Redação AI (07/06/06)- Depois de sondar o mercado brasileiro por mais de cinco anos e chegar bem perto de comprar a Seara, a americana Tyson Foods poderá finalmente desembarcar no Brasil. A maior processadora de carnes do mundo negocia a formação de uma joint venture com a paranaense Globoaves – maior produtora independente de pintos de corte do país.
A transação já entrou em fase de “due diligence”. No desenho que vem sendo costurado até agora, poderá ser criada uma nova empresa, da qual a Tyson será acionista majoritária. O Valor apurou que a sociedade prevê a construção de uma unidade para a produção de industrializados de frango, em Cascavel (PR), especialmente para exportação. O investimento oscilaria entre US$ 15 milhões e US$ 30 milhões.
Essa nova unidade será abastecida com matéria-prima do abatedouro, localizado em Cascavel, que pertence à massa falida da Chapecó e que hoje é arrendado pela Globoaves. Até o último dia 30, toda a produção da planta – 150 mil aves por dia – era destinada à Sadia. O fim do contrato entre a Sadia e Globoaves abriu espaço para sociedade, que já vem sendo negociada com a Tyson desde março. A intenção é dobrar a capacidade de produção desse abatedouro, hoje em 180 mil aves por dia.
A transação também envolve a fábrica de ração da Globoaves, localizada em Toledo (PR) e inclui o sistema de produtores integrados, que criam frangos para o abate. De capital familiar e faturamento na casa dos R$ 400 milhões, a Globoaves produz ovos férteis para incubação, pintos de corte e frango. Procuradas pelo jornal, a Tyson e a Globoaves preferiram não se manifestar.
O que chama a atenção do setor é por que uma gigante como a Tyson, com faturamento de US$ 26 bilhões no ano passado, escolheria uma empresa de porte médio como forma de entrar no país. Uma fonte do setor observa que o fato de as duas companhias já terem uma parceria consolidada no segmento de genética de aves facilita a negociação. “As empresas já se conhecem”.
A Globoaves vende, com exclusividade, material genético de aves produzido pela Cobb-Vantress – subsidiária da Tyson Foods – e que tem operação no Brasil. A partir de 2007, a empresa paranaense vai produzir e comercializar as avós com genética da Cobb. Na prática, a avó é a mãe da matriz que dá origem ao pinto de corte, que vai virar frango e, depois, ser abatido.
Uma outra fonte do setor avalia que, para a Tyson, a joint venture é importante porque abre caminho para a venda de seus produtos em outros mercados, especialmente a Europa. A multinacional americana, que tem maior parte de sua produção nos Estados Unidos, não pode exportar frango ao mercado europeu porque o país não tem acordo sanitário com o bloco.
Apesar de seu gigantismo, a Tyson é uma companhia muito voltada para o mercado americano, mas que vem tentando se internacionalizar. “Começar com um negócio pequeno pode ser uma estratégia de experimentar o mercado brasileiro”, observa um executivo do setor. “Seria uma fase de aprendizado”.
Desde 2001, a Tyson ensaia entrar no Brasil, de olho na competitividade da produção nacional. O país tem um dos menores custos de produção do mundo pela disponibilidade de grãos para ração animal. Os seus técnicos e executivos visitaram vários frigoríficos no país – desde a Perdigão, passando pela Avipal e Da Granja.
Com a Seara, que na época pertencia à Bunge – houve um processo de negociação mais estruturado. Fonte que acompanhou a negociação entre Seara a Tyson, em 2002, lembra que uma equipe da empresa americana chegou a ficar dois meses fazendo avaliações nas unidades do frigorífico brasileiro. O negócio não foi adiante.
Em 2003, Seara e Tyson voltaram a conversar. Na ocasião, tentaram um acordo comercial pelo qual a Seara forneceria carne de frango processado à multinacional. A Tyson, por sua vez, venderia o produto para os restaurantes da rede Burger King na Europa. Novamente, a transação não se concretizou. Para um executivo do setor, a Tyson pode estar tentando, outra vez, produzir no Brasil para suprir clientes europeus, como redes de fast food. A Seara acabou sendo vendida para a também americana Cargill, por US$ 130 milhões em setembro de 2004.
Para a Globoaves, a joint venture com a Tyson ajudaria na diversificação dos negócios. Roberto Kaefer, presidente da empresa, já manifestou diversas vezes, em entrevistas, a necessidade do grupo de partir para a industrialização. Com produtos processados, a empresa consegue “driblar” os eventuais efeitos de uma queda nas exportações de frango in natura, em decorrência do temor da gripe aviária. Hoje, o setor enfrenta uma queda na demanda internacional, justamente por causa da enfermidade, resultando em uma sobreoferta no mercado doméstico.