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Indústria paraense registra maior crescimento

<p>Com 13,5%, o Estado ficou a frente do Ceará (7,2%) e da Bahia (5,5%).</p>

Redação (24/08/06)- O Pará apresentou o maior crescimento industrial do País no primeiro semestre deste ano. Com 13,5%, o Estado ficou a frente do Ceará (7,2%) e da Bahia (5,5%). O índice foi revelado na última Pesquisa Industrial Mensal de Produção Física – Regional feita pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em 14 áreas. A maioria apresentou queda no setor. No Pará, a indústria de alimentos e bebidas ganhou destaque ao alcançar o índice de 35,5%. Acredita-se que esse crescimento tenha relação com a instalação de fábricas nos municípios de Castanhal e Benevides, no nordeste paraense, que têm aumentado a linha de produtos.

O consumidor pode optar pelos produtos regionais, que já são mais fáceis de encontrar nos supermercados. Os produtos da indústria paraense também são mais baratos em relação a similares vindos de outros Estados. Em contrapartida, o saldo negativo ficou com o setor madeireiro (-8,7%), com destaque para o produto de madeira compensada. O recuo da madeira também foi observado na comparação entre junho de 2006 e junho de 2005 (-13,4%). O estudo apontou ainda o desempenho favorável na indústria extrativista (18,3%) e na metalurgia básica (16,3%). De acordo com o instituto, o crescimento se deve ao dinamismo das exportações de minério de ferro, produtos siderúrgicos, celulose, açúcar e à produção de bens de consumo. No País, a indústria registrou o crescimento de 2,6%.

O índice revelou a desaceleração no segmento, uma vez que o percentual gerado no primeiro trimestre foi de 4,6%, e no segundo, de 0,8%. Segundo o IBGE, a retração ocorreu em nove das 14 áreas estudadas. O Amazonas saiu na frente com o prejuízo, com o saldo negativo de 12,1% nos últimos três meses. Acredita-se que este recuo tenha origem na queda da produção de material eletrônico e equipamentos de comunicação, que registrou baixa de 22,4% nesse período. Analistas de mercado acreditam que os números positivos podem estimular a credibilidade do consumidor local quanto à produção regional. Ao menos foi o que adiantou Carlos Limão, presidente da Associação Paraense de Supermercados (Aspas). Até cinco anos atrás, não era comum observar nas prateleiras das grandes redes de supermercados a variedade de produtos fabricados no Estado como nos dias atuais.

Limão afirma que essas mercadorias já concorrem de igual para igual, tanto na qualidade quanto no preço, com as produzidas no Sul e Sudeste do País, principais regiões fornecedoras de alimentos e bebidas do Pará. Ao abocanhar mais um mercado, a produção paraense quase sempre beneficia o bolso da população. Não porque o produto seja mais barato, mas porque acentua a diversidade nas prateleiras, gerando a concorrência. Resultado: quanto mais ofertas, mais barato e mais se vende. A escolha fica por conta do consumidor.

As principais causas desse crescimento, apontou, seriam o crescimento da economia do Estado, o espírito empreendedor do empresariado e os incentivos fiscais concedidos pelo governo estadual para que as fábricas se instalem na região. O que também melhora os índices de emprego e renda para a população. ””Mas ainda estamos aquém do que poderíamos fazer. A produção do óleo de soja já deveria ser feita no Pará, uma vez que temos dois grandes pólos de produção de grãos – um em Santarém e o outro em Paragominas””, revelou o empresário. Incentivo diferenciado:

Para o secretário de Indústria e Comércio do Estado, Ramiro Bentes, foram as melhorias na infra-estrutura, a ampliação do fornecimento de energia elétrica, os investimentos em rodovias e a recuperação de áreas urbanas que renderam os índices favoráveis ao Pará. Porém, o principal destaque desse modelo de desenvolvimento seria a descentralização da produção da região metropolitana. ””A produção é disseminada pelo Estado. Apenas um terço se concentra na Região Metropolitana de Belém. Isso é positivo porque não provoca o inchaço da área e impede também a criação de favelas e áreas de ocupações. O desemprego em outros estados está muito ligado a esse aspecto, a exemplo do Amazonas, onde a produção é quase totalmente feita na Zona Franca de Manaus. Temos que tratar a população no seu lugar de origem””, analisou o secretário.

Além disso, embora pouco tenha mudado a legislação estadual quando o Supremo Tribunal Federal considerou inconstitucional a lei de incentivos fiscais no Pará, a preocupação ambiental se tornou uma exigência. ””Agora ela é fundamental porque leva em conta o macrozoneamento. A intenção é desenvolver sem devastar e cuidar ao máximo do ordenamento, levando em conta os eixos prioritários da atual gestão – turismo, agroindústria e verticalização do setor mineral””. Leite é beneficiado: Entre os beneficiados pelos incentivos fiscais estão os produtores de leite do sul e sudeste paraense. De acordo com dados do SindLeite, entidade que congrega 20 fabricantes de laticínios da região, mensalmente, o grupo é responsável pela produção de cerca de 32 milhões litros de leite, mais de 3 mil toneladas de queijos e pela geração de 1.435 empregos diretos. Somente 30% dessa produção ficam no Pará. O restante é comercializado nos estados do Maranhão, Piauí, Rio Grande do Norte, Ceará, Pernambuco, Paraíba, São Paulo e Rio de Janeiro. Segundo Jorge Alcides, secretário executivo do sindicato, nos últimos anos, a produção foi diversificada a partir da ampliação das empresas, da aquisição de equipamentos e da contratação de funcionários.

No entanto, a concorrência no mercado com fábricas irregulares ainda é um grande empecilho. ””Muitas empresas sem registro comercializam no mercado ao nosso lado. Isso atrapalha a venda de quem trabalha bem””, pontuou. Apesar das melhorias destacadas pelo titular da Seicom, Ramiro Bentes, a má condição de algumas estradas prejudica a qualidade de laticínios. ””O governo precisa melhorar as estradas. Caso contrário, alguns produtores vão continuar a tirar o leite e ter dificuldade para entregar o produto no horário correto. Tudo isso diminui a qualidade do produto final””. Preço mais em conta: Uma pesquisa feita pelo Amazônia Hoje em dois grandes supermercados da capital apontou que o crescimento da indústria ainda não saltou aos olhos do consumidor paraense. Na hora da compra, a maioria corre atrás das marcas mais conhecidas no mercado e deixa de fora a experiência com o novo.

Dos sete entrevistados, apenas o comerciante Ademir Pires, 49 anos, revelou que presta atenção na produção local. ””Como trabalho com refeição popular, tenho que estar atento às marcas. Os produtos daqui geralmente saem mais em conta. Há cinco anos percebi isso fazendo pesquisa. Eles são bons. Têm o mesmo efeito que os de fora””, brinca. ””Mas já está na hora de ter mais fábricas aqui, por exemplo, produção de ervilha, milho verde e polpa de tomate. Isso faria com que o Norte se tornasse referência tanto dentro quanto fora do mercado local””, analisou o comerciante. Já a técnica em Enfermagem Carmem Célia Vacelar, 45 anos, apesar de ser dona de um restaurante, afirma não ””se ligar”” nos produtos regionais e optar quase sempre pelos preços. A xará dela, a doméstica Carmem Rodrigues, 48, também não se habituou a procurar produtos da terra. ””Como faço compras pensando nas crianças da casa, pouco olho para coisas novas. Não dá para ficar experimentado produtos ou escolhendo o que é mais barato. Não se brinca com o organismo dos pequenos””.