezes durante aquele processo – quando a parte brasileira ofereceu concretamente participação dos japoneses nos projetos. A partir daí surgiu a empresa nipo-brasileira, que contou com financiamentos japoneses, a custos facilitados, incluindo projetos de assentamento de agricultores na região do cerrado.
Gradual, porém seguro
Valentini chama atenção para algumas das características que marcam o processo de negociação dos executivos japoneses. “Eles procuram homogeneizar a opinião de todos os participantes antes da tomada de decisão”, conta o presidente da ABCS. Ou seja, tudo passa primeiro pela obtenção do consenso em os membros do time de negociadores japoneses.
Para Valentini, é preciso prestar muita atenção a esses aspectos culturais e construir os argumentos certos capazes de fomentar o consenso entre os japoneses. “Mas, uma vez alcançado esse consenso eles então passam a ser muito mais rápidos do que nós brasileiros diante de situações semelhantes”, avalia. A razão é simples: quando eles alcançam uma decisão, todos os membros envolvidos no projeto já conhecem os seus detalhes e não têm mais dúvidas a seu respeito, enquanto no nosso caso somos rápidos na formulação, mas muitas vezes perdemos tempo depois convencendo os agentes operacionais.
Objetivamente, Rubens Valentini comemora o reconhecimento de Santa Catarina como zona livre de vacinação, mas alerta que isto não significa automaticamente a abertura dos mercados. “Antes de fechar o primeiro contrato temos que produzir bons argumentos, ter muita paciência e competência para mostrar que o Brasil é uma boa oportunidade de negócios para eles”, concluiu Valentini.