Redação (01/02/07) – A crescente produção de etanol nos Estados Unidos elevará a área de milho no país nesta safra – em detrimento da soja – e assim, abrirá mais espaço para o Brasil vender os dois grãos no mercado internacional. A avaliação, que poderia parecer apenas mais otimismo de um ponto de vista brasileiro, dessa vez é feita por duas vozes insuspeitas: o ex-subsecretário americano de Agricultura, Jim Butler, e Phillip Bradshaw, diretor do United Soybean Board, associação que reúne produtores nos EUA.
De acordo com Butler, a expectativa é de um crescimento de 10% na área de milho dos EUA, que foi de 31,7 milhões de hectares em 2006/07, segundo o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA). O ex-subsecretário, que, junto com Bradshaw, esteve em São Paulo esta semana para o lançamento do Congresso Internacional da Carne, afirma que as vendas de sementes de milho registram alta de 30% em algumas regiões americanas. “Tradicionalmente, os produtores fazem rotação de cultura [entre soja e milho], mas nesta safra a rotação deve ser menor porque parte dos produtores vai plantar milho de novo”, diz.
Com o milho tomando área de soja, os Estados Unidos devem ter menor oferta da oleaginosa para exportar, situação que favorece o Brasil no mercado externo.
Butler reconhece ainda que, apesar da expectativa de aumento da área de milho, a oferta do grão não será suficiente para suprir a procura para produção de etanol. Nem para os EUA, hoje o maior exportador mundial de milho, atenderem a demanda externa pelo grão. “Haverá mercado para o Brasil exportar mais milho e soja”, diz. Por aqui, analistas estimam que as exportações de milho podem ficar em cerca de 6 milhões de toneladas este ano.
Phillip Bradshaw, da United Soybean Board, afirma que a bioenergia “está mudando a agricultura”. Ele estima que a área de milho nos Estados Unidos deve crescer 10% a 15% na safra 2007/08 por conta dos preços elevados do grão, consequência da demanda para produzir etanol. O próprio Bradshaw, ele também um produtor de grãos e de suínos, vai ampliar a área de milho em 5% em sua propriedade no Estado de Illinois.
O diretor do United Soybean Board avalia que o atual cenário pode levar os preços do milho a US$ 5,00 por bushel na bolsa de Chicago – ontem o contrato de maio fechou em US$ 4,1150. E o menor plantio de soja – que reduzirá a oferta – poderá fazer a oleaginosa, que ontem fechou a US$ 7,2475 (contrato de maio), alcançar US$ 9,00 por bushel na bolsa americana. “O ganhador será o Brasil porque tem terras para ampliar o plantio de soja”, reconhece.
A expectativa de Bradshaw que os EUA exportem menos soja em grão este ano e mais farelo de soja, já que o país também utiliza o produto para produção de biodiesel.
Jim Butler observa que os preços mais altos do milho elevam os custos de produção na avicultura, suinocultura e também na pecuária bovina de corte. Produtos como sorgo e trigo são alternativas na ração, assim como o DDG (do inglês Distillers Dried Grains), subproduto do processamento de milho para etanol. Segundo Bradshaw, com a maior produção de etanol, o uso do DDG na ração, especialmente de suínos, está crescendo nos EUA.
Diante do atual quadro em que a produção de etanol avança nos Estados Unidos, ampliando a disputa por milho com a indústria de alimentos, o ex-subsecretário da agricultura não descarta que o país possa reduzir, no futuro, a tarifa de importação do produto, hoje em US$ 0,54 por galão.