Redação (06/11/06) – A Organização Não-Governamental Greenpeace espera maior empenho de todos os países participantes da 12 Conferência das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas para as Mudanças Climáticas (COP 12 – UNFCCC, sigla em inglês) para combater o aquecimento da terra.
Nesta entrevista à Agência Brasil, o coordenador da Campanha de Clima Greenpeace Brasil, Carlos Rittl, fala das expectativas da entidade para a conferência.
Qual a expectativa do Greenpeace com a reunião no Quênia?
Carlos Rittl – O Greenpeace sempre comparece às reuniões da Convenção no sentido de promover um debate maior, já que a questão das mudanças climáticas é um problema urgente. Se a gente não começar a reduzir as emissões mundiais dos gases de efeito estufa nos próximos 10 a 15 anos, o planeta todo vai sofrer. E como o Greenpeace mostra neste material (vídeo e documento divulgados em agosto último) os impactos das mudanças climáticas em nosso país, nós somos extremamente vulneráveis, e nosso país também vai sofrer muito.
O que a gente espera é que da reunião em Nairobi é que tenha uma demonstração de empenho de todos os países do mundo. Dos desenvolvidos (empenho) em ampliar consideravelmente sua contribuição para a diminuição de emissões para um segundo período do Protocolo de Kyoto. De países como o Brasil, que hoje é um grande emissor, é um país em desenvolvimento, (empenho) em aumentar sua contribuição, assumir sua responsabilidade de uma forma mais ampla e dar uma contribuição maior.
Por exemplo, aqui no Brasil temos o desmatamento como a principal fonte das nossas emissões. A gente tem que fazer com que essa diminuição na taxa de desmatamento seja sistemática e freqüente, para que a gente consiga eliminar este problema do país. E fazer também com que a gente assuma um compromisso de desenvolver nossa matriz energética de uma maneira limpa e equilibrada, usando energias renováveis modernas, como as energias do sol ou dos ventos, coisas que estão disponíveis em nosso país, e a gente aproveita muito pouco.
A gente espera sair de Nairobi com uma indicação de que o planeta todo está se envolvendo em esforços para contribuir para a solução dos problemas das mudanças climáticas.
Quais principais desafios na implementação efetiva de um esforço mundial em favor do planeta? Seria uma segunda etapa de Kyoto, um aprofundamento das metas para 2013?
Apesar das metas hoje serem insuficientes uma redução média dos países desenvolvidos em 5,2% em relação as emissões de 1990, é muito pequena só o fato do protocolo ter entrado em vigor e passar a ser uma obrigação dos seus signatários já foi um passo muito importante. O que a gente precisa é ampliar estes compromissos. Os países desenvolvidos precisam estabelecer, em um segundo período, a partir de 2013, metas muito mais ambiciosas.
A gente vê um sinal de que existem caminhos. O governo da Califórnia, um estado importante dos EUA, acabou de estabelecer uma lei estadual, com metas de redução de 25% de suas emissões até 2020. É uma redução importante, de um estado que se sente vulnerável aos problemas das mudanças climáticas e se vê obrigado a mudar. Eles identificaram o problema e resolveram contribuir. É um indício de que existem caminhos.
Outras iniciativas dentro dos EUA são que várias cidades estão assumindo metas de redução semelhantes as do Protocolo de Kyoto. Cidades como Nova York, Miami, Boston, Los Angeles. São mais de 150 cidades que já assumiram este compromisso. Isso ainda é insuficiente para compensar todo o papel que os EUA têm para o problema do aquecimento global, mas já é um indício de que a própria sociedade norte-americana se mexe. E a própria pressão interna deve fazer com que aja uma movimentação do governo norte-americano, no sentido de dar uma contribuição para a melhora do clima do planeta.
E o Brasil? O governo e a sociedade se mobilizam ou ainda estamos tímidos em relação a esta questão?
Rittl – Apesar de haver um conhecimento sobre o problema das mudanças climáticas aqui no Brasil isso teve durante muito tempo associado a coisas muito distantes da gente , nosso relatório tem como objetivo mostrar para a sociedade brasileira que nós somos vulneráveis. É para mobilizar a sociedade, no sentido de adotar ações individuais os indivíduos como consumidores devem ter um uso mais consciente da energia e da água, priorizar transporte coletivo e também fazer com que a sociedade brasileira pressione o governo.
Hoje o nosso esforço para diminuir as emissões ainda é tímido. Os debates promovidos pelo governo brasileiro permanecem ainda muito restritos aos gabinetes. É fundamental que o governo brasileiro assuma esta responsabilidade de grande emissor. O Brasil é o quarto maior emissor mundial. Nossa contribuição é diferente dos países desenvolvidos, dos países europeus, Estados Unidos e Japão? Sim, é com certeza. Mas a responsabilidade diferenciada não significa falta de responsabilidade.
Tem de ser um compromisso do governo brasileiro com a sociedade, mostrar como nós somos vulneráveis. A gente precisa identificar como vamos lidar com este problema, como a gente pode se adaptar naquilo que não podemos evitar. E a gente precisa aumentar nossa contribuição para o planeta.
A questão do desmatamento precisa ser adotada como uma política de governo, incorporada por cada ministério e isso inclui ministérios dos setores da produção, como o da Agricultura, dos Transportes.
Hoje nós temos algumas contradições internas aqui no Brasil, que não permitem isso. O governo dá R$ 350 milhões para o combate ao desmatamento e R$ 40, R$ 50, R$ 60 bilhões para o desenvolvimento do agronegócio, sendo que as variáveis ambientais muitas vezes são ignoradas na hora de conceder financiamentos, subsídios e tudo mais.
Então o Brasil precisa resolver estas contradições para permitir um combate ao desmatamento mais efetivo. E nós temos também que crescer utilizando fontes modernas de energia. Nossa matriz energética aproveita muito pouco a energia solar e eólica. A gente tem de investir muito mais nestes recursos limpos e abundantes no nosso país, coisa que a gente não faz.