Redação (13/12/06) – O Ministério da Agricultura informou ontem que a Rússia ampliou a flexibilização do embargo às carnes brasileiras, imposto em dezembro de 2005 em consequência da descoberta de casos de febre aftosa em bovinos do Mato Grosso do Sul e do Paraná.
Com o novo alento, os russos reabriram o mercado para produtos de carne e lácteos termicamente processados de todo o Brasil. Na prática, segundo o ministério, isso significa estímulo às vendas sobretudo de pratos prontos para venda no varejo. Em abril, Moscou retirou as travas sobre o Rio Grande do Sul, em agosto foi a vez da liberação do Mato Grosso e em outubro, da carne bovina e derivados crus de São Paulo e Goiás.
E neste último, principal exportador de carne suína do país, os efeitos da proibição, cada vez mais questionada pela carência de argumentos técnicos, ainda são agudos.
Segundo Roni Barbosa, diretor de Defesa Sanitária Animal de Santa Catarina, de fato não há perspectivas positivas para os suínos, mesmo depois de os russos voltarem a baixar a guarda.
O embargo russo à carne suína de Santa Catarina completa hoje um ano, e, segundo a Associação dos Criadores de Suínos (ACCS), já causou prejuízo direto de R$ 360 milhões ao segmento no Estado. O cálculo leva em conta o abate mensal de 600 mil cabeças e a queda de preços desde que a Rússia deixou de comprar, passando de R$ 2,50 a R$ 1,55 por quilo do animal vivo.
Antes do embargo, os russos absorviam 17 mil toneladas de carne suína catarinense por mês, cerca de metade da produção estadual. Dada a dependência, depois da trava vieram demissões, “represamento” de animais, tombo dos preços e perda de competitividade. “Hoje, uma tonelada exportada por Santa Catarina para qualquer país está em US$ 1.350, enquanto o Rio Grande do Sul, que pode exportar para a Rússia, está conseguindo vender por US$ 2.150 a tonelada”, diz Enori Barbieri, vice-presidente da Federação da Agricultura e Pecuária de Santa Catarina (Faesc).
Além dos prejuízos diretos, o segmento acusa perdas indiretas em razão da queda da atividade econômica sobretudo no oeste do Estado, principal pólo de suinocultura do país. Cidades perderam arrecadação, produtores perderam renda e outros desistiram da atividade. Segundo a Federação das Indústrias do Estado de Santa Catarina (Fiesc), de janeiro a outubro deste ano Santa Catarina exportou US$ 237 milhões em carne suína, ante US$ 404 milhões no mesmo período de 2005.
Durante o embargo, o Estado não conseguiu redirecionar toda a produção que então ia para a Rússia, segundo Ricardo Gouvêa, diretor do Sindicato das Indústrias de Carnes (Sindicarnes-SC). Países como Hong Kong, Ucrânia e Cingapura até compraram um pouco mais, mas nenhum deles tem o apetite russo. Outros potenciais compradores, como o Japão, estão restritos por regras sanitárias que fortalecem o plano do Estado de se tornar área livre de aftosa sem vacinação.