Redação (19/09/06)- A cidade australiana de Cairns, no estado de Queensland, norte do país, se prepara para acolher uma reunião do grupo de países que tem o mesmo nome da cidade a partir de quarta, o que é considerado a última possibilidade para salvar as negociações da Rodada de Doha. A ocasião servirá ainda para comemorar os 20 anos da primeira reunião do Grupo de Cairns, países exportadores agrícolas, na cidade australiana (a nordeste de Sydney), em 1986, promovida pelo então primeiro-ministro australiano, o trabalhista Bob Hawke.
A conferência será realizada no Hotel Shangri-la, situado no porto de Cairns, com um fórum de alto nível sobre reforma comercial e desenvolvimento econômico e um jantar de gala para todos os participantes. A reunião prosseguirá na quinta-feira e terminará na sexta com uma entrevista coletiva concedida pelos ministros do Grupo de Cairns.
Os 18 países exportadores agrícolas que formam o grupo também confirmaram sua presença. Dentre os países da América Latina membros do Grupo, apenas a Argentina enviou dois de seus ministros: o de Comércio, Alfredo Chiaradia, e o de Agricultura, Miguel Campos. O Brasil será representado pelo ministro da Agricultura, Luis Carlos Guedes Pinto, e o Uruguai, pelo subsecretário de Agricultura, Ernesto Agazzi. Costa Rica, Guatemala e Paraguai enviaram seus respectivos embaixadores na Organização Mundial do Comércio (OMC), cujo diretor-geral, Pascal Lamy, também confirmou presença.
Apesar de o governo australiano esperar uma representação de alto nível dos principais blocos comerciais, tanto a comissária de Agricultura européia, Mariann Fischer, como o comissário de Comércio, Peter Mandelson, não participarão do encontro por problemas de agenda, embora este último tenha se comprometido a enviar um representante.
Também estarão presentes em Cairns o chefe da delegação da Comissão Européia (CE) na Austrália, Bruno Julien, e seu assessor para Comércio, John Tuckwell.
A Austrália, um dos principais exportadores agroalimentares do mundo, quer chegar a um compromisso entre os EUA e a UE para que Washington reduza os subsídios à agricultura em cerca de US$ 5 bilhões e que Bruxelas corte suas tarifas em 5%.
Mas os Estados Unidos, cuja representante para o Comércio, Susan Schwab, e o secretário de Agricultura, Mike Johanns, confirmaram que assistirão à reunião de Cairns, afirmaram que não têm nenhuma intenção de mudar sua postura.
O porta-voz de Assuntos Exteriores do Ministério do Trabalho da Austrália, Kevin Rudd, insistiu em que o primeiro-ministro, John Howard, presida a reunião de alto nível de Cairns para ressaltar o compromisso de Canberra em revitalizar as estagnadas negociações da Rodada de Doha.
Segundo Rudd, é crucial que a reunião de Cairns não se transforme em “outra reunião comemorativa”.
Se Cairns não se comprometer com um calendário específico para retomar a rodada a reunião não terá valor, ressaltou.
As negociações da Rodada de Doha foram suspensas em julho, em Genebra, pela falta de acordo entre alguns dos Estados-membros chaves em matéria de proteção agrícola e acesso aos mercados dos países menos desenvolvidos.
A Rodada de Doha, lançada em 2001, tinha previsão de ser concluída no final de 2006, e procurava aprofundar a liberalização comercial da agricultura, da indústria e dos serviços, entre outros. Seus principais beneficiados seriam os países em desenvolvimento.
O Grupo de Cairns é formado, desde sua criação, em agosto de 1986, por Argentina, Austrália, Bolívia, Brasil, Canadá, Chile, Colômbia, Costa Rica, Filipinas, Guatemala, Indonésia, Malásia, Nova Zelândia, Paraguai, África do Sul, Tailândia e Uruguai.