Redação (07/08/06)- A produção nacional de derivados de soja recuou 10,7% no primeiro semestre deste ano, em comparação com os primeiros seis meses do ano passado. A queda foi a mais brusca registrada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em pesquisa sobre a agroindústria. O mau desempenho da indústria de processamento de soja teve forte impacto nos números gerais da produção agroindustrial brasileira, que registrou crescimento de apenas 1,1%, tão tímido que beira a estagnação o resultado é inferior à média da indústria nacional (2,6%) no período.
Fatores como a seca, a desvalorização do dólar e a queda no preço internacional da soja levaram a uma crise entre os produtores e o reflexo mais direto da frustração da safra foi a queda na produção dos derivados. Mesmo que o setor agrícola se recupere nos próximos meses, as projeções para a indústria de derivados não são as mais otimistas. Nosso futuro está cada vez mais sombrio. Se compararmos com outros países, estamos andando para trás, afirma Fábio Trigueirinho, secretário da Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove).
Números da associação mostram que, embora as estimativas sejam de maior produção do grão este ano (56,1 milhões de toneladas, frente a 53 milhões no ano passado), o volume processado tende a cair (28,2 milhões de toneladas este ano, contra 29,7 milhões em 2005). Por questões tributárias, não estamos conseguindo segurar a matéria-prima no Brasil para agregar valor antes de exportá-la, explica o secretário. Isso ocorre porque uma cooperativa paranaense, por exemplo, que compre os grãos do Mato Grosso para transformá-los em óleo e farelo (produtos de maior valor agregado), precisa pagar o Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) sobre a compra. Para a venda direta do grão ao mercado externo, este tributo não existe. A Argentina taxa menos a indústria, e por isso lá eles estão abrindo fábricas enormes de processamento, enquanto aqui a gente só vê as fábricas fecharem há dez anos, compara Trigueirinho.
O Brasil também produziu menos derivados de milho nos seis primeiros meses do ano (-4,7%). Esta queda é explicada principalmente pelo desempenho negativo observado na pecuária (leia mais abaixo). Outras culturas, como arroz, trigo, fumo e cana-de-açúcar, bastante dependentes do consumo no mercado interno, foram beneficiadas pelo aumento na renda da população este ano, e tiveram resultados positivos o que fez a produção total de derivados da agricultura ter crescimento de 3,3% no período.
Já a produção de insumos para a agricultura apresentou queda de 7%. Isso porque os produtores compraram menos adubos e fertilizantes (queda de 1,1% na produção) e máquinas e equipamentos (queda de 18,7%).
Paraná
No Paraná, as cooperativas agrícolas repetem o desempenho nacional. [A produção] não caiu, mas também não aumentou, resume Flávio Turra, gerente técnico e econômico da Organização das Cooperativas do Estado do Paraná (Ocepar). Ele também não crê numa recuperação, em curto prazo, do volume de soja processado no estado. Vamos ter um aumento na produção de soja no Paraná, mas eu não vejo grande aumento de industrialização. Vemos um movimento forte para a exportação do produto em grão.
Outra expectativa do economista coincide com a do gerente comercial de Varejo da Cooperativa Agroindustrial de Maringá (Cocamar), Marco Orozimbo Rosas: com a entrada do óleo de soja no mercado de combustíveis, o setor pode se reerguer. Isso pode contribuir a favor da valorização do óleo e aumento da demanda, estima Rosas.
Com aftosa, produção de vacinas cresce 16%
A pesquisa do IBGE mostra que o desempenho da indústria ligada à pecuária foi negativo no primeiro semestre do ano queda de 0,5% em relação a igual período de 2005. No caso dos rebanhos bovino e suíno (-2.8%), o anúncio de focos de febre aftosa no Paraná e Mato Grosso do Sul e conseqüente embargo à carne brasileira por compradores internacionais foi o responsável pelo resultado ruim. Na outra ponta da produção industrial atrelada à pecuária, o segmento de produtos veterinários dosados assistiu a um aumento de 16% em sua produção no período.
Por outro lado, ainda com relação aos insumos, o segmento de rações teve queda de 1,8% na produção com impacto direto nos números da agricultura, principalmente na produção de derivados de milho, para ração animal.
A indústria de derivados de aves teve resultado ainda pior que a dependente de bovinos e suínos: queda de 3,6%, explicada principalmente pelos casos de gripe aviária na Europa e Ásia, o que derrubou o consumo dos produtos em todo o mundo.
Com isso, o setor de produtos industriais derivados da pecuária mostrou retração de 0,9% no primeiro semestre. O resultado só não foi pior porque os derivados de leite apresentaram crescimento de 4,7%. A produção de leite é voltada principalmente para o mercado interno. E como houve aumento na renda da população, o consumo também cresceu, avalia o economista da Coordenação de Indústrias do IBGE, Fernando Abritta. Outro setor que puxou para cima o desempenho da indústria agropecuária foi o de couros e peles neste caso por conta do aumento de exportações, já que o setor é bastante dependente do mercado externo.