Redação (07/02/07) – Pecuaristas do interior de São Paulo estão se juntando aos produtores de grãos para enfrentar a crise que atinge os dois setores e resistir ao avanço da cana-de-açúcar.
Para o criador de gado, traz renda extra com arrendamento dos pastos, que também têm ganhos de qualidade. Não se trata, porém, do velho modelo de integração para reforma de pasto. O manejo conjunto permite troca de conhecimento, informação e práticas que melhoram a produção e reduzem custos dos dois lados. “É um novo conceito”, diz José Fernandez Lopez Netto, um dos primeiros a adotar o modelo.
Criador de pardo-suíço para corte na Fazenda São Lourenço, em Itapeva (SP), ele pensava em abandonar a atividade. “Tenho plantel de primeira linha, formado a um custo alto, mas com o preço baixo a renda era ínfima.” Com um rebanho de mil cabeças em 620 hectares, a renda bruta anual era de R$ 120 mil. “Os custos estavam passando a receita”, lembra.
Netto chegou a considerar a proposta de uma usina, para plantio de cana. “Pagavam R$ 500 anuais por hectare, com contrato de 7 anos, mas não tive coragem.” Foi quando conversou com o agricultor Geraldo Maschietto Júnior, da fazenda Campanino, em Itaberá, que, com pouca área própria – cerca de 210 hectares -, enfrentou a crise trabalhando em áreas arrendadas.
Parceria
Em algumas horas de conversa, os dois fecharam a parceria, que dura pouco mais de um ano. Lopez Netto reduziu a lotação da fazenda para 400 animais e entregou 410 hectares ao agricultor. “Em dois ou três anos, todo o pasto terá sido renovado”, diz. Pelo arrendamento recebe R$ 400 por hectare/ano, menos do que pagaria a cana, porém mais do que receberia de outro criador de gado (R$ 180 por hectare/ano) ou com reflorestamento (R$ 280 por hectare/ano).
O controle de carrapatos com pulverização da pastagem, além de ter custo menor, é mais eficiente. “No boi, controla 5% da população de parasita e tem efeito residual de apenas um mês. Na pastagem, elimino mais de 90% dos carrapatos e deixo a área livre por cinco meses.” O custo do carrapaticida para pulverização da pastagem é três vezes menor. O pecuarista ainda aproveita as sobras das lavouras para alimentar o gado. Em contrapartida, os animais deixam no solo uréia e esterco e facilitam a limpeza da área para o novo plantio direto.
“Hoje, somando gado e arrendamento, a renda líquida é de R$ 200 mil ao ano”, diz o pecuarista. “Pego áreas livres de pragas comuns na lavoura, como pulgões, doenças fúngicas e de raiz”, diz Maschietto. O gasto com defensivos na lavouras é pelo menos 50% menor e a produtividade, de 10 a 15% maior. “O esterco e a urina dos bois certamente tiveram influência.” Lopez Netto, que é presidente da Associação Paulista de Criadores de Gado Pardo-Suíço, pretende realizar dias de campo para difundir a parceria.