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Disparada é desafio para a avicultura

<p>A demanda de milho para produção de etanol e a gripe aviária são hoje os principais desafios para a avicultura mundial, na avaliação de Rick Greubel, vice-presidente da área internacional da americana Tyson Foods.</p>

Redação (01/12/06) – O executivo, que esteve ontem (dia 30) no X Encontro Técnico Empresarial da Avicultura Brasileira, em Descalvado (SP), afirmou que a crescente procura por milho para etanol nos EUA já eleva os custos de produção na avicultura que tem no grão um de seus principais insumos e força grandes indústrias do setor, como a própria Tyson, a elevarem os preços do frango e a reduzirem a produção. Greubel, que se negou veementemente a falar das negociações para uma joint venture no Brasil com a Globoaves, traçou um quadro preocupante para o setor no que diz respeito a custos.

Greubel, da Tyson: “O consumidor americano terá de escolher se quer milho para combustível ou para ração animal”

Ele previu que pelos próximos seis a oito meses o preço do grão seguirá firme. “O preço do milho está no nível mais alto em 2 anos e meio – cerca de US$ 160 por tonelada – e a previsão é que chegue a US$ 185”, disse. “O milho não voltará a US$ 100 no futuro próximo”.

Segundo o executivo da Tyson, o impacto da recente alta do milho no mercado internacional provocou uma elevação dos custos com alimentação na produção de frango vivo de US$ 0,67 por quilo para U$ 0,78. “O consumidor americano terá de escolher se quer milho para combustível ou para ração animal”, ponderou. “E vai pagar mais pela proteína animal se a escolha for o combustível”. Na safra 2006/07, a demanda de milho para etanol deve ser de 55 milhões de toneladas, e pode chegar a 81 milhões em 2007/08, segundo previsão da North American Risk Management citada por Greubel.

Para atender a demanda, o país terá de elevar a área de plantio entre 4 milhões e 6 milhões de hectares, disse o executivo, que não descarta que os EUA (grande exportador de milho) tenha de importar o produto. Nesse caso, “a grande beneficiada será a Argentina”, segundo maior exportador no mundo.

Ele informou que as três principais empresas do setor de aves nos EUA anunciaram recentemente que reduzirão em 5% a produção para driblar a alta do milho, que representa, segundo ele, 20% do custo de produção do frango vivo. Para Greubel, no atual quadro, a produção de frango nos EUA deve ficar estável ou declinar em 2007.

Sobre a gripe aviária, Greubel acredita que ela “mudou para sempre” a indústria de frango. Um dos efeitos foi a queda no consumo mundial do produto após crescer à taxa de 3,9% ao ano desde 1998. Para 2006, a previsão é que caia 1%, para 80,989 milhões de toneladas.

Na visão do executivo, os EUA “seguramente vão ter gripe [aviária]. Acho que o Brasil também”. A diferença, afirmou, estará em como a indústria e os governos dos dois países lidarão com a questão. Isso inclui isolar e destruir os focos e informar o consumidor.

Levantamento até 26 de outubro deste ano indica que 56 países foram afetados pelo vírus H5N1 e 153 pessoas morreram, um terço só na Indonésia. “Na Ásia, as pessoas moram com os frangos”, disse o executivo. Para ele, o problema do impacto da gripe aviária está “na mídia, no consumidor que não tem informação e nos governos”.

Greubel acredita que os EUA estão preparados para enfrentar a doença, caso ela ocorra, e avalia que a reação do consumidor seria diferente do que houve na Europa. “O americano tem confiança nos órgãos reguladores. Já o europeu não confia no governo em relação à segurança alimentar”. Quando a doença apareceu na Europa, no fim de 2005, o consumo despencou na Itália, por exemplo.

Além da gripe e do etanol, os EUA terão de lidar com uma demanda desaquecida. Hoje, segundo Greubel, há excesso de oferta de carne bovina nos EUA, e consumidores substituem o “frango por filé”. “A Tyson também está no boi e vai fechar três abatedouros nos EUA”, disse o executivo, contratado este ano como vice-presidente da área internacional da empresa.

Apesar do cenário incerto por causa da alta dos custos de produção e da gripe, o executivo avalia que “vale a pena investir nessa indústria [de frango]”, porque a expansão da população e renda em alguns países deve estimular o aumento do consumo de carnes. Sua previsão é que até 2030 a demanda por carnes em geral crescerá 25%.

Conforme dados do USDA citados por Greubel, a exportação de frango dos EUA deve ser de 2,454 milhões de toneladas este ano. A estimativa para o Brasil é de 2,5 milhões de toneladas. O presidente da Abef (entidade que reúne exportadores de frango), Ricardo Gonçalves, que esteve no encontro, prevê 2,7 milhões de toneladas.